O
LEGADO DE MOISÉS
TEXTO
ÁUREO = Era Moisés da idade de cento e vinte anos
quando morreu; os seus olhos nunca se escureceram, nem perdeu ele o seu
vigor” ( Dt 34.7).
VERDADE
PRATICA = Moisés
foi usado por Deus para tirar Israel do Egito e entregar os Dez Mandamentos
para a humanidade.
LEITURA
BIBLICA = Deuteronômio 34: 10-12 = Hebreus 11: 2-29
O
LEGADO DE MOISÉS
Moisés foi, sem dúvida alguma, uma das maiores
personalidades e um dos maiores heróis da fé de todos os tempos. O seu legado
para o povo de Israel, para a humanidade como um todo e para a Igreja até os
dias de hoje é enorme. Neste capítulo, dentro do que nossa proposta sintética
permite, queremos apresentar alguns pontos importantíssimos desse legado,
relembrando aspectos especiais e inspiradores da vida e da obra desse homem de
Deus, destacando os efeitos de seu ministério até os nossos dias e a
importância do exemplo de Moisés para os crentes em Cristo de todos os tempos.
Primeiro, falaremos do legado de Moisés para o
povo judeu; em seguida, de sua importância para a humanidade como um todo; e,
por fim, e mais atentamente, analisaremos os exemplos instigantes de sua vida e
ministério para a vida do crente.
O
Legado de Moisés para o Povo Judeu
A
formação de uma nação
Moisés foi o instrumento que Deus usou para que
Israel se tornasse, enfim, uma nação, conforme Ele havia prometido aos
patriarcas Abraão, Isaque e Jacó (Gn 15.5,7; 17.5-8; 26.3,4,24; 28.4,13-15;
35.9-13). Toda nação precisa de uma identidade, de uma cultura própria, de uma
língua, de valores, de leis pelas quais serão regidos, e Moisés foi usado por
Deus para dar tudo isso a Israel.
Por meio de seu ministério, a identidade religiosa
e os valores que deveriam pautar e guiar o povo foram definidos em detalhes;
uma cultura nova foi formada, diferente em muitos aspectos da cultura das
nações vizinhas; a língua hebraica ganhou o seu primeiro grande texto a Torá (o Pentateuco) — que lhe daria
perpetuidade e ser-lhe-ia referência na história dos povos; e uma legislação
revolucionária e um completo sistema de organização social foram concedidos aos
israelitas, que, agora, finalmente, podiam se perceber e ser reconhecidos como
uma nação, um novo povo.
Mesmo quando sofreu o exílio e a diáspora, Israel
continuou a ser reconhecido como uma nação, conquanto seu território tenha
passado, durante séculos, sem a sua presença maciça ou o seu governo.
“Moisés
foi o instrumento que Deus usou para que Israel se tornasse, enfim, uma nação,
conforme Ele havia prometido aos patriarcas Abraão, Isa que e Jacó.”
Uma
fé e uma religião estruturadas
O Deus de Israel era o Deus de Abraão, Isaque e
Jacó, porém a fé e o culto hebreus ainda careciam de uma normatização e
organização, até que Deus os estruturou, por intermédio de Moisés, como vimos
detidamente nos capítulos 9, 11 e 12 deste livro. Em Romanos 9.4,5, o apóstolo
Paulo lembra que Deus deu a Israel sete coisas: tornou os israelitas seus
filhos por adoção, repartiu com eles um pouco da sua glória, fez-lhes uma
aliança e deu-lhes os patriarcas (Abraão, Isaque e Jacó), a legislação, o culto
e as promessas; e ainda, por meio deles, o Messias, Jesus (Rm 9.5). Tudo isso é
o que distinguia Israel das outras nações, fazendo dele o povo eleito. Porém,
como sabemos, houve a rejeição de Israel à vontade de Deus e, consequentemente
a rejeição divina a Israel, que são os temas dos capítulos 9 a 11 de Romanos,
os quais terminam revelando que a rejeição de Israel não é final e que Deus
haverá de restaurar Israel no fim dos tempos (Rm 11.25-28).
As Escrituras Sagradas do Pentateuco, um salmo e,
provavelmente, o Livro de Já
O grande legado de Moisés está expresso em suas
obras que atravessaram séculos, chegando até os nossos dias e formando parte
significativa e basilar do cânone veterotestamentário. São de Moisés o
Pentateuco (Génesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio), o Salmo 90 (que
é, portanto, o mais antigo salmo de Israel) e provavelmente também o belíssimo
Livro de Jó. A riqueza e a importância histórica, social, espiritual e
literária dessas obras para o mundo revelam a grandeza do ministério desse
grande homem de Deus para o seu povo e para toda a humanidade.
