29 de abril de 2014

DONS DE ELOCUÇÃO



DONS DE ELOCUÇÃO

Ev. JOSÉ COSTA JUNIOR

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

A continuidade dos Dons Espirituais na história da igreja recebeu contestações, durante séculos, de grupos cessacionistas que diziam que tais dons foram dados somente durante a era apostólica, como “sinais” para credenciar os apóstolos durante o estágio inicial da pregação do evangelho. Afirmavam que esses dons não são mais necessários hoje como sinais e cessaram no final da era apostólica, provavelmente no final do primeiro século d.C. ou começo do segundo.

A Assembléia de Deus, desde sua criação, vem levantando a bandeira do pentecostalismo; a atualidade dos dons espirituais. As experiências práticas no uso dos dons espirituais e a vitalidade do culto pentecostal, esvaziaram, pela constatação prática da atuação DIVINA nas vidas de seus membros, os argumentos cessacionistas. O cenário do final do século passado e início deste século mudou. As igrejas neopentecostais e suas práticas heterodoxas, o catolicismo carismático-mariólatra e as chamadas “novidades” (unções espirituais, sopros divinos etc…) trouxeram o pêndulo da doutrina dos dons espirituais de uma extremidade cessacionista a outra: dos exageros que tangenciam a heresias.

Novamente se faz necessário levantar a bandeira do pentecostalismo, agora trazendo aos crentes uma visão mais analítica e equilibrada dos dons do ESPÍRITO SANTO, em particular agora, os de elocução.

Acreditamos nas Escrituras Sagradas como fonte completa e suficiente das palavras de DEUS para o seu povo e único instrumento em autoridade na tarefa de dar direção acerca da SUA vontade. Não obstante a isso, o dom de profecia, variedade de línguas e interpretação da mesma não é invalidado, mas sim, se mostra cooperativo com essas assertivas.

O objetivo deste estudo é trazer algumas informações, colhidas dentro da literatura evangélica, com a finalidade de ampliar a visão dos dons de elocução. Não há nenhuma pretensão de esgotar o assunto ou de dogmatizá-lo, mas apenas trazer ao professor da EBD alguns elementos e ferramentas que poderão enriquecer sua aula.


I-DOM DE PROFECIA


Registram-se dois tipos de profetas no Novo Testamento: Os que ocupam o cargo de profeta (Ef 4:11) e os que possuem o dom da profecia. Os da primeira categoria estão entre os dons de ministério; os da segunda poderiam incluir qualquer crente cheio do Espírito. Nem todos poderiam ocupar o cargo de profeta (porque “estabeleceu DEUS na Igreja, primeiramente apóstolos, em segundo lugar profetas…”), mas segundo I Coríntios 14:31, “todos podereis profetizar, um após outro”. Assim sendo, o dom da profecia não torna a pessoa um “profeta” (dom ministerial).

Entre os dons citados por Paulo em I Coríntios, a profecia é o dom mais desejável (14:1,5,24,25,39). Sua importância é indicada pelo fato de que alguma forma da palavra é encontrada vinte vezes em I Co 12 e 14. O dom da profecia é definido como: ”Mas o que profetiza…fala aos homens edificando, exortando e consolando” (I Co 14:3). A Versão Ampliada interpreta o v.3: “O que profetiza…fala aos homens para edificar, para seu progresso espiritual construtivo, encorajamento e consolo”. A previsão de eventos futuros não está associada ao dom de profecia; esta era uma função do cargo profético. O dom opera para edificar (espiritualmente) o corpo da igreja local. Quando a Igreja enfrenta um problema de omissão de fatos ou a necessidade de sabedoria para um curso prático de ação, a palavra de conhecimento ou de sabedoria pode operar em conjunto com o dom de profecia. Em geral, na operação do dom de profecia, o Espírito unge o crente para falar ao corpo de CRISTO não palavras premeditadas, mas as supridas espontaneamente pelo ESPÍRITO: para animar e encorajar, instigar à obediência e serviços fiéis, e transmitir conforto e consolo.

