O
MINISTÉRIO DE APÓSTOLO
TEXTO ÁUREO = “E ele
mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para
evangelistas, e outros para pastores e doutores”(Ef 4.11).
VERDADE PRÁTICA = O dom
do apostolado foi concedido por Deus à igreja com o propósito de expandir o
Evangelho de Cristo.
LEITURA
BIBLICA = EFÉSIOS 4: 7-16
INTRODUÇÃO
OS APÓSTOLOS = At l.26 = Ainda
que os Evangelhos chamem as mesmas pessoas de “discípulos” e “apóstolos” (Mt 10,1-2; Lc 6,13), os termos não são
sinônimos. “Discípulo” significa “aluno”, “aquele que aprende”; “apóstolo”
significa “emissário”, “representante”, alguém enviado com a autoridade daquele
que o enviou. Os doze apóstolos (Ap
21.14), como distintos dos apóstolos (“mensageiros”) das igrejas (2Co 8.23 e a nota sobre o texto) e do
resto dos discípulos, foram escolhidos e enviados por Jesus (Mc 3.14), exatamente corno o próprio
Jesus, “o Apóstolo.., da nossa confissão” (Hb
3.1), foi preordenado e enviado pelo Pai (l Pe 1.20) Assim como rejeitar
Jesus é rejeitar o Pai, também rejeitar os apóstolos é rejeitar Jesus (Lc 10.16).
Paulo,
o “apóstolo dos gentios” (Rm 11.13; GI
2.8), declara-se como uni apóstolo nas palavras de abertura da maioria de
suas cartas. Pelo fato de ter visto Cristo no caminho de Damasco e ter sido comissionado
por ele (At 26.16-18), ele foi tão
verdadeiramente unia testemunha da ressurreição de Jesus (que um apóstolo tinha de ser, At 1.21-22; 10 41-42), como foram
todos os outros. Tiago, Pedro e João aceitaram Paulo no colégio apostólico (GI 2.9), e Deus confirmou sua condição
de apóstolo pelos sinais de um apóstolo (milagres
e sinais, 2Co 12.12; Hb 2.3-4) e pelos frutos do seu ministério (l Co 9.2).
Os
apóstolos foram agentes de Deus na revelação das verdades que se tornariam a
regra de fé e de vida cristãs.
Como
tais e através da escolha deles feita por Cristo como seus representantes
autorizados (2Co 10.8; 13.10), os
apóstolos exerceram uma autoridade peculiar na Igreja. Não há apóstolos hoje,
ainda que alguns cristãos realizem ministérios que, de modo particular, são
apostólicos em estilo. Nenhuma nova revelação canônica está sendo dada; a
autoridade do ensino apostólico reside nas Escrituras canônicas, A ausência de
nova revelação não coloca a Igreja contemporânea em desvantagem quando
comparada com a Igreja dos dias dos apóstolos, porque o Espírito santo
interpreta e aplica as Escrituras ao povo de Deus continuamente.
Um
breve estudo a respeito do ministério apostólico, questão oportuna já que têm
surgido, no meio evangélico, inúmeros “apóstolos”, tendo sido esta epístola uma
defesa que Paulo fez de seu apostolado à igreja em Corinto.
Ao
verificarmos o que a Bíblia fala sobre os apóstolos, bem como as
características do apostolado, mediante a defesa que Paulo faz em II Coríntios,
percebemos nitidamente que o ministério apostólico ficou restrito aos doze
escolhidos pelo Senhor Jesus e que os “apóstolos do século XXI”, mesmo que o
ministério apostólico tivesse perdurado até os dias de hoje (o que não parece
ser o caso na melhor interpretação bíblica), não passariam dos “falsos
apóstolos” mencionados pelo próprio Cristo em Ap.2:2.
OS
SIGNIFICADOS DA PALAVRA “APÓSTOLO”
Muito
se tem discutido a respeito da existência, ou não, na Igreja, em nossos dias,
do “ministério apostólico”. A Igreja teria, ainda hoje, “apóstolos”? Afinal de
contas, Paulo, ao escrever aos efésios, disse que o Senhor Jesus daria “uns
para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para
pastores e doutores” (Ef.4:11), ou seja, haveria cinco dons ministeriais na
Igreja, um dos quais o de “apóstolo”.
Com
base nesta passagem bíblica, notadamente nos últimos anos, muitos líderes ditos
evangélicos têm se intitulado “apóstolos”, querendo, com isso, afirmar que
estão à frente dos demais ministros de seu movimento, de sua denominação, que
são, em nível hierárquico inferior, “bispos” ou “pastores”.
Mesmo
nas Assembleias de Deus já começaram a surgir alguns “apóstolos”, ainda que,
por enquanto, em igrejas que, por terem assim agido, acabaram se desligando das
principais convenções. Haveria base bíblica para isto? Há, na atualidade, o dom
de “apóstolo”
Esta
questão, que tem sido suscitada com frequência em nosso meio, é oportuna no
instante em que estamos a estudar a segunda carta de Paulo aos coríntios, em
que Paulo defende, diante da igreja em Corinto, exatamente a sua condição de
“apóstolo”, que era a principal crítica que se lhe faziam os judaizantes, que
não aceitavam o apostolado do ex-perseguidor da Igreja. Nada melhor, pois,
quando estamos a estudar a defesa que Paulo faz de seu apostolado junto aos
crentes de Corinto, que venhamos a discutir esta problemática a respeito da
existência, ou não, de apóstolos na Igreja dos dias atuais.
