A CARTA AOS
HEBREUS E A EXCELÊNCIA DE CRISTO
Pr. JOSÉ COSTA JUNIOR
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
A Epístola aos Hebreus não é igual a nenhum
outro livro do Novo Testamento. Ela começa como um tratado, continua como um
sermão e conclui como uma carta. Conclui como uma carta, mas não começa como
tal, pois não tem a saudação costumeira e não dá nem o nome do escritor nem o
nome da comunidade à qual foi enviada. Contudo, por toda parte, o livro está
claramente escrito para um grupo particular de leitores. Está escrito no melhor
grego literário encontrado no Novo Testamento. O vocabulário é copioso e o
estilo mostra traços de esforço e cuidado. A linguagem, ordem, ritmo, sintaxe,
todos contribuem para o efeito total. O autor jamais é impetuoso; ele não é
levado a se desviar por seus pensamentos. A beleza da carta pode mais
facilmente ser apreciada que os detalhes do argumento, que demandam uma
familiaridade não somente com o Velho Testamento, mas também certos tipos de
interpretação do Velho Testamento vigentes no primeiro século.
Contudo, o leitor moderno sente que o autor de
Hebreus o está dirigindo aos problemas com que o cristão se confronta hoje. Os
primeiros leitores foram confrontados com fatos angustiantes. Particularmente na qualidade de quem anteriormente haviam
sido zelosos aderentes do judaísmo. Parece muito provável que os primeiros
leitores da epístola tinham ficado pessoalmente desapontados com o Cristianismo
porque, por um lado, ele não lhes tinha proporcionado qualquer reino visível
terreno e, por outro lado, o Cristianismo havia sido decisivamente rejeitado
pela grande maioria dos seus irmãos de raça, os judeus. Além disso o contínuo
apego ao Evangelho parecia apenas envolvê-los na participação das repreensões
injuriosas de um Messias sofredor e crucificado, e no ter de enfrentar a
possibilidade de violenta perseguição anticristã. É bem possível, portanto que
se sentissem seriamente tentados a renegar a Jesus como o Messias e tornar a
abraçar os bens visíveis e preferíveis, que o judaísmo parecia continuar a
oferecer-lhes.
Que era o judaísmo que assim os
atraía, em detrimento do Cristianismo, parece confirmado pelo modo óbvio com
que o escritor resolve, desde o início da epístola, demonstrar a superioridade
do novo pacto sobre o antigo, exibindo particularmente a proeminente excelência
de Jesus, o Filho de Deus, em comparação com os profetas e os anjos, os líderes
e os sumos sacerdotes que operavam na antiga dispensação. Portanto, o escritor
mostra que se a antiga ordem era imperfeita e provisória, o Cristianismo trouxe
perfeição (7.19), e
perfeição que é eterna (5.9; 9.12,15;
13.20). Tanto o autor como seus leitores originais
aparentemente eram judeus helenistas que tinham alguma familiaridade com o
pensamento filosófico dos gregos, e parece que o autor lança mão de ideias
baseadas em tais origens ao declarar que a antiga ordem continha meramente
"figura do verdadeiro" (9.24) ou
então apenas a "sombra dos bens vindouros, não a imagem real das coisas"
(10.1).
O leitor moderno também vive numa época de
sublevação social, religiosa e cultural. As dificuldades pressionam de todos os
lados, à medida que o cristão encara problemas desconcertantes, de proporções
gigantescas. Onde está o Cristo em tudo isto? Este livro fala ao cristão de
hoje, bem como ao cristão daqueles dias, urgindo-o a encontrar a solução para o
problema básico, numa visão mais plena da pessoa e da obra de Jesus, o Cristo.
O escritor diz que a religião, ou a verdadeira adoração, não é presa a coisas
externas; ela é derivada de uma fé na supremacia de Cristo em todas as coisas:
a palavra perfeita de Deus ao homem e o representante perfeito do homem perante
Deus. Este livro lembra ao crente que não é parte de sua chamada ser complacente,
procurar uma facilitação nas dificuldades, voltando às antigas formas de vida,
ou mesmo ser desencorajado pela natureza complexa dos assuntos mundiais,
conforme eles o afetam pessoalmente. O crente deve pôr-se, em primeiro lugar,
continuamente no propósito de Deus, ao longo do caminho já marcado por Jesus
Cristo, o autor e aperfeiçoador da fé do crente (12:2).
