Ética Cristã
e Direitos Humanos
TEXTO ÁUREO = "O
estrangeiro não afligirás, nem o oprimirás; pois estrangeiros fostes na terra
do Egito." (Êx 22.21)
VERDADE
PRÁTICA = Os
direitos do ser humano revelados na Palavra de Deus têm como fundamento o amor.
LEITURA
DIÁRIA
Segunda
– Gl 3.28: As Escrituras condenam o preconceito e a discriminação
Terça
– Tg 5.4-6: A Bíblia Sagrada condena a exploração contra os trabalhadores
Quarta
– Mt 25.35-40: Sendo solidários com os necessitados
Quinta
– Rm 2.11: Como servos de Cristo não podemos fazer acepção de pessoas
Sexta
– 2Ts 3.13: O cristão deve perseverar na prática do que é bom e direito
Sábado
– 1Co 10.24: Preocupando-se com os direitos do próximo
LEITURA
BÍBLICA EM CLASSE – Isaias 58.6-12
HINOS
SUGERIDOS: 145, 245, 572 DA HARPA CRISTÃ
INTERAGINDO
COM O PROFESSOR
A
sensação de impunidade traz a ideia de que os direitos humanos foram
estabelecidos para defender os bandidos. Esta não é uma ideia carreta a
respeito dos direitos humanos, mas a expressão que denuncia militantes que os
usa, não segundo os valores interiores inerentes ao ser humano, mas a uma
agenda fraudulenta político-ideológica. Entretanto, é importante ressaltar que
a instituição dos direitos humanos é uma expressão do Estado Democrático de
Direito. Vivemos num império das leis. Por exemplo, o dogma jurídico de que
todo cidadão tem a presunção da inocência é enfatizado, sobretudo, pela Palavra
de Deus (1Tm 5.19,20). Só saberá o que significa realmente os direitos humanos
quem um dia sofrera injustiça.
INTRODUÇÃO
Temos
que reconhecer a dificuldade em definir exatamente o que são os direitos
humanos. Alguns poderiam assumir que a noção de “direitos humanos” se explica
por si mesma e é universalmente compreendida. No entanto, a compreensão dos
direitos humanos tem mudado profundamente através dos anos e difere amplamente
de uma sociedade a outra e ainda de um grupo social a outro.
Talvez,
e de uma maneira muito simples, poderíamos pensar deles como a forma correta de
tratar aos seres humanos. E falo isso porque, sem dúvida, a luta pelos direitos
humanos aparece como uma resposta às maldades humanas – terrorismo, perseguição
por parte dos estados-, que leva aos perseguidos a fugir e procurar ajuda e
apoio, assim, como ações opressivas, excludentes e marginalizantes por parte
daqueles no poder, sejam eles poderes civis ou religiosos.
Desta
maneira, os direitos humanos estão focados no balanço das relações políticas
entre as pessoas e os governos e estados, especialmente tentando proteger a
dignidade a liberdade e a igualdade das pessoas face ao relativamente enorme
poder do Estado, e partindo do princípio de que todos os seres humanos nascem com
direitos iguais por possuírem a mesma natureza humana.
Outro
assunto que devemos abordar nesta apresentação, e que de fato constitui o eixo
principal, seria a relação e o engajamento, até heroico, de lideranças, leigos
e clérigos, e instituições cristãs, na defensa e luta pelos direitos humanos. E
parece paradoxal em nossos dias esse engajamento se temos em conta que a
preocupação e o movimento pelos direitos humanos, como hoje o entendemos, não
nasce de iniciativa cristã. Certamente nasce com a modernidade e se desenvolve
fora e à margem da Igreja, e muitas vezes em oposição a ela.
Então
a pergunta central que norteará nossa apresentação poderia ser: Como se
explica, então, hoje, esta adesão dos cristãos aos direitos humanos, onde encontram
a força e a motivação? Porém, antes de entrar a refletir a partir dessa
pergunta central, considero importante realizar uma breve caminhada ao passado
para mergulhar nas origens dos direitos humanos.
A ORIGEM DOS
DIREITOS HUMANOS
Definição de
Direito. Os
Direitos Humanos são direitos fundamentais do ser humano. Sem eles, o ser
humano não consegue participar plenamente da vida em sociedade.