-Por
primeiro, devemos lembrar que a palavra “apóstolo” é uma palavra grega, que já
existia quando do início da história da Igreja. Quase todas as questões
surgidas atualmente a respeito de títulos, funções e dons ministeriais no meio
evangélico partem de premissas que desconsideram a realidade de que, com a
vinda de Cristo e o início da dispensação da graça, algumas palavras adquiriram
novos significados, significados específicos decorrentes da instalação da nova
aliança, sem que, no entanto, na própria redação do Novo Testamento, não tenham
sido utilizadas em seus significados primitivos, alheios às instituições
surgidas com o aparecimento da Igreja.
Um
exemplo disso é a palavra “diácono” (διάκονος), cujo significado em grego é
“servo”, “servidor” e que, após a questão surgida na igreja de Jerusalém no
tocante à assistência às viúvas, passou a designar um oficial da igreja
encarregado de servir as mesas (At.6:1-6). Assim, muitas vezes, no texto grego
do Novo Testamento, aparece a palavra “diácono”, mas no seu significado
original, de “servidor”, de “pessoa que presta serviços” (significado muito
semelhante ao de “servente” em “servente de pedreiro”, que usamos em
português), que nada tem que ver com a função criada após este problema na
igreja de Jerusalém. Assim, quando se diz que Febe era “diaconisa”, como se vê
em Rm.16:1, em algumas versões, em absoluto se quer dizer que Febe havia sido
separada para o “diaconato” como aqueles sete varões em Jerusalém, mas apenas
se diz que ela era uma mulher prestativa, que “servia” os irmãos, que lhes
prestava serviços (hospedagem, fornecimento de alimentação, cuidados diversos
etc. etc. etc.), não havendo base alguma para, a partir daí, dizer-se que
mulheres podem exercer o “diaconato”, máxime diante de textos como At.6:3 e I
Tm.3:12, que indicam que tal função é privativa dos homens.
Mas,
voltando à questão do “apostolado”, temos aqui a mesma situação. A palavra
“apóstolo”(απόστολος) significa “delegado”, “enviado”, “despachado”, vindo do
verbo “apostello” (αποστέλλω), cujo significado é “enviar”, “despachar”. Assim,
“apóstolo” é um “enviado”, alguém que é mandado para fazer algo para outrem.
Neste sentido, aliás, é que se disse que o Senhor Jesus deve ser considerado
como “o apóstolo e sumo sacerdote da nossa confissão” (Hb.3:1), ou seja, como o
“enviado” do Pai à humanidade para a salvação (Mc.9:37; Mc.12:6; Lc.4:18;
Jo.3:17; 4:34; 5:23,37; 6:38).
Quando
Jesus iniciou o Seu ministério terreno, começou a chamar aqueles que deveriam
acompanhá-lO (Mc.4:13). Dentre estes homens que foram chamados por Ele e que
passaram a segui-lO, para serem “pescadores de homens” (Mt.4:19), Jesus
escolheu doze “para que estivessem com Ele, e os mandasse a pregar, e para que
tivessem poder de curar as enfermidades e expulsar os demônios” (Mc.3:14,15).
Estes doze homens foram, pois, escolhidos para um trabalho específico, para que
fossem enviados e pregassem às ovelhas perdidas de Israel, já que, no exíguo
tempo que Jesus tinha, não poderia Ele pessoalmente, ir a toda a extensão da
Palestina judaica (Mc.6:7). Estes doze foram “enviados” por Jesus para este
trabalho e, por isso, passaram a ser chamados de “apóstolos”, ou seja,
“enviados”.
Os “apóstolos”,
portanto, eram, dentre os discípulos de Jesus, aqueles que passaram a
participar de um grupo seleto, mais próximo do Senhor, que foram “enviados”,
num primeiro instante, para pregar aos israelitas e, desta maneira, fazer com
que o trabalho de Jesus se estendesse a todo o Israel, como também fossem
preparados para liderar a Igreja quando terminasse o ministério terreno de
Jesus (Mc.10:32; Lc.8:1; 18:31; 22:14; Jo.6:70).
Desta
maneira, a palavra “apóstolo”, que tinha o significado de “enviado”, passou a
designar aqueles doze homens que, tendo sido enviados durante o ministério
terreno de Jesus para completar-Lhe a obra da evangelização a todo o Israel,
também haviam sido escolhidos por Jesus para continuar-lhe a obra, liderando a
Igreja nos primeiros dias.
Esta
condição foi plenamente compreendida pelos apóstolos após a ressurreição de
Jesus. O Senhor, em Suas aparições, completando todo o ensino dos anos de Seu
ministério terreno, falou-lhes a respeito do reino de Deus (At.1:3),
mostrando-lhes que, como apóstolos, deveriam eles, que haviam testemunhado o
cumprimento das Escrituras a respeito da morte e ressurreição de Cristo, pregar
em Seu nome o arrependimento e a remissão dos pecados em todas as nações,
começando por Jerusalém (Lc.24:44-48) e que, para realizar esta obra, deveriam
eles aguardar o revestimento de poder (Lc.24:49).
Tanto
assim é que, enquanto aguardavam tal revestimento de poder, os onze apóstolos
sentiram a necessidade de completar o número de doze, que estava incompleto
após a traição e suicídio de Judas Iscariotes, pois sabiam eles que o número de
apóstolos tinha de ser doze, já que este havia sido o número escolhido pelo
próprio Jesus, até porque aos apóstolos está reservado o julgamento das tribos
de Israel durante o reino milenial (Mt.19:28; Lc.22:30).
Por
isso, resolveram escolher um novo apóstolo, que ocupasse o lugar deixado por
Judas Iscariotes, tendo, então, demonstrado toda a sua consciência do que era
ser um “apóstolo”, ao apontar como requisitos do apostolado que se fosse “um
varão que convivera com os demais apóstolos todo o tempo em que o Senhor Jesus
entrou e saiu dentre eles, começando desde o batismo de João até o dia em que
dentre eles foi recebido em cima, para que se fizesse testemunha de Sua
ressurreição” (At.1:22).