Há
alguns problemas críticos em Hebreus, contudo, para os quais não há soluções
fáceis. Faltando uma saudação, dois problemas estão imediatamente evidentes:
Quem escreveu este livro e a quem foi dirigido? Problemas concomitantes são os
do propósito, ocasião, data e local. Há muita discussão sobre cada um desses
pontos pelos eruditos bíblicos modernos, com muito pouco acordo sobre qualquer
um. Mas, para que este livro possa falar à nossa própria situação, é necessário
determinar-se algo do cenário original em que a epístola foi produzida e o que
ela significou para seus primeiros leitores.
O objetivo deste estudo é trazer algumas
informações, colhidas dentro da literatura evangélica, com a finalidade de ampliar a visão sobre a carta aos
Hebreus e a excelência de Cristo. Não há nenhuma pretensão de esgotar o assunto
ou de dogmatizá-lo, mas apenas trazer ao professor da EBD alguns elementos e
ferramentas que poderão enriquecer sua aula.
I.
AUTORIA, DESTINATÁRIO E PROPÓSITO
Na própria epístola não
encontramos indicação explícita sobre seu escritor. Os escritores cristãos
primitivos também não nos provem qualquer testemunho unânime ou convincente.
Tertuliano afirma que Barnabé foi quem a escreveu. Mas a tal afirmação falta
confirmação; ainda que reste algo a dizer a favor do mesmo. O homem a quem foi
dado o nome cristão que significa "filho da exortação" (At 4.36), bem
poderia ter sido o responsável por esta "presente palavra de
exortação" (13.22). Sendo levita,
certamente ele se interessava mais que ordinariamente nos rituais sacrificais;
sendo judeu de Chipre, mui possivelmente ele tivera íntimo contato com os
ensinos helenistas e filosóficos do judaísmo de Alexandria, com os quais tanto
o escritor como os seus leitores parecem ter tido alguma familiaridade; na
qualidade de alguém que se converteu imediatamente após Pentecoste (o que
talvez seja referido em 2.3-4)
indubitavelmente ele foi influenciado pelo ensino de Estêvão, uma influência
que parece persistir nesta epístola.
Em Alexandria, onde a epístola foi
aceita por seus próprios méritos, há evidência de uma tendência crescente, no
terceiro século de nossa era, de ligá-la ao apóstolo Paulo, ainda que bastante
indiretamente. Clemente sugeriu que Paulo escreveu-a em hebraico e que Lucas a
traduziu para o grego. Orígenes se inclinava a pensar que os pensamentos
originais fossem do apóstolo, ainda que não a forma escrita e a linguagem
finais. Tal conexão dessa epístola ao nome de Paulo muito contribuiu para que
lhe conferissem autoridade apostólica, na falta do que muitos hesitaram em
aceitá-la como canônica. Por consequência, muitas cópias manuscritas vieram a
ser intituladas "A Epístola de
Paulo aos Hebreus". Entretanto, essa atribuição
da epístola ao apóstolo, não é aceita pela maioria dos eruditos contemporâneos.
A própria evidência interna da epístola, como sua linguagem, estilo e conteúdo,
é considerada como prova conclusiva contra essa suposição (por exemplo,
contrastar Hb 2.3 com Gl 1.12; Gl 2.6).
Outras sugestões são
inteiramente especulativas. Incluem os nomes de Apolo, Silas, Áquila (ou Prisca
e Áquila) e Filipe, o evangelista. Dentre essas, a sugestão de Lutero-Apolo-é
talvez a mais acertada. Pelo que sabemos de Apolo (ver At 18.24-28), ele é
exatamente o tipo de homem que poderia ter escrito tal epístola. Porém, não
existe qualquer outra evidência para comprovar que ele tenha sido seu autor.