Quanto à autoridade do dom de profecia, sabemos que não é igual a das Escrituras Sagradas e, por conseqüência, não pode ser considerada “palavras de DEUS”. Segundo Bruce Yocum, autor pentecostal, “a profecia pode ser impura – nossos pensamentos ou idéias podem misturar-se a mensagem que recebemos – quer recebamos diretamente as palavras, quer recebamos só uma noção de mensagem”. Devemos dizer que, na prática, muita confusão resulta no costume de prefaciar profecias com frases veterotestamentárias tipo “…assim diz o SENHOR”, “eis que vos falo”, “EU SOU o DEUS que falo contigo”, “MEU servo…”, frases jamais proferidas por nenhum profeta do Novo Testamento. Isto é desastroso porque dá a impressão de que as palavras que se seguem são as palavras do próprio DEUS, enquanto o Novo Testamento não justifica tal posição. DEUS traz a mente algo que deva ser relatado a igreja e o ESPÍRITO SANTO faz com que ecoe com o máximo de poder no coração dos que precisam ouvir, sem a necessidade de revestir tais palavras com a autoridade que elas não tem. Relatar com suas palavras algo que DEUS lhe trouxe de maneira espontânea à mente não equivale à Palavra de DEUS, em autoridade.

Paulo escrevendo aos tessalonicenses diz: “não desprezeis as profecias, mas ponde tudo à prova. Retende o que é bom” (I Ts 5:20,21); Ele dá a entender que as profecias contêm alguns elementos bons e outros nem tanto quando incentiva os tessalonicenses a reter “o que é bom”. Jamais se poderia dizer isso das palavras de um profeta do Antigo Testamento ou dos ensinos autorizados de um apóstolo do Novo Testamento. A profecia é um dom valioso e atual, assim como muitos outros dons, mas é nas Escrituras que DEUS e somente DEUS nos fala com SUAS palavras, ontem como hoje, por toda nossa vida.

A intenção deste autor, quando trata do dom de profecia, não é diminuir-lhe a importância dentro da igreja hoje, mas colocá-la de acordo com a Palavra de DEUS, dentro de uma visão pentecostal equilibrada. O dom de profecia é fato e contemporâneo, mas assim como na Igreja de Corinto, ainda hoje carece, em alguns lugares, de uma iluminação Bíblica para que possa realmente edificar, exortar e consolar. Donald Gee, em Spiritual Gift for the Work of Ministry Today : Gospel Publishing House, 1963, comenta: “-Muitos de nossos erros no que diz respeito aos dons espirituais surgem quando queremos que o extraordinário e excepcional torne-se freqüente e habitual. 

Que todos os que desenvolvem um anseio excessivo por ‘mensagens’ mediante dons sejam alertados pelo naufrágio de gerações passadas, bem como contemporâneas […] As Escrituras são lâmpada para nossos pés e luz para nossos caminhos”.

II.VARIEDADE DE LÍNGUAS

Variedade de línguas é a expressão falada e sobrenatural duma língua nunca estudada pela pessoa que fala; uma palavra enunciada pelo poder do Espírito Santo, não compreendida por quem fala, e usualmente incompreensível para o ouvinte. Nada tem a ver com a facilidade de assimilar línguas estrangeiras (poliglotismo): tampouco tem a ver com o intelecto. É a manifestação da mente de Deus por intermédio dos órgãos da fala do ser humano (glossolalia).

Este dom é até certo ponto menor que o de profecia, conforme declara Paulo ao discorrer sobre os dons espirituais na igreja em Corinto: "E eu quero que todos vós faleis línguas estranhas; mas muito mais que profetizeis, porque o que profetiza é maior do que o que fala línguas..." (1 Co 14.5). Entretanto, o apóstolo ressalva: "... a não ser que também interprete".

Devemos ter em mente que está em foco a variedade, e não meramente o dom de línguas, comumente desfrutado pelos cristãos batizados com o Espírito Santo.

Alguns estudiosos explicam as línguas faladas no dia de Pentecoste como o resultado da memória sobrenatural vivificada, reproduzindo nos judeus e prosélitos frases e orações ouvidas por eles e guardadas no inconsciente, as quais precisavam usar sob circunstâncias normais.