O
Legado de Moisés para a Humanidade
A
legislação hebraica
Já nos dedicamos, no capítulo 10, a demonstrar
alguns dos muitos aspectos revolucionários da legislação hebraica para a
história do Direito no mundo. Ela foi revolucionária para a sua época e, tempos
depois, serviria de inspiração para muitos avanços legais saudáveis com os
quais já estamos muito habituados em nossos dias, mas que, na época de Moisés,
se constituíam uma grande inovação. Dentre seus muitos aspectos
revolucionários, a legislação hebraica, por exemplo, “atribuía um grande valor
à vida humana, exigia um grande respeito para com a honra da mulher e conferia
mais dignidade à posição do escravo do que poderíamos encontrar em qualquer um
dos códigos legais das outras nações do Oriente Próximo”. Mais detalhes no já
referido capítulo 10.
Os
valores judaicos
Não à toa, costuma-se chamar os valores
tradicionais do Ocidente, que foram responsáveis pela sua formação e se
constituem a base de todas as suas conquistas, de valores judaico-cristãos. Os
princípios do Decálogo (Êx 20.1-17), por exemplo, ajudaram a moldar todos os
valores do Ocidente, juntamente com o cristianismo.
O
Legado de Moisés para a Igreja
Seu
exemplo de fé
Ao elaborar uma “Galeria de Heróis da Fé” do
Antigo Testamento, o escritor da Epístola aos Hebreus coloca entre os seus
destaques, como não poderia deixar de ser, Moisés (Hb 11.23-29). Chama a
atenção, na descrição que ele faz do grande líder hebreu, principalmente o que
lemos nos versículos 24 a 27:
Pela fé, Moisés, sendo já grande, recusou ser
chamado filho da filha de Faraó, escolhendo, antes, ser maltratado com o povo
de Deus do que, por um pouco de tempo, ter o gozo do pecado; tendo, por maiores
riquezas o vitupério de Cristo do que os tesouros do Egito, porque tinha em
vista a recompensa.
Pela fé, deixou o Egito, não temendo a ira do rei; porque
ficou firme, como vendo o invisível.
Somente um homem que ama e serve a Deus com uma fé
robusta rejeita completamente as riquezas e a glória do mundo, preferindo
sofrer fazendo a obra do Senhor. Moisés não tomava as suas decisões baseado
simplesmente no que a lógica humana e os seus cinco sentidos lhe diziam, mas
tinha em vista a importância histórica e espiritual do que estava fazendo e “a
recompensa” que receberia do seu Senhor pela sua fidelidade ao seu chamado. Ele
via além do que poderia perceber a maioria das pessoas do seu tempo, porque ele
via “o invisível”.
Ademais, somente um homem que ama e serve a Deus
com uma fé robusta não empalidece diante das adversidades mais intensas, não
esmorece diante dos poderosos e das circunstâncias prementes que o pressionam a
abandonar a vontade divina.
A Bíblia diz que Moisés desprezou completamente “a
ira do rei”, a oposição dos grandes e poderosos deste mundo, e “ficou firme”,
porque está “vendo o invisível”.
“Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se
esperam e a prova das coisas que se não veem” (Hb 11.1).
“O
grande legado de Moisés está expresso em suas obras que atravessaram séculos,
chegando até os nossos dias e formando parte significativa e basilar do cânone
veterotestamentário”
Seu
exemplo de liderança
Moisés foi um líder notável, que agüentou o que
pouquíssimos — ou ninguém em sua época agüentaria. Ele guiou brilhantemente
milhões de pessoas pelo deserto, resistiu à oposição com firmeza; soube superar
os momentos de crise, tensão, desânimo e revolta; levou o povo ao
arrependimento várias vezes; organizou aqueles ex-escravos como uma sociedade;
deu a eles uma identidade como nação; soube ouvir os conselhos de seu sogro,
Jetro, (Êx 18.13-27) e preparou muito bem o seu sucessor — Josué.
Seu
exemplo de paciência
Números 12.3 nos lembra que “era o varão Moisés
mui manso, mais do que todos os homens que havia sobre a terra”.
E era
preciso ser muito temperante mesmo para suportar todas as adversidades e
pressões que ele enfrentou. Aliás, isso mostra quão poderosa foi a
transformação que Deus fez em Moisés, que antes fora precipitado e assassino
(Êx 2.11-13).