Os
Direitos Humanos são um conjunto de leis, vantagens e prerrogativas de devem
ser reconhecidos como essência pura pelo ser humano para que este possa ter uma
vida digna, ou seja, não ser inferior ou superior aos outros seres humanos
porque é de diferente raça, de diferente sexo ou etnia, de diferente religião,
etc. Os Direitos Humanos são importantes para que viver em sociedade não se
torne um caos. São importantes para a manutenção da paz.
Os
Direitos Humanos são um conjunto de regras pelas quais o Estado e todos os
cidadãos a ele pertencentes devem respeitar e obedecer.
Pode
parecer que não está sendo cumprido, mas a principal função dos Direitos
humanos é a de proteger os indivíduos das injustiças, arbitrariedades, do
autoritarismo e dos abusos de poder. Os Direitos Humanos são sinônimo de
liberdade, pelo menos deveria ser.
A
dignidade humana, a igualdade, a fraternidade e a liberdade, pelo menos a do
pensamento, a da democracia, são valores e princípios básicos da sociedade
judaico-cristã moderna. Uma sociedade mutante, que se transforma e transforma o
mundo.
Sobre os
direitos humanos. Os direitos humanos são bem amplos e se dividem em direitos civis
e políticos como: direitos à vida, à propriedade, liberdade de pensamento, de
expressão, de crença, igualdade formal e etc. Outra vertente são os direitos
econômicos, sociais e culturais como: direitos ao trabalho, à educação, à
saúde, à previdência social, à moradia, à distribuição de renda, entre outros.
Além dessas divisões, contamos também com direitos difusos e coletivos como:
direito à paz, direito ao progresso, autodeterminação dos povos, direito
ambiental, direitos do consumidor, inclusão digital, entre outros, baseados no
valor da fraternidade.
Origem dos
direitos humanos. Os direitos humanos são advindos do resultado de uma longa
história, que foi debatida ao decorrer dos séculos por juristas e filósofos.
Porém, toda história teve um início, esta não seria diferente, o começo de tudo
veio da área religiosa, quando o Cristianismo, durante a Idade Média, foi
àconfirmação da defesa da igualdade de todos os homens numa mesma dignidade.
Durante esta época, os matemáticos cristãos desenvolveram a teoria do direito
natural, baseada na ideia de que o indivíduo está no centro de uma ordem social
e jurídica justa, mas a lei divina era dominante. Logo foram criadas muitas
teorias no decorrer do tempo.
Declaração
dos Direitos do Homem e do Cidadão
Após
um longo período de direitos indefinidos, a Declaração dos Direitos do Homem e
do Cidadão foi realmente anunciada em 26 de agosto de 1789, na França. Sendo
que ela está ligada intimamente com a Revolução Francesa.
Neste
período, havia uma urgência em divulgar para a população a declaração para
legitimar o governo que começava com o desligamento do rei Luís XVI e que, por
sua vez, seria decapitado quatro anos após essa ruptura, em 21 de Janeiro de
1793.
Sabe
qual é a importância desse documento atualmente? Ele foi a primeira declaração
dos direitos e fonte de inspiração para outras que vieram depois dela, como a
Declaração Universal dos Direitos Humanos, aprovada pela ONU (Organização das
Nações Unidas), em 1948.
A Declaração
Universal dos Direitos Humanos (1948)
A
Declaração Universal dos Direitos do Homem tem inspirado um número de outras
leis e tratados de direitos humanos em todo o mundo.
A
Declaração Universal dos Direitos do Homem tem inspirado um número de outras
leis e tratados de direitos humanos em todo o mundo.
Em 1948, a nova Comissão de Direitos Humanos
das Nações Unidas tinha captado a atenção mundial. xxxSob a presidência
dinâmica de Eleanor Roosevelt, a viúva do presidente Franklin Roosevelt, uma
defensora dos direitos humanos por direito próprio e delegada dos Estados
Unidos nas Nações Unidas, a Comissão elaborou o rascunho do documento que viria
a converter–se na Declaração Universal dos Direitos Humanos. Roosevelt,
creditada com a sua inspiração, referiu–se à Declaração como a Carta Magna
internacional para toda a Humanidade. Foi adotada pelas Nações Unidas no dia 10
de dezembro de 1948.
A história
dos Direitos Humanos no Brasil
Uma
das formas de entender a evolução dos direitos humanos no Brasil é através das
diversas constituições brasileiras. Princípios de garantia dos direitos
políticos e civis apareciam já na Constituição de 1824, ainda que o poder
estivesse concentrado nas mãos do imperador. O objetivo era garantir
principalmente a liberdade, a segurança individual e a propriedade.