O escritor sagrado diz que o fenômeno sobrenatural deixou todos pasmados, a ponto de dizerem: "Pois quê! Não são galileus todos esses homens que estão falando? Como pois os ouvimos, cada um, na nossa própria língua em que somos nascido?" (At 2.7,8).

O fenômeno contribuiu para destacar a universalidade da mensagem cristã, em contraste com a expressão nacional do judaísmo. Além disso, o Espírito Santo dava cumprimento a mais um vaticínio das Escrituras, que dizia: "Pelo que por lábios estranhos e por outra língua, falará a este povo" (Is 28.11). Qualquer pessoa ficaria impressionada ao ouvir de um estrangeiro algo em sua língua nativa, sem erros gramaticais e sem sotaque, e de modo eloqüente. Uma vez assim impressionada, passaria a dar maior atenção à mensagem. Depois veio o resultado: "Naquele dia, agregaram-se quase três mil almas".

O dom de variedades de línguas ocorre em pelo menos três lugares, no Novo Testamento. Apesar de não estarem essas ocorrências vinculadas a grandes concentrações de visitantes de outras terras, o Espírito Santo operou eficazmente, com demonstração de poder. Estes lugares foram:

a. Cesaréia. "E, dizendo Pedro ainda estas palavras, caiu o Espírito Santo sobre todos os que ouviam a palavra. E os fiéis que eram da circuncisão, todos quantos tinham vindo com Pedro, maravilharam-se de que o dom do Espírito Santo se derramasse também sobre os gentios. Porque os ouviam falar línguas e magnificar a Deus" (At 10.44-46).

b. Éfeso. "E, impondo-lhes Paulo as mãos, veio sobre eles o Espírito Santo; e falavam línguas e profetizavam" (At 19.6).

c. Corinto. "E a outro, a variedade de línguas; e a outro, a interpretação das línguas..." (1 Co 12.10).

É possível que Paulo, ao falar sobre "línguas dos homens e dos anjos", em 1 Coríntios 13.1, estivesse aludindo ao dom de variedade de línguas - exatamente como aconteceu no dia de Pentecoste, onde "foram vistas por eles línguas repartidas, como que de fogo".

O dom de variedade de línguas possibilita a expressão, por meios sobrenaturais, de línguas estrangeiras, naturais e humanas, e também de algum idioma celestial. Depende da necessidade e vontade do Espírito Santo (At 2.4).

O dom de variedade de línguas tem sido comumente chamado pelos teólogos de "glossolalia", e particularmente de "línguas estranhas" pelos cristãos em geral. Inúmeras vezes Deus, através deste dom e de sua interpretação, tem edificado, exortado e consolado milhares de pessoas na igreja e até fora dela.

A igreja em Corinto foi agraciada por Deus com todos os dons já manifestos pelo Espírito Santo, a ponto de o apóstolo Paulo comentar: "Porque em tudo fostes enriquecidos nele, em toda a palavra e em todo o conhecimento (como foi mesmo o testemunho de Cristo confirmado entre vós). De maneira que nenhum dom vos falta..." (1 Co 1.5-7).

Deus se manifestava e falava de diversas maneiras. Falava por "meio da revelação, ou da ciência, ou da profecia, ou da doutrina". Em outras ocasiões, Deus também falava por meio de "salmos... de línguas e sua interpretação". Outros dons do Espírito Santo eram também manifestos para exaltar o nome de Jesus como Senhor.

O apóstolo mostra a harmoniosa sintonia entre os dons, cooperando cada um em determinada área da igreja, de acordo com a distribuição feita pelo Espírito Santo: como o corpo, sendo um mas composto de muitos membros com funções diferentes (1 Co 12.12-27). Nenhum membro deve ser desprezado ou considerado "mais fraco" ou "menos honroso" - todos são necessários.

III.INTERPRETAÇÃO DE LÍNGUAS

A razão deste dom está em 1 Coríntios 14.5: "Para que a igreja seja edificada"; "Não havendo interpretação, fique calado... falando consigo mesmo e com Deus" (1 Co 14.28).