Ante
estas exigências, que confirmavam que o apostolado era algo peculiar e
referente ao “envio” de Jesus durante o Seu ministério terreno, apenas dois
candidatos se apresentaram naqueles quase cento e vinte discípulos, tendo sido
lançadas sortes entre José Barsabás e Matias, sortes que foram favoráveis a
este último que, a partir daquele momento, passou a ser contado com os onze
apóstolos, “por voto comum” (At.1:26).
Este
gesto dos apóstolos que levou à escolha de Matias, além de ter o mérito de nos
dizer o que é ser “apóstolo”, também nos mostra que não houve, neste episódio,
a intervenção divina que confirmasse esta substituição de Judas por Matias. Na
verdade, a expressão de Lucas, que diz que “Matias foi contado por voto comum
com os onze apóstolos”, por ser um texto inspirado pelo Espírito Santo,
mostra-nos claramente que, para o Senhor Jesus, Matias não era apóstolo, embora
tivesse passado a ser assim considerado, visto que o “voto comum” dos demais
apóstolos não tem o mesmo valor da chamada feita pelo próprio Senhor Jesus,
como já vimos antes.
Muito
pelo contrário, na sequência da história da Igreja, veremos que é a Paulo que
se terá esta chamada para o lugar de Judas Iscariotes. Com efeito, Paulo é o
único, com exceção de João (que era um dos doze) a quem o Senhor Jesus aparece
pessoalmente depois de Sua ascensão, no caminho de Damasco (At.9:4-6), como
também o único que revela ter tido experiências pessoais diretas com o Senhor
Jesus (I Co.11:23), expressão esta, aliás, o que é assaz elucidativo, que foi
utilizada com respeito à ceia do Senhor, uma reunião que Jesus teve tão somente
com os doze (Mt.26:20; Lc.22:14).
Na
sequência da conversão de Paulo, vemos que o Senhor Jesus falou em visão a
Ananias que Paulo era para Ele “um vaso escolhido para levar o Seu nome diante
dos gentios, e dos reis, e dos filhos de Israel” (At.9:15), atestando, assim,
que Paulo era “enviado” do Senhor notadamente para os gentios, motivo pelo qual
diria que a ele havia sido confiado o “evangelho da incircuncisão” (Gl.2:7).
Tinha-se mais uma demonstração de que Paulo assumia uma condição singular
dentre os demais discípulos, verdadeiramente ocupando o lugar deixado por Judas
Iscariotes.
Não é
por outro motivo que Paulo passa a se intitular “apóstolo”, sempre reafirmando
que isto não era consequência de sua vaidade ou presunção, mas a pura e
cristalina vontade de Deus (I Co.1:1; II Co.1:1; Ef.1:1; Cl.1:1; II Tm.1:1).
Ele fora “enviado” pessoalmente pelo Senhor Jesus e, mediante experiências
pessoais retroativas, havia se tornado testemunha do ministério terreno de
Jesus, tanto que chegou, mesmo, a mencionar um ensino de Cristo que nenhum dos
evangelistas registrou (At.20:35). É, por isso até que Paulo se intitula um
“apóstolo abortivo”, ou seja, como um “apóstolo nascido fora de época” (este é
o sentido da palavra grega “ektroma” – εκτρωμα — utilizada no texto), alguém
que, depois dos acontecimentos autorizadores da escolha de alguém como
apóstolo, faz-se participantes dele.
Os
judaizantes questionavam o “apostolado” de Paulo precisamente porque Paulo não
acompanhara o ministério terreno de Jesus e por se voltar para a pregação do
Evangelho aos gentios, não impondo aos convertidos a observância da lei de
Moisés, o que atestaria, segundo eles, a “falsidade” de seu ministério
apostólico, pois nada disso era feito ou realizado pelos outros onze (ou doze,
já que, certamente, os judaizantes consideravam válida a substituição de Judas
por Matias).
No
entanto, como temos visto em II Coríntios, Paulo mostra que seu ministério nada
tinha de inferior em relação aos demais apóstolos, sendo certo que a
participação, ainda que a fora de época, do ministério terreno de Cristo e a
sua condição peculiar de ser testemunha da ressurreição do Senhor superavam
todos os óbices apresentados para o reconhecimento de seu apostolado, ainda
mais diante da demonstração de Espírito e de poder que haviam caracterizado sua
passagem por Corinto e por todos os lugares onde estava a implantar igrejas.
Ser
“apóstolo”, pois, no contexto da Igreja, era ter sido testemunha do ministério
terreno de Cristo, desde Seu batismo por João até a Sua ascensão aos céus e,
ante este testemunho do cumprimento das Escrituras a respeito do Cristo, pregar
o arrependimento e remissão dos pecados em todas as nações, começando por
Jerusalém, cuidando do ministério da palavra e da oração (At.6:2,4),
completando a construção da estrutura da Igreja que estava sendo edificada pelo
Senhor Jesus (Mt.16:18).
O DOM MINISTERIAL DE APÓSTOLO
Desde
quando nomeou os doze para pregar às ovelhas perdidas da casa de Israel
(Mt.10), o Senhor Jesus deixou claro que o trabalho dos apóstolos era
complementar a Sua obra ministerial que Ele, feito pouco menor do que os anjos,
tornado homem (Hb.2:9), não poderia realizar sozinho, diante do tempo que Lhe
fora destinado e da própria necessidade de ensinar aos discípulos de que a obra
haveria de ser feita coletivamente. A Igreja é o “corpo de Cristo” (I Co.10:16)
e todos devemos trabalhar conjuntamente para que a obra de evangelização se
realize.