Ainda
assim, no período imperial continuava a existir a escravidão, em que os
escravizados eram tratados como produto e propriedade do senhor. As violências
sofridas por estas pessoas, com a perda de liberdade, desrespeito à sua
integridade física e a perda da própria vida foram nitidamente um desrespeito
aos direitos humanos.
Na
Constituição de 1891, já no período republicano, foi garantido o sufrágio
direto para eleição de deputados, senadores, presidente e vice-presidente. Mas
o sufrágio não era universal, já que impedia o voto de mulheres, mendigos e
analfabetos. Esta constituição defendia os princípios de liberdade, igualdade e
justiça.
Entre
algumas medidas da Constituição de 1891 estão o direito à plena liberdade
religiosa, à defesa ampla aos acusados, direito à livre associação e reunião,
sem contar a criação do habeas corpus, como forma de remediar casos de
violência ou coação por ilegalidade ou abuso de poder. Com a revolução
constitucionalista de 1932 e a posterior Constituição de 1934 foram
estabelecidos algumas concepções de segurança ao indivíduo, como proteção ao
direito adquirido, proibição da prisão por dívidas, criação da assistência
judiciária aos necessitados (que até hoje acontece em muitos estados
brasileiros) e a obrigatoriedade de comunicação imediata ao juiz competente
sobre qualquer prisão ou detenção.
A
Constituição de 1934 também instituiu diversas garantias ao trabalhador, como:
A
proibição de diferença salarial para um mesmo trabalho e da diferença salarial
em razão de idade, gênero, nacionalidade ou estado civil;
Proibição
do trabalho para menores de 14 anos e do trabalho noturno para menores de 16,
além de proibir o trabalho insalubre para menores de 18 anos e para mulheres;
Determinou
a estipulação de um salário mínimo ao trabalhador, o descanso semanal
remunerado e a limitação diária de jornada a 8 horas.
A
constituição estabeleceu diversos ganhos em direitos sociais, mas vigorou por
apenas três anos. Chegou a seu fim com o início do Estado Novo, em 1937,
período marcado pela quase inexistência dos direitos humanos.
A BIBLIA E
OS DIREITOS HUMANOS
As
Igrejas Cristãs são desafiadas, em cada geração, a reafirmar a consequência de
sua fé e identidade. Nisso, se defrontam com a questão do poder e do abuso do
poder diante de sua vocação específica de anunciar a Boa Nova do Evangelho, a
Vida em Plenitude para toda a humanidade a partir de Jesus Cristo, que veio
“para que todos tenham vida e a tenham em abundância” (cf. Evangelho de São
João 10,10). Nesse sentido, cada cristão é chamado a ser testemunha e agir no
mundo promovendo a Vida em Plenitude.
O TEMA NA
BÍBLIA
O
tema dos Direitos Humanos, às vezes sem adotar essa nomenclatura, sempre esteve
presente nas Igrejas Cristãs. E parte da missão apostólica a afirmação e a
defesa da dignidade da pessoa humana, criada por Deus à Sua imagem, conforme a
Sua Semelhança. A presença do tema na reflexão e na ação cristã decorre
exatamente pela sua presença na Bíblia. Vejamos alguns exemplos:
No Livro de
Gênese
As
duas narrativas míticas sobre a Criação que encontramos na Bíblia provêm de
tradições orais diferentes, mas ambas afirmam a dignidade da pessoa humana que,
colocada no centro do ato criador de Deus, se torna parceiro de Deus no cuidado
de toda a Criação. Isto é, Deus entrega ao Ser Humano o poder sobre toda a
Criação, para que o ser humano cuide dela.
Ao
contrário do que ensinam os moralistas histéricos, e geralmente hipócritas, a
famosa narrativa do fruto proibido nada tem a ver com a sexualidade. Pelo
contrário, têm a ver com o conceito de poder absoluto.
Em
Gênesis 3 surge o problema do poder. Segundo o texto, Deus havia dado um limite
ao poder delegado ao Ser Humano: não poderia comer frutos de uma árvore
colocada no centro do Jardim. A Serpente traz a tentação de comer o fruto
daquela árvore, com um argumento crucial: “É certo que não morrereis. Porque
Deus sabe que no dia em que dele comerdes se vos abrirão os olhos e, como Deus,
sereis conhecedores do bem e do mal”. Ou seja, o comer daquele fruto permitiria
tornar-se igual a Deus, com o mesmo saber/poder de Deus.