Quando um escritor humano das Escrituras foi providencialmente levado a ocultar
sua identidade, não há necessidade de tentar descobri-la, havendo pouco ou
nenhuma esperança de sucesso nessa tentativa. É mais sábio que nos contentemos
em não sabê-lo.
Juntamente com o problema da autoria, a
Epístola aos Hebreus apresenta um problema quanto a seus primeiros leitores. A
quem escreveu o autor? Assim como a falta de uma introdução impede a atribuição
do nome do autor, igualmente a destinação não é apresentada. Se este livro é
verdadeiramente uma carta, isto seria razão suficiente para se crer que o
título não é original. Supõe-se que o título foi acrescentado, para se
distinguir este livro de outros que foram aceitos, lidos e discutidos pelas
igrejas primitivas. O título expressa, contudo, a crença dos escritores
patrísticos de que o livro foi escrito àqueles que, por nascimento, eram
judeus. Também não há evidência de que a carta tenha tido um título diferente.
Embora Clemente de Roma e Hermas (também de Roma) não tenham citado a carta em
seus escritos, o título é antigo. Panteno e Clemente de Alexandria conheciam
este título na última metade do segundo século, e o manuscrito Papiro II, de
Chester Beatly, do final do segundo século, tem o título pr/oj 0ebra/iouj "A Hebreus"). Tertuliano
(por volta de 200) conheceu o título correspondente em latim, Ad Hebraeos. Foi
sugerido que talvez o título tenha vindo a ser usado por analogia com os
títulos da Epístola aos Romanos e a Epístola aos Gálatas. A falácia disto é
imediatamente aparente quando se observa que os versículos introdutórios dessas
duas cartas expressam uma igreja, ou igrejas, num contexto geográfico (Rm. 1:7;
Gl. 1:2). A falta dos versículos introdutórios, nos manuscritos existentes, obstaria
esta analogia. Além do mais, é improvável que uma carta fosse enviada com uma
saudação contendo somente "Aos hebreus". É muito mais provável que o
título tenha surgido da impressão recebida, ao se ler a carta, e sido uma
tentativa de se determinar pelo conteúdo o caráter de seus primeiros leitores.
Portanto, o título representa a impressão de que a carta foi originalmente
escrita a um grupo de cristãos judeus, num lugar específico geograficamente.
É pressuposto, pelo escritor, que seus
leitores estão muito familiarizados com o sacerdócio aarônico e levítico, tendo
um interesse ativo nele, bem como estando totalmente familiarizados com o
Velho Testamento, o aceitando como autoridade e como sendo sagrado. Além disso,
sente-se que o escritor estava dirigindo suas palavras a um grupo particular, a
quem conhecia pessoalmente (6:9,10; 10:34; 13:7,19).
Era uma igreja, ou um grupo dentro de uma
igreja, que estivera em existência por algum tempo (5:12; 13:7), mas não havia
visto ou ouvido Jesus em pessoa (2:3,4). Era um grupo que já havia sofrido
perseguição (10:32-34), mas não havia ainda experimentado o martírio (12:4).
Tinha uma história de liberalidade e generosidade em cuidar daqueles que
sofreram mais, em tempos de perseguição (6:10; 10:34). Havia tido alguns
grandes líderes e mestres no passado (13:7), mas não havia progredido na fé
cristã (2:1-4; 3:12-19; 6:4-6; 10:25-29; 12:14-16). Parece que estava começando
a separar-se de outros cristãos na comunidade (10:25).
Mas, onde vivia esse grupo? Tradicionalmente,
supunha-se que a carta foi primeiramente enviada a Jerusalém, pois lá o
sacerdócio aarônico (levítico) servia no ritual do templo. O principal
obstáculo a esta suposição é que a carta tem muito a dizer acerca do
tabernáculo móvel, mas não do templo. Também teria havido alguns em Jerusalém
que teriam ouvido e visto Jesus (contrariamente a Hb 2:3). O uso familiar da
Septuaginta, em contrário ao Velho Testamento em hebraico, é outro argumento
contra Jerusalém como a destinação desta carta. Também estes leitores não
haviam "resistido até o sangue" (12:4), ao passo que os cristãos
judeus em Jerusalém haviam sofrido martírio cedo ('At. 7:58-8:3), e, através da
era apostólica, a igreja em Jerusalém fora mais uma receptora que doadora de
auxílio (6:10; cf. At. 11:29; Rom. 15:26; etc).