A pergunta pentecostal feita por Paulo não afirma nem ordena que todas as línguas estranhas sejam interpretadas, mas ensina que seja o uso regularizado pela doutrina. Como exemplo e para melhor compreensão do assunto, temos os Capítulos 12, 13 e 14 da Primeira Carta aos Coríntios, que se ocupam exclusivamente dos dons espirituais.

Alguns indoutos, que são inimigos da obra pentecostal, estão sempre a firmar que é necessário que as línguas estranhas sejam interpretadas e, para isso, citam I Coríntios 14.13, sem observar o que está escrito no versículo anterior, 14.11: "Se eu ignorar o sentido da voz, serei bárbaro". Perguntaríamos por que se preocupam tanto essas pessoas com os dons espirituais se elas não crêem na obra do Espírito Santo?

"Interpretam todos?" Paulo não estava proibindo o uso deste maravilho dom, mas ensinando aos que não sabiam usá-lo, ou seja, estava corrigindo o abuso. Não há uma regra bíblica que nos obrigue a interpretar ou deixar de interpretar línguas estranhas. Quando o nosso espírito fala mistérios com Deus em línguas estranhas, elas não precisam ser interpretadas. Por outro lado, quando uma expressão em línguas é interpretada, é Deus que fala ao homem. Não esqueçamos de que é pelo dom de profecia que Deus fala ao povo. Sobre os dons espirituais, Donald Gee, grande doutrinador, em linhas gerais diz: "O propósito de dom de interpretar é tornar as enunciações conhecidas dos ouvintes, tornando-se compreensíveis a todos, pela interpretação".

A interpretação de línguas estranhas como dom vem por revelação e por inspiração em momentos de consagração e de profunda comunhão com Deus, quando o que fala é tomado pelo Espírito. Não se pode admitir que àquele que interpreta seja necessário o conhecimento de outras línguas naturais, como alguns entendem.

O cuidado de Paulo de fazer a pergunta pentecostal é evitar o "sonido incerto" (I Co 14.8). Por esse motivo acrescenta: "Se não houver interprete, esteja calado, e fale consigo mesmo e com Deus" (II Co 14.28). E para evitar que a igreja metodizasse em forma mecânica o dom de línguas, diz Paulo: "Não proibais falar línguas" (I Co 14.39).

"Interpretam todos?" — "Não!" é a resposta certa. Acontece, porém, que o Espírito Santo é soberano, Ele faz "como quer" (I Co 12.11). Pode acontecer que uma mensagem profética venha através de línguas com o dom de interpretação. Não podemos ensinar que o interprete seja um profeta, pois ele foi, apenas, usado por Deus através do dom de interpretação. Cremos que os dons são distintos em sua operação, e que o dom normal para transmitir uma mensagem profética é o dom de profecia, mas tudo de acordo com o que está escrito: "Ele faz como quer" (I Co 12.11).

Assim sendo, em resposta à pergunta de Paulo, o uso desse dom é uma necessidade na Igreja, como também o uso dos demais dons. Portanto, haja maiores aplicações desse dom maravilhoso na igreja, para edificação. Outrossim, quando o nosso espírito fala mistérios com Deus em línguas estranhas, elas não precisam ser interpretadas.


O capítulo 13 de I Coríntios caracteriza aqueles que recebem os dons, dando condições para o Espírito Santo operar: "o amor". Não havendo esta característica a operação é considerada como "metal que soa... sino que retine" (I Co 13.1). O capítulo 14 regulariza pela doutrina o uso dos dons, especificando o seu valor para edificação da Igreja.

CONCLUSÃO

Na confecção deste pequeno estudo, buscamos consultar literatura que mais se aproxima com o pensamento de nossa denominação, tentando não perder a coerência teológica. Evitamos expressar conceitos e opiniões pessoais sem o devido embasamento na Palavra, pois a finalidade é agregar conhecimentos, enriquecer a aula da escola dominical e proporcionar ao professor domínio sobre a matéria em tela. Caso alcance tais finalidades, agradeço ao meu DEUS por esta grandiosa oportunidade.



                                                       Ev. JOSÉ COSTA JUNIOR

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