Um
segundo exemplo no Livro de Gênesis, sobre a tentação do poder absoluto, é a
narrativa da Torre de Babel (Gênesis 11,1-9): a busca do poder absoluto leva a
humanidade ao desentendimento, à quebra da comunhão e ao dispersar-se sem
unidade e sem senso de comunidade. A confusão de línguas mostra a
impossibilidade do seres humanos viverem sob o poder absoluto de um semelhante.
Sempre haverá discórdia e luta pelo poder, porque cada um fala uma língua,
cada um diz e pensa de forma diferente e terá de impor sua vontade sobre os
demais.
A LEI
No
Pentateuco, ou os chamados Cinco Livros da Lei de Moisés, se percebe claramente
o caráter social da ética dos hebreus. Vamos encontrar nestes cinco livros,
exemplos claros de que o critério hebreu para o convívio humano se pauta pelo
reconhecimento de direitos que eram reportados como Lei de Deus.
O
Código Legal que se deduz da leitura desses cinco livros é realmente
desafiador para o mundo contemporâneo, em que a massificação e os aparatos de
controle político e econômico violentam as pessoas, especialmente aqueles que
não se enquadram no modelo: os excluídos.
O
Código Mosaico (de Moisés) parte do pressuposto de que a Vontade de Deus é
soberana e norteia toda a ação e o convívio humano. E sua maior preocupação é
sempre com os que correm o risco maior de exclusão: o pobre, o órfão, a viúva,
o leproso, o estrangeiro, o endividado... Regula o uso e a distribuição da
terra e dos alimentos, prevê o sustento dos pobres, define os poderes das
autoridades, estabelece padrões reguladores para a vida econômica... e
estabelece também as penas para aqueles que não cumprem a lei ou que abusam do
poder.
Seria
por demais extenso e cansativo relacionar todas as referências de conteúdo
ético social, político e econômico do Pentateuco. Espero que o leitor mais cuidadoso
e interessado possa dispor de tempo para fazer, ele mesmo, sua pesquisa e
aprofundar as idéias que aqui lanço apenas de passagem.
A TRADIÇÃO PROFÉTICA
Mas
é, sem dúvida, na Tradição Profética do Antigo Testamento que vamos encontrar
referências para as ações em defesa da dignidade humana, sua liberdade e seu
direito à vida em plenitude e abundância.
A
moderna exegese bíblica informa que a Tradição Profética surge na contramão do
poder estabelecido em Israel e Judá. Os profetas, fossem quem fossem (homens do
povo - como Amós, que era pastor de ovelhas, ou homens da própria corte - como Isaías),
representavam a oposição consciente ao discurso e, especialmente, aos atos do
poder despótico daqueles que reinavam sobre o povo em Israel (Samaria) e em
Judá (Jerusalém).
Os
profetas falam conscientes de que são chamados e enviados por Deus para
denunciar toda opressão e anunciar o Reinado de Deus, e exercem essa vocação a
partir da Autoridade Divina. Denunciam a falácia do poder dos Reis, que deveria
estar a serviço do povo, mas serve apenas aos interesses da corte que tem, no
Templo, seu maior aliado. Ao mesmo tempo, lembram que toda autoridade vem do
Senhor dos Exército e é, portanto, delegada em benefício do povo.
Os
Profetas reafirmam a Lei Mosaica, não a contradizem. Respondem assim às
ideologias de seu tempo que buscavam justificar - com a própria Lei - as
atitudes e a opressão dos poderosos sobre os mais fracos. Um exemplo muito interessante e rico é o
episódio da Vinha de Nabote (1 Reis 21).
NO NOVO
TESTAMENTO
Há
duas passagens do Nova Testamento que são as prediletas daqueles que advogam
pela causa dos poderosos e justificam os atos autoritários. Sempre que
formulamos críticas ao poder estabelecido, eles vem com estes textos bíblicos,
que já se tornaram chavões. Gostam de citar o versículo, a frase, sem
relacioná-la com o contexto histórico da comunidade cristã onde (ou para quem)
o texto foi elaborado.
1. “Daí a
César o que é de César...”Uma primeira passagem é a célebre frase de Jesus: “Daí a César o
que é de César...”. A frase está na perícope do Evangelho de São Mateus
22,15-22 (e paralelos nos Evangelhos de São Marcos e São Lucas).