Mas, além
de ser o “corpo de Cristo”, de que Jesus é a cabeça, além de ser o Salvador do
corpo (Ef.5:23), a Igreja também é o “edifício de Deus” (I Co.3:9) e, como todo
edifício, tem de ter um alicerce, um fundamento, uma base para que se
construísse. É interessante observar que, quando Jesus revelou o mistério da
Igreja, que estava oculto desde os séculos (Ef.3:5-10), disse que haveria de
edificar a Igreja (Mt.16:18), ou seja, a Igreja não estava edificada quando da
revelação deste mistério em Cesareia.
A
Igreja, para ser edificada, precisava, como todo edifício, de uma pedra
fundamental, da “principal pedra da esquina”. Ora, quando da revelação do
mistério, Jesus mesmo disse que pedra era esta, a saber, Ele próprio. “Sobre
esta pedra edificarei a Minha igreja”, disse o Senhor Jesus.
Como
podemos saber que a pedra é Cristo? Porque assim nos ensina o apóstolo Pedro, a
quem o Senhor dirigiu estas palavras: “ E chegando-vos para Ele — pedra viva,
reprovada, na verdade, pelos homens, mas para com Deus eleita e preciosa.” (I
Pe.2:4). Se Pedro, que era a pessoa que ouviu estas palavras de Jesus, entendeu
que a pedra a que Jesus Se referia era o próprio Cristo, como haveremos de dar
outro sentido a estas palavras?
Paulo,
mesmo, confirma esta circunstância ao dizer que ninguém pode pôr outro
fundamento além do que está posto, que é Jesus Cristo (I Co.3:11) e, em outra
passagem, reafirma que a “principal pedra da esquina” é o Senhor Jesus
(Ef.2:20).
- No
entanto, um edifício não é feito apenas pela pedra fundamental. Ela é
indispensável, é a base de tudo, é o fundamento de tudo, mas o alicerce depende
ainda de outras estruturas além destas pedras. Ora, o fundamento completo, o
alicerce completo tem, ao lado da pedra fundamental, “o fundamento dos
apóstolos e dos profetas” (Ef.2:20).
Vemos,
portanto, que a Igreja está fundamentada em Jesus Cristo, mas que esta pedra
principal da esquina é complementada, corroborada pelo “fundamento dos
apóstolos e dos profetas”. Quando se fala em profetas, lembramos do que disse o
Senhor Jesus: “A lei e os profetas duraram até João” (Mt.11:13; Lc.16:16).
Assim, os profetas, cujo último foi João, serviram de fundamento para a Igreja,
porque prediziam a respeito do Messias, a respeito do Cristo, sendo testemunhas
dAquele que haveria de vir.
Como
bem explanou num estudo bíblico realizado em 25 de janeiro de 2010 na
Assembleia de Deus do Ministério do Ipiranga na Praça da Sé – São Paulo/SP, o
pastor José Magalhães (vice-presidente da Assembleia de Deus – Ministério de
São Miguel Paulista, em São Paulo/SP), “Jesus era uma profecia” durante os
ministérios dos profetas, tendo passado a ser uma “realidade conhecida” no
instante em que foi batizado por João, razão pela qual João foi o maior de
todos os profetas (Lc.7:28), pois além de profetizar a respeito de Cristo,
também O apresentou em carne e osso ao povo.
Jesus
disse que as Escrituras d’Ele testificavam (Jo.5:39), Escrituras estas que
eram, naquele momento, tão somente “a lei e os profetas”, o Antigo Testamento.
Os profetas apresentavam-se, desta maneira, como “testemunhas” do Senhor Jesus,
fazendo, assim, parte deste fundamento que se erigia como “edifício de Deus”,
já que o cumprimento de suas profecias na pessoa de Cristo era parte
fundamental da pregação do arrependimento e remissão dos pecados por parte dos
discípulos do Senhor (Lc.24:44-47). Não é à toa que Pedro, no dia de
Pentecostes, usou das Escrituras em seu sermão (At.2:14-40).
Este
testemunho dos profetas era um “testemunho antecipado”, como nos ensina Pedro
em sua primeira epístola, quando afirma que os profetas indagaram que tempo ou
que ocasião de tempo o Espírito de Cristo, que neles estava, indicava,
anteriormente testificando os sofrimentos que a Cristo haviam de vir, e a
glória que se lhes havia de seguir, aos quais foi revelado que, não para si
mesmos, mas para a Igreja, eles ministravam estas coisas que agora eram
anunciadas por aqueles que, pelo Espírito Santo enviado do céu, pregavam o
evangelho (I Pe.1:10-12).
É neste
instante, pois, que surge o segundo grupo de “complementadores” do fundamento
da Igreja, ou seja, os apóstolos. Eles tinham a missão de, pelo Espírito Santo
enviado do céu, testificarem o cumprimento do que havia sido profetizado a
respeito do Cristo. Eles deveriam complementar o que havia sido profetizado,
ministrando a Palavra de Deus e perseverando na oração, a fim de que o povo
compreendesse que o que havia sido profetizado a respeito do Cristo já estava
cumprido e que era tempo de se salvar da geração perversa e crer em Jesus como
Senhor e Salvador de suas vidas.
Os
apóstolos eram “enviados” de Jesus para testificar o cumprimento das Escrituras
em Jesus e também deixar registrado este cumprimento em novas Escrituras,
Escrituras que completassem a revelação de Deus ao homem. Aquilo que os
profetas haviam profetizado e tinha sido registrado fora cumprido e cabia aos
apóstolos, como “enviados especiais” do próprio Senhor Jesus, como “testemunhas
oculares” do cumprimento das Escrituras, mostrar o cumprimento do que havia
sido profetizado, devendo ser igualmente registrado o que eles ensinassem sobre
tal cumprimento.