O termo hebraico traduzido por “manso” em Números
12.3 é ‘ãnáw, que significa “humilde”, “pobre”, “simples”. No sentido em que
ele é usado aqui, descreve, segundo o Dicionário Vine, “a condição objetiva e
também a postura subjetiva de Moisés” como um homem “completamente dependente
de Deus” e que “via o que era”.2 O fato de Moisés, mesmo tendo tanto
autocontrole que Deus lhe dava, não ter entrado na Terra Prometida com o povo
justamente porque pecou ao perder o controle, fazendo algo diferente do que
Deus lhe determinara (Nm 20.7-12), só evidencia o quanto somos dependentes da
graça de Deus.
Mesmo um homem impetuoso e assassino como o jovem
Moisés pode se tornar, quarenta anos depois, um homem extremamente manso e
humilde, em virtude da graça transformadora de Deus; e mesmo o homem mais
humilde e manso da Terra pela graça de Deus pode ter momentos de fraqueza e
perder seu autocontrole se não tiver cuidado, como aconteceu com Moisés. Súmula
da história: somos dependentes da graça divina, do poder do Espírito Santo,
tanto para desenvolvermos a temperança quanto para mantermo-nos no centro da
vontade de Deus, humildes e temperantes, sejam quais forem as circunstâncias.
Não por acaso, a temperança é apresentada na
Bíblia como um dos gomos do fruto do Espírito, que se chama fruto do Espírito
exatamente porque é produzido em nós pela ação do Espírito Santo de Deus, isto
é, quando nos entregamos à ação dEle em nossa vida (Gi 5.22,23).
Que Deus nos dê graça para seguirmos o bom exemplo
desse homem de Deus, que, tirando o episódio das águas de Meribá (Nm 20.7-13),
durante seus quarenta anos de ministério, nada fez “por contenda ou por
vanglória, mas por humildade” (Fp 1.3) e zelo ardente pela obra de Deus.
Seu
exemplo como intercessor
Moisés foi grande sacerdote do povo juntamente com
Arão, e primeiro que ele (Si 99.6). Ele intercedeu decisivamente pelo povo de
Israel em momentos de enorme crise (Êx 15.25; 33.1-17; Nm 14.13-25).
Seu
exemplo de integridade
Moisés teve muitas oportunidades de corromper a
sua integridade, mas escolheu manter-se íntegro. Ele, por exemplo, preferiu
sofrer com o povo de Israel a gozar a glória e os prazeres do Egito, sendo fiel
ao seu chamado (Hb 11.24-26).
Seu
exemplo de persistência
Apesar de tantos momentos dificeis que Moisés
vivenciou em sua trajetória espiritual, ele permaneceu firme, porque estava
“vendo o invisível” (Hb 11.27). Sua persistência era derivada diretamente de
sua fé em Deus. Como sublinha a Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal, “é fácil
ser enganado pelos benefícios temporários da riqueza, da popularidade, da
posição social e da conquista, e ficar cego em relação aos benefícios de longo
prazo do Reino de Deus.
A fé nos ajuda a olhar além do sistema de valores
do mundo, para que possamos enxergar os valores eternos do Reino de Deus”.
Seu
exemplo de comunhão com Deus
A Bíblia nos mostra que Moisés cultivava uma vida
de oração, mantendo um relacionamento muito íntimo com Deus: “Falava o Senhor a
Moisés face a face, como qualquer fala com o seu amigo” (Êx 33.11). Como frisa
Matthew Henry, “isto sugere que Deus se revelou a Moisés, não só com clareza e
evidências maiores da luz divina do que a qualquer outro dos profetas, mas
também com expressões particulares e ainda maiores de bondade e graça. Ele fala
não como um príncipe a um súdito, mas como qualquer fala com o seu amigo, a
quem ama”.
Deus também quer ter hoje um relacionamento íntimo
conosco! Como destaca a Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal, “Moisés desfrutou
tal favor de Deus não porque era perfeito, genial ou poderoso, mas porque Deus
o escolheu. Por sua vez, Moisés confiou inteiramente na sabedoria e direção de
Deus. A amizade com Deus era um verdadeiro privilégio para Moisés, e estava
[nesse nível] fora do alcance dos hebreus. Mas, hoje, ela não é inalcançável
para nós. Jesus chamou seus discípulos e, por extensão, todos os seus
seguidores — de amigos (Jo 15.15). Ele o chamou para ser seu amigo. Você
confiaria nEle como fez Moisés?”.