Podemos
resumir o texto assim: os fariseus e doutores da Lei buscavam pegar Jesus
através de suas próprias palavras para acusarem-no de subverter a ordem
pública, especialmente diante do Império Romano. Assim ficariam livres dele e
ao mesmo tempo não seriam os que iriam julgá-lo. Ou seja, buscavam um artificio
que politicamente os deixasse bem com o Poder e com o Povo. Bem típico de
grupos de interesse em todos os tempos e de certas bancadas “modernas” e
defensoras do pragmatismo no Congresso Nacional.
Então,
perguntaram a Jesus acerca do tributo que se devia pagar ao Imperador Romano.
Jesus estava diante de uma arapuca: se dissesse ser justo, contrariaria o
espírito nacionalista da Lei Mosaica e reconheceria o domínio do Império, que
ao ver do povo, usurpava do direito que era de Deus; se, por outro lado,
afirmasse que o tributo era injusto, seria alvo fácil da repressão do
Império.
A
resposta de Jesus é uma grande tirada: pergunta de quem é a imagem que está na
moeda com a qual se pagaria o imposto. Todos respondem que é do próprio
Imperador. Então Jesus se safa com a seguinte afirmação teológica: “Dai pois a
Césaro que é de César, e a Deus o que é de Deus”!
Ora,
foi preciso coragem para a comunidade cristã do primeiro século fazer tal
afirmação. César, o Imperador Romano, era senhor do Mundo (Kýrios, no grego).
Os cristãos afirmavam, já no primeiro século, que Jesus é o Kýrios(Jesus é o
Senhor). Tal afirmação era (como ainda é) revolucionária e contestadora de todo
poder estabelecido como absoluto. Ao colocar essa afirmação na boca de Jesus, a
comunidade cristã onde o texto foi gerado estava afirmando de forma clara e
inequívoca que sua adesão a Jesus Cristo implicava em não reconhecer César (e
portanto, o., Império) como absoluto.
Acima
de César e de todos os imperialismos está o poder de Deus e a dignidade do
Homem, que sendo feito à imagem de Deus, só a Deus pertence. O ser humano não é
objeto que pertença a nenhum outro, a nenhum sistema ideológico, político,
econômico ou religioso. O ser humano é livre pela sua própria natureza e
essência, livre em Deus!
Por
essa afirmação de fé e consequente atitude política é que os cristãos foram
assassinados pela repressão do Império Romano (e sempre pelos órgãos de
repressão a serviço de todo tipo de poder absoluto: despotismo, ditadura, etc,
até mesmo em nossa América Latina e país há pouco tempo atrás).
Assim,
o texto ao invés de justificar a autoridade de César (e dos Césares de todos os
tempos por extensão), pelo contrário, mostra exatamente a limitação dessa
autoridade: está abaixo do Reinado de Deus.
2. “Todo
homem esteja sujeito às autoridades superiores...”
Aqui
se cita o Apóstolo São Paulo, em sua carta aos Romanos, 13,1-7. Citado assim,
parece mesmo que o Apóstolo está nos sugerindo que toda autoridade é boa e deve
ser obedecida. Cansei de ouvir esse texto como advertência nos tempos de minha
militância no movimento estudantil na década de 70 e no movimento sindical nos
anos 80. Porém, São Paulo fala no
contexto da vida cristã, tendo como referencial a fé e as virtudes decorrentes
de uma nova vida em Cristo. Pois antes, no capítulo 12, fala exatamente dessa
nova vida.
Por
isso, a obediência a que Paulo se refere está subordinada à obediência ao
Evangelho. Paulo dá, nessa e em outras epístolas, lições de bom senso para as
comunidades que pastoreava ou com quem se comunicava. O que Paulo está dizendo
é que não se deve hostilizar a autoridade inadvertidamente, nem que se deve
desprezar as ordenações sociais que regulam as relações humanas. Poderíamos
hoje dizer que Paulo defenderia o que chamamos de Estado de Direito, no
contexto de sua existência no mundo helenista do Império Romano no Oriente e de
sua formação como fariseu. Mas jamais o Apóstolo estaria defendendo a
obediência cega e não crítica à autoridade, O mesmo Paulo afirmava que Jesus é
o Senhor, em clara desobediência ao Imperador e aos estatutos do Império Romano.
O
próprio Paulo se valeu, contudo, de sua condição de cidadão romano (de sua
cidadania!) para reivindicar o direito de receber julgamento justo (cf. Atos
22- 27). Ou seja, modernamente falando, podemos dizer que o Apóstolo Paulo
defende - na limitação de seu contexto histórico e sócio-político - os valores
de cidadania e de direitos da pessoa humana.