O dom
ministerial de apóstolo, portanto, diz respeito a este fundamento da Igreja, a
esta complementação da obra de Cristo, complementação relacionada ao
complemento das Escrituras (o Novo Testamento) e à estruturação da base do
“edifício de Deus”, da Igreja, a partir do que cada crente poderia, em conjunto
com os demais irmãos em Cristo, levantar os pavimentos, os andares, isto é,
“ajustar-se e crescer para templo santo do Senhor, para morada de Deus em
Espírito” (Ef.2:21,22), “ajustar-se bem e ligar-se pelo auxílio de todas as
juntas, segundo a justa operação de cada parte, para fazer o aumento do corpo,
para sua edificação em amor” (Ef.4:16); “para edificação da casa espiritual e
sacerdócio santo, para oferta de sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por
Jesus Cristo” (I Pe.2:5).
Ora, um
tal trabalho se esgotou com a morte do apóstolo João que, pela tradição e por
inferências das Escrituras (Jo.21:22,23), foi o último dos doze a morrer, tendo
sido concluído o Novo Testamento com ele, com a redação de suas cartas, do seu
evangelho e do Apocalipse.
Temos,
então, que não há como se admitir que haja novos apóstolos depois dos doze,
pois o trabalho deles era específico, concernente à conclusão do alicerce da
Igreja, algo que se encerrou com João, quando se complementou a revelação de
Deus por Cristo Jesus.
É,
neste sentido, que, ao falar sobre os dons dados à Igreja, o apóstolo Paulo que
o Senhor Jesus deu, primeiramente, à Igreja, apóstolos (I Co.12:28) e,
posteriormente, os demais dons, a mostrar que havia uma precedência, não só de
autoridade, mas de tarefa na edificação da Igreja, porque a eles cumpria
complementar o alicerce do “edifício de Deus”. Por isso, é dito que os crentes,
logo após o início da igreja, perseveravam “na doutrina dos apóstolos”, o
primeiro fator da “koinonia” característica da igreja primitiva (At.2:42).
Esta
circunstância, ademais, é confirmada na visão que João teve da Jerusalém
celestial, a morada dos salvos. Ali, as portas são doze, cada uma com o nome de
uma das tribos de Israel, que é o povo de Deus (Ap.21:12; Rm.11:17,18). Mas,
além das portas, a cidade celeste tem um muro que tem doze fundamentos, e neles
os nomes dos doze apóstolos do Cordeiro (Ap.21:14). Por que doze? Porque depois
destes doze, não houve mais nenhum apóstolo!
Por
isso é dito que a Igreja é “apostólica”, ou seja, está baseada no ensino dos
apóstolos, que testificavam o cumprimento das Escrituras hebraicas na pessoa de
Cristo Jesus. Pertencemos, sim, a uma igreja “apostólica”, porque perseveramos
na doutrina dos apóstolos, que nada mais é que a Palavra de Deus, o testemunho
de Cristo Jesus.
Dirão
alguns que o próprio Novo Testamento chama de “apóstolos” a outros que não os
doze e Paulo, como é o caso de Barnabé (At.14:14). No entanto, aqui “apóstolo”
tem o significado de “enviado”, porque tanto Barnabé quanto Paulo haviam sido
“enviados” pela igreja de Antioquia (At.13:2,3). “Apóstolo” aqui está empregado
no seu significado primitivo, algo mais próximo ao que atualmente chamamos de
“missionário”.
A
propósito, na história da Igreja, passou-se a chamar de “apóstolo” aquele que
“enviado” por uma igreja ou até mesmo por um chamado divino, implantava igrejas
em regiões até então não evangelizadas, como é o caso de Bonifácio (672-754 ou
755), que iniciou a evangelização da Alemanha (primeiramente, por conta
própria, depois como “enviado” do Papa Gregório II) e, por isso, é intitulado
“Apóstolo dos Germanos” ou, mesmo de José de Anchieta (1534-1597), que é
chamado pelos católicos romanos de “Apóstolo do Brasil”, por ter sido um dos
principais responsáveis pela catequização dos índios no início da colonização
portuguesa em nosso país.
Trata-se,
pois, de um costume disseminado pela Igreja Romana e que, portanto, não deve
ser acolhido por quem cristão se diz ser e não aceita o romanismo, como é o
nosso caso.
Por
causa deste costume é que muitos entendem que ser “apóstolo” é ser “implantador
de igrejas”, ideia surgida ao longo da história da Igreja, mas que não tem
respaldo bíblico. O “apóstolo” é aquele que foi escolhido por Jesus para que
complementasse o fundamento da Igreja, testificasse o cumprimento das profecias
pelo ministério terreno de Jesus, tarefa que se encerrou com o apóstolo João,
por volta do ano 100. A partir de então, temos na Igreja o exercício dos demais
dons ministeriais (profetas, pastores, evangelistas e mestres), atuando o dom
ministerial apostólico através das Escrituras, do Novo Testamento, mas não mais
por pessoas escolhidas para este mister.
A
implantação de igrejas não é tarefa do apóstolo, mas, sim, do evangelista, que
pode ser um “missionário”, alguém enviado por uma igreja já instituída, como
aconteceu com Paulo e Barnabé em relação à igreja de Antioquia. Paulo, mesmo,
não se dizia apóstolo porque implantava igrejas, mas, neste aspecto de seu
ministério, dizia-se evangelista como se vê em I Co.1:17. Por isso, não podemos
considerar senão como uma adoção deste costume a consideração como “apóstolos”
de grandes homens de Deus que desbravaram regiões não evangelizadas como os
missionários Daniel Berg e Gunnar Vingren ou o indiano Sundar Sing (“o apóstolo
dos pés sangrentos” – 1889-1929).