O
Cântico de Moises
A Bíblia afirma que quando o povo estava para
entrar em Canaá, Deus deu ordem a Moisés para que compusesse um cântico
contendo um resumo de sua exortação ao povo e o ensinasse aos filhos de Israel
(Dt 31.19). Deus sabia que os cânticos podem ser aprendidos e transmitidos com
facilidade, por isso os viu como um meio perfeito para que a sua exortação
fosse gravada na mente do seu povo. Deus sabia que a sua exortação seria mais
eficientemente ensinada e lembrada dessa forma, pois, sendo cantada, estaria
“na boca do povo” (“ensinai-o [...] ponde-o na sua boca”). Esse cântico está
registrado em Deuteronômio 32.1-43.
Depois de apresentá-lo a Israel, Moisés disse:
“Aplicai o vosso coração a todas as palavras que hoje testifico entre vós, para
que as recomendeis a vossos filhos, para que tenham cuidado de cumprir todas as
palavras desta lei. Porque esta palavra não vos é vã; antes, é a vossa vida”
(Dt 32.46,47, grifo meu).
“É a vossa vida!” Verdades vitais condensadas em
um hino; a vida condensada em um hino.
Ainda hoje, hinos, quando inspirados por Deus,
sáo, por assim dizer, pequenas cápsulas de vida condensada, tendo o poder de
renovar corações mortificados, aquecer corações arrefecidos e liquefazer almas
empedernidas. Assim como, quando uma canção é eivada de conteúdo maligno, é uma
cápsula de veneno e morte condensados.
As
Profecias de Moisés
Profecia
sobre Jesus
Em Deuteronômio 18.15, Moisés profetizou sobre
Jesus, referindo-se a Ele como “um profeta do meio de ti, de teus irmãos, como
eu; a ele ouvireis”.
O texto de Deuteronômio 18.15-22 fala
implicitamente de mais de um profeta — ou seja, o termo “profeta” ali aparece,
em alguns momentos, em alusão a uma sucessão de profetas que Deus levantaria
para tratar com Israel. Porém, o versículo 15 parece se referir a um profeta
especial, de maneira que, durante séculos, os judeus estiveram a procurar esse
“O Profeta” pós-Moisés, como destacam textos como João 1.21 e 7.40, quando os
judeus se perguntavam se João Batista ou Jesus seriam esse “O Profeta”, O
apóstolo Pedro, em sua pregação no Dia de Pentecostes, e o diácono Estêvão,
primeiro mártir da Igreja, em seu discurso diante de seus algozes em Jerusalém,
mencionaram essa profecia como tendo o seu cumprimento em Jesus (At 7.37).
Profecias
sobre o destino de cada uma das doze tribos de Israel
Como Isaque e Jacó abençoaram seus respectivos
filhos antes de morrer, Moisés, sob a orientação do Espírito Santo, abençoou os
filhos de Israel antes de falecer (Dt 33.1-29). O detalhe é que, ao invocar as
bênçãos conforme as tribos de Israel, Moisés omite Simeão, que seria absorvida
pela tribo de Judá Os 19.2-9), mas o número 12 é preservado contando-se José
como sendo dois — Efraim e Manassés, seus dois filhos (Dt 33.17). As primeiras
tribos a serem abençoadas são as correspondentes aos filhos de Jacó com suas
esposas Leia e Raquel; em seguida, é a vez das tribos correspondentes aos
filhos de Israel com suas servas Bila e Zilpa.
Como ressalta a Bíblia de Estudo Aplicação
Pessoal, o que chama mais a atenção nessas bênçãos de Moisés sobre as doze
tribos é “a diferença entre as bênçãos que Deus deu a cada tribo: para uma, Ele
deu a melhor terra; e para outra, força ou segurança”.
Isso nos faz lembrar que muita gente, com
frequência, ao ver alguém com uma bênção específica, pensa que “Deus deve amar
aquela pessoa mais do que outra”, mas a verdade é que “Deus distribui talentos
únicos às pessoas. Todos esses talentos são necessários para que seu plano seja
realizado”. Portanto, “não tenha inveja dos dons ou presentes que as pessoas
recebem de Deus.
Olhe para o que Deus tem dado a você e cumpra as
tarefas que Ele o qualificou de maneira única para realizar”. Outro detalhe é
que a tribo de Gade recebeu a melhor parte da terra (Dt 33.20,2 1), mas isso
tem uma razão de ser: Gade “obedeceu a Deus punindo os malignos inimigos de
Israel”.
A
Morte de Moisés
A Bíblia diz que quando Moisés faleceu, ele estava
com 120 anos, que era uma idade já bem longeva para os padrões da época,
conforme depoimento do próprio Moisés (Sl 90.10). Não obstante, “os seus olhos
nunca se escureceram, nem perdeu ele o seu vigor” (Dt 34.7).