De alguma maneira, a Epístola aos Hebreus está
ligada com Roma. A expressão contida em 13:24 ("Os de Itália vos
saúdam") é melhor entendida como aqueles que vieram da Itália e agora, na
presença do autor da carta, estavam enviando saudações de volta a seus amigos
na Itália. Esta é a maneira normal de se interpretar a frase. Contudo, ela
poderia significar "os que estão na Itália", onde está também o
escritor, mas isto força o sentido. Apoiando uma destinação romana, estão as
alusões literárias mais antigas a esta carta, que vem de Roma.
Embora nem Clemente nem Hermas (ambos de Roma)
mencionem a carta por nome, existem paralelos significativos, no vocabulário,
para se concluir que ambos conheceram esta carta. De recursos extra bíblicos, o
que se sabe acerca da igreja romana, desde seu princípio, mostra que ela era
caracterizada por sua liberalidade e generosidade. Ela também tinha sofrido
perseguição e perda de possessões (10:32), mas não perda de vidas (12:4), o que
poderia ter ocorrido durante a época em que Cláudio expulsou os judeus de Roma
(49 d.C). Na Epístola de Paulo aos Romanos (Rm. 14), a igreja em Roma parece
ser escrupulosa em relação à comida, o que também é visto em Hebreus (13:9).
Além disso, é sugerido, em Romanos 11:13,18, que a igreja em Roma tinha uma
base cristã-judaica.
Embora estas considerações não sejam
conclusivas, elas parecem encaixar-se melhor na situação que outras sugestões.
Da informação contida na carta, parece que as pessoas endereçadas eram cristãos
judeus que viviam fora da Palestina, na tradição do judaísmo não-conformista.
Além disso, a carta está, de algum modo, relacionada com a Itália (13:24), que
provavelmente significa Roma. Certeza além deste ponto é impossível, pelos
materiais que temos à nossa disposição. Assim como a autoria permanece sendo um
enigma, também a identidade da destinação desta carta.
Há, provavelmente, tanto debate acerca
do propósito de Hebreus quanto há acerca de sua autoria e destinação. A
identificação do autor e dos primeiros
leitores são de menos importância que determinar a razão para a escrita. A
carta foi escrita de tal maneira que sua própria interpretação está determinada
por seu propósito. O autor descreve sua mensagem como uma "palavra de
exortação" (13:22), e isto deve indicar algo de seu propósito. Além disso,
a palavra "exortar" (como verbo, substantivo e adjetivo) é usada seis
vezes, através da epístola, e o verbo "advertir" aparece três vezes.
Deve-se concluir que o assunto era de importância prática vital. Mas, qual era
o assunto? O que foram os leitores exortados a fazerem ou não fazerem?
É uma admoestação para que os cristãos
judeus façam um completo rompimento com as velhas formas do judaísmo e para que
entrem na maturidade da "vida abundante", que só pode ocorrer em
Jesus Cristo e através dele (João 10:10). Era a tendência, na igreja primitiva,
ficar o cristão perto demais dos elementos judaicos do grupo primitivo. Aqui
está uma admoestação para ele afastar-se dos elementos do ritual judaico; uma
exortação para encontrar a maturidade não no ritualismo do velho concerto, mas
na nova religião do Espírito e da liberdade (João 3:1-15). O cristianismo não
deve ser desenvolvido dentro do judaísmo (Luc. 5:36-39). O autor estava
escrevendo àqueles que haviam-se tornado cristãos, mas ainda estavam-se
prendendo ao ritualismo do judaísmo, o ritualismo que jamais poderia efetuar um
resultado permanente (7:19; 10:1). Continuar com o ritualismo seria equivalente
ao fracasso de seus pais em entrarem na Terra Prometida; demonstra uma falta de
fé completa na obra de Jesus Cristo.