A
AUTORIDADE APOSTÓLICA
O que
mais impressiona os “apóstolos do século XXI” é a “autoridade apostólica”, que
foi defendida por Paulo na segunda carta canônica aos coríntios. Muitos hoje
querem se intitular “apóstolos” precisamente porque querem ter a “autoridade
espiritual” que tinham os apóstolos na igreja primitiva. Quando vemos no texto
bíblico, percebemos que os apóstolos tinham uma precedência sobre pastores,
bispos, presbíteros e decorre daí, dentro desta ideia de “hierarquia
ministerial” que tem tomado conta das mentes das igrejas e denominações, a
necessidade de se dar ao “líder” o título maior, considerado como sendo o de
“apóstolo”.
Não
resta dúvida de que os apóstolos, em seu tempo, eram revestidos de uma
autoridade respeitada e que se sobrepunha aos dos demais ministros existentes
nas igrejas locais. Esta autoridade decorria do fato de que haviam sido
chamados diretamente pelo Senhor Jesus e que a eles incumbia o ministério da
Palavra e da oração.
Evidentemente
que uma tal posição lhes punha num patamar diferenciado diante dos demais
crentes, seja porque os crentes haviam se convertido por causa da pregação dos
apóstolos (At.4:33; 5:12,42), seja porque, mesmo entre aqueles que haviam
acompanhado o Senhor Jesus em Seu ministério terreno, era sabido que os doze
desfrutaram de um convívio mais íntimo com Cristo.
Contudo,
esta autoridade não se traduzia em domínio sobre a fé dos crentes, como
tencionam os “apóstolos pós-modernos”. Bem ao contrário, vemos que os apóstolos
não eram “ditadores” nem “tiranos”, mas que, mesmo tendo uma posição
diferenciada por vontade de Deus, jamais ousavam se considerar superiores aos
demais crentes.
No
episódio da instituição do diaconato, embora tenham decidido criar esta nova
função na Igreja, sem consultar os crentes, participaram sua decisão a todos os
crentes e deixaram que o povo mesmo escolhesse os diáconos, mostrando, assim,
que não estavam a transformar os crentes em meras “vaquinhas de presépio”, mas
em pessoas participantes do governo da Igreja. De igual modo, Paulo, no final
de sua primeira viagem missionária, fez com que os próprios crentes escolhessem
anciãos que ficassem à frente das igrejas locais (At.14:23).
Os
apóstolos não se consideravam superiores aos outros crentes, nem estavam
preocupados em “exercer o poder”. Sua autoridade não se manifestava em termos
de domínio, mas em demonstração do poder de Deus. Assim, demonstravam sua
posição diferenciada, seu chamado específico, não dando ordens aos crentes, nem
exigindo que estes lhe obedecessem, mas, bem ao contrário, dando sinais de seu
apostolado que, desde seu chamado no ministério terreno de Cristo, eram bem
diferentes do “mandonismo” que caracteriza os “apóstolos do século XXI”, mas
que era o poder de curar enfermidades, expulsar demônios e fazer sinais,
prodígios e maravilhas no meio do povo (At.5:12), mas também o de ter como
mensagem a pregação do Evangelho, ou seja, do cumprimento das Escrituras na
pessoa de Cristo (At.4:33; 5:42), e, por isso, o de sofrerem, inclusive
fisicamente, por causa desta ousadia no testemunho da Palavra de Deus
(At.4:23-31; 5:40,41).
Precisamente,
porque os apóstolos não dominavam sobre a fé dos demais crentes, como fazem
muitos dos “apóstolos pós-modernos” na atualidade, a Igreja não teve qualquer
solução de continuidade quando os crentes foram dispersos por ordem dos líderes
religiosos judeus, tendo os apóstolos sido mantidos em Jerusalém (At.8:1). Esta
atitude somente serviu para que os crentes disseminassem a pregação do
Evangelho e fossem constituídas igrejas em outras localidades, passando-se,
assim, a cumprir o propósito de Jesus para a Igreja (At.9:31).
O
“concílio de Jerusalém” é outro exemplo de que como a “autoridade apostólica”
não é “exercício de poder ou de mando”, mas, sim, algo bem diverso.
Os
apóstolos, diante da difícil questão a respeito da submissão dos crentes
gentios à lei de Moisés, recorreram, em primeiro lugar, a uma reunião onde
também estiveram presentes os anciãos, ou seja, os dirigentes das igrejas
locais, prova de que os apóstolos não se consideravam hierarquicamente
superiores a estes ministros do Evangelho (At.15:6).
Como se
não bastasse isso, foram buscar a direção e orientação do Espírito Santo
(At.15:28), a quem reconheceram como sendo superior na Igreja. Que diferença
para com os que se autointitulam “apóstolos” em nossos dias!
Os
apóstolos haviam aprendido com o Senhor Jesus que a posição que ocupavam na
Igreja os fazia “servidores de todos os demais crentes” (Mc.9:35). Paulo, o
abortivo, também aprendeu esta lição, tanto que se denominou para os coríntios
como “hyperetes” (I Co.4:1), ou seja, o escravo remador das trirremes romanas,
como tivemos oportunidade de estudar na lição 7 deste trimestre, e como se
encontra no brilhante estudo do presbítero Saulo Gurgel, “Hiperetes: ministro
ou escravo”, cuja leitura, uma vez mais, recomendamos (Disponível em:
http://sglima.blogspot.com/2009/12/hiperetes-ministro-ou-escravo.html Acesso em
06 fev. 2010).