A IGREJA E
OS DIREITOS HUMANOS
A IGREJA E O
TRABALHO ESCRAVO. Mais de um século já se passou – precisamente 130 anos – desde que
a escravidão foi abolida no Brasil com a Lei Áurea. Passado todo esse tempo,
porém, não se pode dizer que a prática foi extinguida, uma vez que cerca de 40
milhões de pessoas vivem em condições de trabalho escravo em todo mundo,
segundo dados da Organização Internacional do Trabalho.
Combater
o trabalho escravo é dever de todos. E, infelizmente, ainda no Brasil de hoje
enfrentamos com muita frequência, e principalmente nas áreas rurais, diversas
situações de falta de justiça nas relações entre patrão e empregado.
É
preciso que evangélicos incluam, tanto em suas orações quanto em suas ações, a
busca da transformação do mundo também no que diz respeito à defesa do direito
de todos a um trabalho decente.
O que a
Bíblia diz
Porque
se olharmos para a Palavra de Deus, veremos que tal tarefa não passa longe da
missão da igreja, como alguns líderes podem sugerir em suas pregações.
Combater
o trabalho escravo e defender condições dignas, justas e decentes para alguém
ganhar o seu pão através do suor do rosto, é parte da missão da Igreja.
Lendo
alguns versículos da Bíblia sobre o assunto, aprendemos que a Palavra de Deus
condena os que, desonesta e fraudulentamente, deixam de pagar os salários dos
que trabalharam para eles.
Tal
ato vil chega aos ouvidos do Senhor como uma denúncia gravíssima, um clamor por
justiça.
Isso
está na Bíblia, no Novo Testamento, em Tiago 5.4, que diz: "Eis que o
salário dos trabalhadores que ceifaram os vossos campos e que vós,
desonestamente, deixastes de pagar está clamando por justiça; e tais clamores
chegaram aos ouvidos do Senhor dos Exércitos."
E
também em, pelo menos, outros quatro trechos bíblicos, que afirmam que é pecado
reter o salário dos trabalhadores e praticar injustiça contra eles.
Em
Levítico 19:13, onde Deus está formando a base das relações sociais de seu
povo, o mandamento é o seguinte:
"Não
oprimirás o teu próximo, nem o roubarás: o salário diário do trabalhador não
ficará contigo até a manhã seguinte."
Em
outras palavras, Deuteronômio 24:14,15 reafirma este mandamento de Deus:
"Não
oprimas um assalariado pobre, necessitado, seja ele um dos teus irmãos ou um
estrangeiro que mora em tua terra, em tua cidade... Tu lhe pagarás o salário a
cada dia, antes que o sol se ponha, porque ele é pobre e disso depende sua
vida. Desse modo, ele não clamará a Yahweh contra ti, e em ti não haverá
pecado."
Em
Jó 24:10,11, a repreensão fica bem entendida quando ele descreve a situação dos
trabalhadores da seguinte forma:
"Por
falta de roupas, andam nus; transportam pesados feixes, mas continuam esfomeados..."
E
ampliando a condenação da prática da injustiça contra pessoas que trabalham
para alguém, a mesma Bíblia que fala do IDE e de tantas outras importantes
partes da missão cristã, e que todos nós, evangélicos, lemos em casa durante a
semana e nos cultos de domingo no templo, declara:
"Ai
daquele que constrói o seu palácio usando de corrupção e meios ilícitos; que
força seu próximo a trabalhar sem qualquer retribuição, tampouco lhe paga o
salário" - Livro do Profeta Jeremias 22:13.
A IGREJA E
OS PRISIONEIROS
O
sistema prisional brasileiro é igual a curva de rio: represa tudo o que há de
ruim na sociedade. Mas, como explicar os massacres ocorridos recentemente nos
presídios Brasil afora, com tantos presos mortos, decapitados e queimados? Uma
verdadeira carnificina, veja os números: Carandiru, 111 mortos; Urso Branco 27,
mortos; Pedrinhas, 18 mortos; CEPAIGO-GO, 09 mortos; entre outros. Para
entender o perfil desses presidiários, vamos analisar alguns dados
interessantes:
Conforme
pesquisa realizada no sistema prisional goiano em 2013, cerca de 60% dos
entrevistados presos declararam ter origem em berço evangélico. Há 40 anos
atrás, esse número não passava de 1%.