É por esta razão que o autor desenvolveu seu
argumento como fez. Tudo de bom no judaísmo não era mais que uma sombra do que
é real em Jesus Cristo (9:23-10:18 - 12:14-17). Jesus é superior, em todos os
aspectos, àquilo sobre o que o judaísmo foi construído: as revelações através
dos pais e dos anjos (1:1-2:18), Moisés (3:1-4:13), Arão (4:14-7:28), o sistema
sacrificial (8:1-10:18). O autor não condena estes elementos como sendo maus,
nem fala acerca deles de maneira depreciadora; mostra, sim, que eles foram
substituídos. Eles foram úteis, mas agora serviram para sua finalidade e devem
ser abandonados, desde que Jesus veio (1:2; 3:3; 8:12; 10:14). Há cinco passagens
admonitórias, cada uma sendo uma exortação ou advertência contra o deixar de
crescer na maturidade cristã (2:1-4; 3:7-19; 6:4-8; 10:26-39; 12:14-17). A
urgência e necessidade do crescimento espiritual (6:1-20) são confirmadas por
aqueles que, na história de Israel, se apressaram em completa fé na promessa de
Deus de uma vida espiritual mais rica (10:36-11:40), sendo o próprio Jesus o
exemplo supremo (12:2).
Mas qual é a mensagem de Hebreus para o
cristão moderno? É sempre a tendência de o novo crente ficar perto demais dos
elementos de sua vida anterior, de trazer alguns desses elementos para dentro
de sua nova vida. Algumas das coisas velhas são bem obviamente erradas e devem
ser abandonadas desde o início. Há outras coisas, contudo, que não são más em
si, e é difícil determinar-se quais são realmente prejudiciais e quais não são.
Hebreus assenta os princípios básicos para a maturidade cristã. Esta epístola
foi escrita a cristãos que estavam num estado de crescimento impedido
(5:11-6:3); ainda eram crianças espirituais. Precisavam crescer tão
naturalmente na vida espiritual como as crianças normais o fazem na vida
física. Há um perigo em permanecer-se sempre uma criança (6:4-20). Mas, esse
crescimento deve ocorrer em Jesus Cristo; tudo o que se precisa para o
crescimento encontra-se no Senhor e Salvador Jesus Cristo. O crescimento só
pode ocorrer à medida que os olhos da pessoa estejam centralizados em Jesus
(Hb. 12:2) e a vida seja rendida completamente a ele, em fé. Ele é nosso tudo
em todos, o eterno (13:8). Ele é capaz de aperfeiçoar em nós tudo o que é
necessário para nosso crescimento até a maturidade espiritual (4:14-16).
II.
CRISTO A PALAVRA SUPERIOR A
DOS PROFETAS
O
primeiro capítulo da epístola Aos Hebreus trata de assuntos primordiais à nossa
vida de fé. O autor estava imbuído da responsabilidade de mostrar que a
revelação em Cristo ultrapassa e é superior a todos os outros mediadores entre
Deus e os homens, a saber: profetas e anjos. Para demonstrar essa realidade,
utiliza-se da Palavra de Deus como única fonte. Assim, podemos dizer que o
conceito pode ser desenvolvido por meio de algumas perguntas simples: como Deus
falou? Quando falou? Por intermédio de quem falou? A quem falou? O que falou? E
para que falou?
O Cristianismo é uma religião de
revelação. Deus fala às pessoas e por intermédio das pessoas. O Velho
Testamento nos dá conta de que Ele falou por teofanias, visões, oráculos e
sinais, por meio de voz suave, pela chorosa compaixão de Jeremias, por
denúncias feitas por Amós ao som de trombeta, usando a fome, seca e
pestilência, também a colheita abundante, a libertação do exílio, a lei,
juízes, poetas e profetas.
Apesar
disso, o autor informa aos hebreus que, nos últimos dias, Deus falou por meio
de um que com ele tem relacionamento de filho e, consequentemente, completa
autoridade. É bom que o ouvinte compreenda que a expressão nestes últimos dias
era comum aos hebreus e possuía sentido messiânico. Assim, quando Deus falou
teria como resposta os dias recentes, nos últimos dias, cumprindo a expectativa
da chegada do Messias.