João,
ao escrever o último livro da Bíblia Sagrada, apresentou-se como “vosso irmão e
companheiro na aflição, e no reino, e paciência de Jesus Cristo” (Ap.1:9),
expressão que foi assim comentada pelo pastor José Serafim de Oliveira: “…Isto
quer dizer que a mesma aflição que os crentes estavam passando, ele estava
também. Não tinha privilégios. Estava na mesma situação, no mesmo patamar, e
todos, tanto o apóstolo como os crentes, tinham a plena certeza, plena
convicção de que estavam sofrendo pela causa da justiça, pelo Reino de Deus.…”
(Desvendando o Apocalipse: o livro da revelação. São Paulo: Pr. José Serafim,
2009, p.13).
Percebe-se,
portanto, que a “autoridade apostólica” não advém de uma posição hierárquica,
não é uma questão de mando, mas era fruto da presença do poder de Deus na vida
daqueles homens que haviam sido escolhidos para anunciar, com ousadia e poder,
a Palavra de Deus, para testemunhar o cumprimento das Escrituras na pessoa de
Cristo Jesus.
Neste
sentido, também, a Igreja é apostólica, pois deve seguir os passos dos
apóstolos, deve prosseguir fazendo o que os apóstolos faziam, sendo este o
motivo pelo qual Paulo pedia aos coríntios para que fossem seus imitadores,
como ele era de Cristo (I Co.11:1).
Paulo,
quando quis provar sua condição de apóstolo, não invocou qualquer domínio sobre
a fé dos coríntios.
Pelo
contrário, logo no limiar da defesa de seu apostolado, quis deixar claro que
não tinha domínio sobre a fé daqueles crentes, porque era cooperador do gozo
deles, porque eles se mantinham em pé pela fé e não por causa da suposta
autoridade do apóstolo (II Co.1:24).
OBS:
Podemos até dizer que os versos do conhecido bolero de José Feliciano, “Sabor a
mí” trazem o verdadeiro espírito do apostolado pelos verdadeiros, genuínos e
autênticos apóstolos, a saber: “No pretendo ser tu dueño, no soy nada yo no
tengovanidad. De mi vida doylobueno, soytan pobre, que otra cosa puedo dar”
(tradução nossa: não pretendo ser seu dono, não sou nada, não tenho vaidade.
Deu o melhor da minha vida, sou tão pobre, que outra coisa poderia dar?” Ah, se
os “apóstolos do século XXI” pensassem assim…
Vemos,
pois, que a referida “autoridade apostólica”, em momento algum, pode ser
considerada uma “intermediação” entre Cristo e os membros da igreja, como tem
sido ensinado pela falsa doutrina da “cobertura apostólica”, que nada mais é
que mais uma evidência de que muitos dos “apóstolos do século XXI” nada mais
são que “falsos cristos”, pessoas que assumem indevidamente para si um papel
que cumpre única e exclusivamente a Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, qual
seja, o de ser o mediador entre Deus e os homens (I Tm.3:5).
OBS: É
interessante notar que mesmo o Papa, que se diz “Vigário de Cristo”, não toma a
liberdade de se chamar “apóstolo”, mas tão somente “sucessor do príncipe dos
apóstolos” (aliás, “Papa” significa “Pedro Apóstolo Príncipe dos Apóstolos”).
Assim, embora também seja um “falso cristo”, é menos atrevido que estes
“apóstolos pós-modernos”…
Outro
ponto que se costuma associar à ideia da “autoridade apostólica” é a
“paternidade espiritual”, considerada como uma dependência e uma relação de
obediência que deve existir entre os crentes e os “apóstolos”. Aqui também,
vemos que este conceito é despido de qualquer amparo bíblico, tanto que, na sua
própria defesa do apostolado, Paulo mostra que a “paternidade espiritual” é,
antes de mais nada, um dever do que um poder. Diz o apóstolo: “…não busco o que
é vosso, mas sim a vós; porque não devem os filhos entesourar para os pais mas
os pais para os filhos. Eu de muito boa vontade gastarei, e me deixarei gastar
pelas vossas almas, ainda que, amando-vos cada vez mais, seja menos amado” (II
Co.12:14,15).
Ser
“pai espiritual”, portanto, não é ter a obediência dos “filhos” e fazer com que
eles o sustentem. Não, não e não! Ser “pai espiritual” é ter a consciência de
que deve levar a “herança do Senhor”, que são os filhos na fé, a se apresentar
como “virgem pura a um marido, a saber, a Cristo” (II Co.11:2) e que, por isso,
deve empreender todos os esforços para que estes filhos não venham a se perder,
ainda que eles não reconheçam este amor e dedicação.
Afinal
de contas, é o pai espiritual quem deve levar o tesouro, que é o Evangelho (II
Co.4:4-6), a estes filhos e não os filhos quem devem trazer seus bens para
enriquecer os pais espirituais.
Quão
diferente é o conceito bíblico de “paternidade espiritual” do que andam
ensinando por aí, que nada mais é que indevida submissão do crente a um homem,
o que Paulo disse não ser mais admissível para quem é salvo em Cristo Jesus (I
Co.7:23). “Pai espiritual” não é quem escraviza homens com suas “fórmulas de
fé”, “visões”, “revelações”, mas, sim, quem leva Cristo Jesus aos homens, nada
querendo em troca.