A
pergunta é: porque estamos crescendo em ambientes onde não deveríamos sequer
estar presentes? Considerando que 70% dos presos brasileiros têm menos de 29
anos, forçoso será reconhecer que a igreja dos anos 90 e 2000 falhou na sua
missão de cuidar de suas crianças, adolescentes e jovens.
A
solução nesse caso, passa pelo resgate de programas bíblicos históricos que
mantiveram a igreja nos trilhos das boas novas, do testemunho ético e da fé
reformada décadas a fio. Entre esses programas podemos nominar a escola bíblica
dominical, o culto doméstico, o discipulado bíblico, o evangelismo pessoal e a
visitação aos hospitais e presídios.
Nossos
púlpitos precisam voltar a falar com a simplicidade do Evangelho, por meio de
mensagens claras sobre a santificação; o amor a Deus sobre todas as coisas e ao
próximo como a si mesmo; o ódio ao pecado e o amor ao pecador; o compromisso
com a verdade e o repúdio à mentira.
O
novo Evangelho pregado nos últimos anos trouxe uma grande dívida para a igreja
evangélica brasileira: conversão sem arrependimento; batismo sem mudança;
salvação sem cruz e fé sem obras.
Se
a igreja evangélica brasileira iniciar um programa de resgate de crentes
desviados, certamente 60% ou mais das vagas nos presídios serão desocupadas,
cumprindo o imperativo de Jesus Cristo no Evangelho de João 8:32 – “E
conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.”
Portanto,
está na igreja e na Palavra de Deus a solução para o sistema prisional atual,
que está um caos devido a omissão de muitos. Temos que entender, como corpo de
Cristo, que temos sim uma dívida para com os que estão encarcerados. A nossa
missão é de cumprir verdadeiramente o Evangelho em todos os lugares, não para
cumprir uma meta de quantidade, mas para termos conversões autênticas, capazes
de mudar toda a nossa sociedade.
A IGREJA E O
PROBLEMA SOCIAL
Como
agência do Reino de Deus na terra, a Igreja do Senhor (e isso significa cada
cristão, inclusive eu e você) possui uma responsabilidade social. O cristão
vive tanto na igreja quanto no seu mundo e tem responsabilidades para com
ambos.
A tendência geral da igreja tem sido a de
“eclesiastizar” seus membros, tornando-os meros cumpridores de programas ou
freqüentadores de reuniões. Em geral, nossa evangelização visa “tirar o homem
do mundo”, mas nos esquecemos que devemos devolvê-lo ao mundo, transformado,
com novas convicções e novos padrões. Este é o pensamento que transparece em
toda a carta de Paulo aos Efésios, onde o apóstolo mostra aos seus leitores que
a nova vida que eles receberam em Cristo (capítulos 1, 2 e 3) os obriga a uma
nova conduta perante a sociedade (capítulos 4, 5 e 6). Isto significa que a
Igreja deve repensar sua atuação na sociedade, como instrumento de
transformação da realidade social que a cerca.
O trato
deste assunto, tem levado os crentes a se dividirem em três grupos:
1.
Os que pregam um evangelho espiritualizante, sem se preocupar nem se envolver
com questões sociais, acreditando que o ato simplista de “aceitar Jesus”
resolverá todos os problemas do indivíduo;
2.
Os que pregam um evangelho social, que se preocupa com os problemas materiais e
omite a necessidade de uma conversão verdadeira, que transforme a natureza do
homem;
3.
Os que entendem que o evangelho modifica o homem em sua natureza, através da
verdadeira conversão, para que este possa influenciar positivamente o seu
mundo. É precisamente neste terceiro grupo que queremos nos posicionar.
Desejamos ser igreja que fale à alma sem se esquecer do corpo, e que cuide dos
problemas sociais que afligem o homem sem perder de vista a grave realidade
espiritual que o escraviza.
• “A PREOCUPAÇÃO
SOCIAL
é uma atitude. É a percepção por parte do Cristão de que a salvação é dirigida
ao homem inteiro. Trata-se do reconhecimento da aplicação do evangelho aos
ferimentos e fomes do homem, assim como à sua culpa”
• “O SERVIÇO
SOCIAL
refere-se a todos os serviços que as igrejas ou os cristãos prestam a fim de
assistir as vítimas de problemas sociais...”