O profeta Amós havia apregoado a
justiça; Isaías, a santidade; Oséias, o amor perdoador. Nestes últimos dias,
Deus mandou seu mais autorizado porta-voz, Cristo. Vemos que o entendimento do Velho Testamento
que o autor exibe aponta para uma continuidade na revelação. As formas
utilizadas pelo Antigo Testamento não sofrem solução de continuidade, pelo
contrário, são aperfeiçoadas com a revelação final em Jesus Cristo.
Cristo,
declara-nos o autor, é o cumprimento das promessas de Deus.
Deparamo-nos com alguns pensamentos que podem
nos ajudar a compreender com mais facilidade por que dizemos que a fé cristã é
melhor, é superior. Com o auxílio da chamada Bíblia Shedd, Edições Vida Nova,
podemos elencar sete declarações que revelam a majestade e poder de Cristo,
mencionadas pelo autor da epístola e ratificadas por outras referências
bíblicas:
1.
Cristo é o herdeiro de todas as
coisas: Efésios 1:20-23;
2.
Ele é o Agente da Criação: João 1:3;
3.
Ele é o brilho que irradia o Deus que é Luz: I
João 1:5;
4.
Ele manifesta a verdadeira natureza de
Deus: II Coríntios 4:4; Colossenses 1:5;
5.
Sua palavra poderosa sustenta o
Universo: Colossenses 1:17;
6.
Ele é o sacerdote que se oferece a si
mesmo como sacrifício para purificar os pecados: João 1:29, e
7.
Ele ocupa o trono soberano, à direita
de Deus: Salmos 110:1 e Efésios 4:10.
Porque
oportuno, detenhamo-nos na leitura dos quatro primeiros versículos, que
tornarão o que acabamos de destacar ainda mais significativo: “havendo Deus, outrora, falado muitas vezes e
de muitas maneiras aos pais, pelos profetas, nestes últimos dias nos falou pelo
Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, pelo qual também fez o
Universo. Ele, que é o resplendor da glória e a expressão exata do seu Ser,
sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder, depois de ter feito a
purificação dos pecados, assentou-se à direita da Majestade, nas alturas,
tendo-se tornado tão superior aos anjos quanto herdou mais excelente nome do
que eles”.
Importante
destacar que Hebreus nos aponta Cristo como o Logos de Deus, a sabedoria de
Deus e o agente de Deus na criação. Os estudiosos do assunto costumam chamar a
nossa atenção para duas correntes de pensamento que tinham destaque naqueles
dias com relação à interpretação do relacionamento entre Jesus e Deus.
A primeira é conhecida como
adopcionista e diz que Jesus se tornara, na História, o Filho de Deus por
nomeação do Pai e a outra afirma que Jesus era o Filho preexistente, estava com
Deus no princípio. Sabedores disso, compreendemos melhor a razão do autor
destacar com tanta certeza que Jesus era o herdeiro de todas as coisas, criador
do Universo, resplendor da glória de Deus e sustentador do Universo pelo seu
poder. Além de criar ele sustenta, não abandona a coisa criada à sua própria
sorte.
Em Seu ser eterno Ele é Deidade genuína e
absoluta, o resplendor ou brilho visível da glória de Deus, sendo Ele mesmo a
expressão exata da deidade (gr. charakter tes hupostaseos, "reprodução da
substância"), o Filho eterno do Pai, "vero Deus do Deus
verdadeiro". No planejamento divino do universo, Cristo é o autor,
sustentador e fim. Tudo foi criado por Ele. Ele sustenta a criação inteira. Ele
é o seu herdeiro. Note-se que o fim é visto desde o início; a divina nomeação
do Filho como herdeiro do universo precede a criação do universo.
Em relação aos homens, Cristo é o Profeta, o
Sacerdote e o Rei dos homens. Em Cristo Deus proferiu Sua final palavra de
revelação; e assim Ele traz Deus aos homens (cfr. Jo 1.14-18). Em Sua própria
Pessoa Ele expurgou nossos pecados e consumou a obra de reconciliação; e assim
Ele apresenta os homens a Deus. Agora Ele está entronizado à mão direita de
Deus. Na qualidade de exaltado Deus-Homem, Ele obteve, por virtude de herança,
uma posição muito acima de todos os outros (cfr. Ef 1.20-21; Fp 2.9-11).