A
autoridade apostólica advinha do bom testemunho dado pelos doze, pela presença
do poder de Deus através de suas vidas, pelo grande amor que devotavam aos
demais crentes, pela responsabilidade e compromisso que tinham para com a
mensagem do Evangelho e a edificação dos crentes. Como disse Paulo, os
apóstolos tinham consciência de que Deus os havia posto como os últimos, como
condenados à morte, como espetáculo ao mundo, aos anjos e aos homens. Pessoas
que não se importavam de sofrer fome, sede, nudez, ferimentos e falta de
residência fixa; pessoas que não se importavam de serem considerados o lixo
deste mundo e a escória de todos (I Co.4:11-13).
Os
“apóstolos pós-modernos” assim se consideram diante dos demais homens? Será por
isso que se intitulam “apóstolos”? Não, não e não! Como assinala, em texto
muito feliz, o pastor Ricardo Gondim, “…O que preocupa nos apóstolos
pós-modernos é ainda mais grave. Tem a ver com a nossa natureza que cobiça o
poder, que se encanta com títulos e que fez do sucesso uma filosofia ministerial.
Há uma corrida frenética acontecendo nas igrejas de quem é o maior, quem está
na vanguarda da revelação do Espírito Santo e quem ostenta a unção mais eficaz.
Tanto que os que se afoitam ao título de apóstolo são os líderes de ministérios
de grande visibilidade e que conseguem mobilizar enormes multidões. Possuem um
perfil carismático, sabem lidar com massas e, infelizmente, são ricos.” (Não
quero ser apóstolo. Disponível em:
http://www.jesussite.com.br/acervo.asp?id=1065 Acesso em 06 fev. 2010).
Esta
motivação dos “apóstolos do século XXI” faz com que se tenha a negação completa
do que vimos até aqui a respeito do apostolado. Ainda que se entendesse que o
ministério apostólico continuasse nos dias hodiernos, uma tal motivação não
encontraria guarida na Bíblia para que reconhecêssemos como legítimos apóstolos
homens que buscam poder, que se dizem superiores aos demais crentes.
Aos
doze, Jesus disse que o apostolado os tornava servos de todos os demais, não o
maior dentre os crentes; aos doze, Jesus disse que tinham de ser testemunhas
das Escrituras, não os portadores de “novas mensagens”, de “novas revelações”;
aos doze, Jesus disse que deveriam ser “revestidos de poder”, do mesmo Espírito
Santo que Ele havia assoprado sobre eles (Jo.20:22) e que serviria para
glorificar o Filho (Jo.1¨6:13,14) e não “uma nova unção”, que nos distancia da
simplicidade que há em Cristo, exatamente o que o “pai espiritual” deve impedir
que aconteça (II Co.11:3,4; Gl.1:8,9).
Ademais,
nestes “apóstolos do século XXI” não vemos os sinais que caracterizavam o
apostolado de Paulo. Paulo, para demonstrar que não inferior aos demais
apóstolos, fez questão de lembrar aos coríntios que não era rude na ciência,
anunciara de graça o evangelho de Deus, era ministro de Cristo, tinha um
currículo de sofrimentos por causa do Evangelho, não se considerar nem ser
superior a qualquer crente, bem como ter intimidade com Deus (II Co.11-12).
Nos
“apóstolos do século XX!”, no entanto, o que vemos não é coisa alguma destas
características. Como afirma o irmão batista Márcio Redondo, “…Minha
dificuldade em aceitar o movimento apostólico dos nossos dias reside em que os
‘apóstolos’ modernos não viram Jesus ressuscitado, não foram designados
pessoalmente pelo próprio Jesus, não realizam prodígios e sinais como na época
do Novo Testamento e, ao contrário dos apóstolos do século I, se preocupam com
a distribuição territorial. Minha conclusão é que tais pessoas declaram-se
apóstolos, mas na verdade nunca o foram (2 Coríntios 11.13; Apocalipse 2.2)”
(Apostolado ou apostolice. Disponível em:
http://camposdeboaz.xn.blog.br/apostolado-ou-apostolice-marcio-redondo Acesso
em 06 fev. 2010).
Com
efeito, quando olhamos para um “apóstolo” ali, vemo-lo explorando o povo
financeiramente, o que apóstolo algum faria;se olhamos para outro lá, vemo-lo
envolvido em processos criminais, com os delitos comprovados e que dão até
condenações judiciais (não no Brasil, claro, pois o Brasil é a nação da
impunidade…); se, todavia, dirigimo-nos para acolá, vemos outro “apóstolo”
lutando por territórios e por espaços na mídia, em luta insana com outras
denominações, querendo ser o “maior” na mídia; se, por fim, atentamos para
aquele que está mais para lá, vemo-lo usando de subterfúgios para “mostrar”
poder como neurolinguística, adivinhação ou emocionalismos; quando, então,
caminhamos em direção àquele outro ali, ele, baseado em sua “cobertura
apostólica”, domina a fé dos crentes, que estão ligados a ele por “alianças
espirituais”, pela “geração espiritual”, devendo ser “respeitado e obedecido”.
Como podemos, então, dizer que tais homens são apóstolos? Postos à prova,
provam não sê-lo (Ap.2:2).
Esta
“apostolice” é mais um eloquente sinal de que estamos em plena apostasia, no
ocaso de nossa dispensação. Olhemos para Jesus, o autor e consumador da nossa
fé, para que não sejamos enganados e peçamos a Deus misericórdia para que
alcancemos, no final de nossa jornada, o mais importante título que alguém pode
conseguir: o de servo. Amém!
Elaboração
pelo:- Evangelista Isaias Silva de Jesus
Igreja
Evangélica Assembléia de Deus Ministério Belém Em Dourados – MS
BIBLIOGRAFIA
Bíblia
de Estudo Genebra
http://aandremoreira.blogspot.com.br
= Caramuru Afonso Francisco
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