• “A AÇÃO
SOCIAL
é mais ampla. Seu alvo é corrigir as estruturas e processos sociais e políticos
de uma sociedade que provocam os problemas...”
A
grande maioria das igrejas, e crentes individualmente, demonstra “preocupação
social” através da oração pelos problemas sociais que afligem o mundo. Esta
preocupação é legítima e incentivada na Bíblia (I Timóteo 2:1-3). Bem menor,
porém, é o número de igrejas e crentes que desenvolvem algum tipo de “serviço
social”. Este serviço também é incentivado e acha apoio na Palavra,
principalmente no exemplo dos primeiros cristãos (Atos 9:36; I Coríntios
16:1-3). O maior problema hoje, entretanto, está na “ação social”.
É
muito raro ver igrejas ou crentes verdadeiramente envolvidos numa ação social.
Em geral a igreja se omite e mesmo desencoraja seus membros acerca de
envolvimentos em causas políticas que visem modificar ou mesmo derrubar
estruturas injustas. No entanto, esta atitude também está presente na Palavra.
Muitos servos do Senhor no passado estiveram envolvidos em ação social,
confrontando governantes ou mesmo se rebelando contra governos injustos
(Exemplos: Joiada, o sacerdote, que fez aliança com os capitães, para
derrubarem a usurpadora Atalia, a fim de estabelecerem Joás como rei de Judá –
II Crônicas 23; Daniel, em Babilônia; Neemias, em Judá; José, no Egito; entre
outros).
Como
igreja do Senhor, somos chamados não apenas a desenvolver uma preocupação social
e para prestar serviços sociais, mas também para uma ação social efetiva. Este,
porém não é um caminho fácil.
Fatores que
impedem a Responsabilidade Social da Igreja
Muitos
são os fatores que impedem um maior envolvimento da igreja com as questões sociais,
e vão desde a falta de compromisso dos crentes até a falta de conversão
verdadeira. Porém, dois fatores merecem destaque: o fanatismo religioso.
O
homem religioso á aquele que aprendeu a valorizar os significados espirituais
que possui dentro de si. Porém, quando esses significados passam a tomar
sentido tão elevado, ao ponto de fazê-lo se esquecer ou ignorar as outras áreas
de sua vida, surge então o Fanatismo. A isso também chamamos de ALIENAÇÃO
SOCIAL. Vejamos o caminho que a mente religiosa percorre até se tornar
alienada:
1.
Ocupação demasiada com atividades que não possuem relação com a vida humana
(quando a igreja perde seu tempo e investe esforços emcoisas vazias e
improdutivas).
2.
O uso da religião como instrumento “mágico” de proteção contra os problemas da
vida comum (“Se você for um cristão comprometido e assíduo, nenhum mal vai lhe
atingir!”).
3.
A hipervalorização das experiências religiosas acima dos demais valores da vida
humana (Os pais que obrigam os filhos a freqüentar a igreja, mas nunca dialogam
com eles)
A
alienação social é ainda motivada por dois fatores: 1º) medo de castigos
espirituais caso não sigam todas a orientações da igreja (ou particularmente do
seu líder espiritual); e 2º) Fascinação descontrolada pelas coisas espirituais,
que impede a pessoa de enxergar outras áreas da vida. Uma igreja alienada nunca
desenvolverá uma mentalidade social, pois sua religião se resume a experiências
espirituais vazias (Tiago 1:26,27; 2:14-17)
CONCLUSÃO
O
cristão que acompanha o desenrolar dos problemas que afetam a humanidade
atualmente, sente-se aflito e pensa em qual deva ser a sua atitude para com o
seu país, para com a sociedade e com relação aos problemas internacionais. Eu
deveria ter uma atitude passiva e fechar os ouvidos para tudo ou deveria
participar ativamente na solução de todos os problemas?
Temos
de admitir que essa não é uma questão fácil de responder. Isso é algo muito
complexo. Entretanto, essa questão tem um relacionamento íntimo com a nossa fé.
Vamos então analisar o problema do ponto de vista da fé.
Como
cristãos, temos determinadas posições e atitudes referentes a essas questões.
Entretanto, não estamos tentando resolver todos os problemas. Somente quando
Cristo vier pela segunda vez é que estas questões serão totalmente resolvidas.
Por: Evangelista Isaias
Silva de Jesus (auxiliar)
Igreja Evangélica
Assembleia de Deus Ministério Belém Em Dourados – MS
Bibliografia
Nenhum comentário:
Postar um comentário