III.
CRISTO SUPERIOR AOS ANJOS
Muitos judeus tinham um respeito supersticioso ou idólatra
pelos anjos, porque tinham recebido a lei e outras notícias da vontade divina
por sua ministração. Os consideravam como mediadores entre Deus e os homens, e
alguns chegaram tão longe como para dar-lhes uma espécie de homenagem religiosa
ou adoração. De modo que era necessário não só que o apóstolo insistisse em que
Cristo é o Criador de todas as coisas e, portanto, criador dos próprios anjos,
senão em que era o Messias em natureza humana ressuscitado e exaltado, a quem
estão sujeitos os anjos, as autoridades e as potestades.
Para provar isto cita várias passagens do Antigo Testamento.
Comparando o que Deus diz ali dos anjos com o que diz a Cristo, manifesta-se
claramente a infinidade dos anjos a respeito de Cristo. aqui está o ofício dos
anjos: são os ministros ou servos de Deus para fazerem sua vontade, porém, que
coisas grandiosas diz o Pai de Cristo! Reconheçamo-lo e honremo-lo como Deus,
pois se não tivesse sido Deus, nunca teria feito a obra de mediador e nunca
teria levado a coroa do Mediador. Declara-se como Cristo foi apto para o ofício
de Mediador e como foi confirmado nele: leva o nome de Messias por ser o
Ungido. Somente como Homem tem seus semelhantes, e como ungido com o Espírito
Santo; mas está por acima de todos os profetas, sacerdotes e reis que jamais
tenham sido utilizados no serviço de Deus na terra.
Cita-se outra passagem da Escritura, o Salmo 102.25-27, no
qual se declara o poder onipotente do Senhor Jesus Cristo, tanto ao criar o
mundo como ao mudá-lo. Cristo envolverá este mundo como se for uma vestidura,
para que não se abuse mais dele, nem seja usado como o tem sido. Assim como o
soberano, quando as roupagens de seu estado lhe são tiradas para serem dobradas
e guardadas, continua sendo o soberano, do mesmo modo nosso Senhor continuará
sendo o Senhor quando tiver deixado a terra e os céus, como uma vestimenta.
Então, não coloquemos nossos corações no que não é o que acreditamos que seja,
e não será o que é agora. O pecado tem feito uma grande mudança no mundo, para
pior, e Cristo fará uma grande mudança para melhor. Que estes pensamentos nos
alertem, diligentes e desejosos do mundo melhor.
O Salvador tem realizado muito para fazer que
todos os homens sejam seus amigos, porém tem inimigos, embora serão colocados
por estrado embaixo de seus pés, pela submissão humilde ou pela destruição
extrema. Cristo continuará vencendo. Os anjos mais excelsos não são senão espíritos
ministradores, somente servos de Cristo para executarem seus mandamentos.
Os santos são herdeiros no presente, que ainda
não entraram na plena possessão. Os anjos os ministram opondo-se à maldade e
consolando suas almas, submetidos a Cristo e ao Espírito Santo. Os anjos
reunirão a todos os santos no último dia, quando sejam lançados da presença de
Cristo à miséria eterna todos os que depositaram seu coração e suas esperanças
nos tesouros perecíveis e nas glórias passageiras.
CONCLUSÃO
Na confecção deste pequeno estudo,
buscamos consultar literatura que mais se aproxima com o pensamento de nossa
denominação, tentando não perder a coerência teológica. Evitamos expressar
conceitos e opiniões pessoais sem o devido embasamento na Palavra, pois a
finalidade é agregar conhecimentos, enriquecer a aula da escola dominical e
proporcionar ao professor domínio sobre a matéria em tela. Caso alcance tais
finalidades, agradeço ao meu DEUS por esta grandiosa oportunidade.
Pr. JOSÉ COSTA JUNIOR
Nenhum comentário:
Postar um comentário