O último capítulo de Deuteronômio, que é o único
capítulo do Pentateuco que não foi escrito por Moisés, registra que, após a
morte do legislador de Israel, o reconhecimento e o amor do povo era tão grande
por ele que “os filhos de Israel prantearam a Moisés trinta dias, nas campinas
de Moabe” (Dt 34.8).
O relato que Flávio Josefo, historiador judeu do
primeiro século d.C., faz das reações do povo de Israel e do próprio Moisés por
ocasião de sua despedida conforme a tradição que havia sido passada aos judeus
até os dias do célebre historiador, é extremamente tocante. Claro que,
eventualmente, pode haver um ou outro exagero aqui e acolá nesse relato, mas
não se pode duvidar que muito dessa narrativa, que reproduzimos a seguir e que
atravessou gerações, é carregado de verdade. Vale a pena lê-la:
Depois que Moisés assim lhes falou, predisse a
cada uma das tribos o que lhes deveria acontecer e desejou-lhes mil bênçãos.
Toda essa enorme multidão não pôde por mais tempo reter as lágrimas; homens e
mulheres, grandes e pequenos, demonstraram igualmente sua pena por perder um
chefe tão ilustre; não houve nem mesmo criança que não derramasse lágrimas; sua
eminente virtude não podia ser ignorada nem mesmo pelos dessa idade. As pessoas
sensatas, umas deploravam a gravidade de sua perda para o futuro e outras
queixavam-se de não terem compreendido bastante que felicidade era para ele ter
um tal chefe e guia e serem privados dele quando o começavam a conhecer.
Nada, porém, demonstrou até que ponto chegava sua
aflição como o que aconteceu a esse grande legislador. Pois ainda que ele
estivesse persuadido de que não era necessário chorar à hora da morte, pois ela
vem por vontade de Deus e por uma lei indispensável da natureza, ele, no
entanto, ficou tão comovido pelas lágrimas de todo o povo que ele mesmo não
pôde deixar de chorar.
Caminhou depois para onde deveria terminar a vida
e todos seguiram-no gemendo. Ele fez sinal com a mão aos que estavam mais
afastados para que parassem e rogou aos que estavam mais próximos que não o
afligissem mais ainda seguindo-o com tantas demonstrações de afeto. Assim, para
obedecer, eles pararam e todos, juntamente lamentavam sua infelicidade por tão
grande perda.
Os senadores [anciãos], Eleazar, o
grão-sacrificador [sumo sacerdotel, e Josué, o comandante do exército, foram os
únicos que o acompanharam. Quando ele chegou ao monte Nebo, que está em frente
a Jericó, tão alto que de lá se vê todo o país de Canaã, despediu-se dos
senadores [anciãos], abraçou a Eleazar e Josué, e deu-lhes seu último adeus.
Ainda ele falava quando uma nuvem o rodeou e ele foi levado a um vale. Os
livros santos que ele nos deixou dizem que morreu porque temia que não se
acreditasse que ele ainda estaria vivo, arrebatado ao céu, por causa da sua
eminente santidade. Faltava somente um mês para que, dos cento e vinte anos que
viveu, ele passasse quarenta no governo de todo esse grande povo, cuja direção
Deus lhe havia confiado. Ele morreu no primeiro dia do último mês do ano, que
os macedônios chamam Dystros e os hebreus, Adar.
Jamais homem algum igualou em sabedoria a este
ilustre legislador, jamais alguém soube, como ele, tomar sempre as melhores
resoluções e tão bem pô-las em prática; jamais algum outro se lhe pôde comparar
na maneira de tratar com um povo, governá-lo e persuadi-lo, pela força de suas
palavras. Sempre foi tão senhor de suas paixões que parecia até que delas havia
sido isento e que as conhecia apenas pelos efeitos que via nos outros.
Sua ciência na guerra pôde dar-lhe um lugar entre
os maiores generais e nenhum outro teve o dom de profecia em tão alto grau;
suas palavras eram outros tantos oráculos, e parecia que o próprio Deus falava
por sua boca. O povo chorou-o durante trinta dias e nenhuma outra perda lhe foi
jamais tão sensível. Mas ele não foi chorado somente por aqueles que tiveram a
felicidade de o conhecer, mas também por aqueles que conheceram as leis
admiráveis que ele nos deixou, porque a santidade que nelas se nota não pode
permitir dúvidas sobre a eminente virtude do legislador.7
Não sabemos onde a sepultura de Moisés se encontra
— aliás, ninguém sabe, desde aquela época (Dt 34.6b) até hoje. A única
informação é que Deus mesmo o sepultou “num vale, na terra de Moabe, defronte
de Bete-Peor” (Dt 34.6a).
Deus fez com que sua sepultura nunca fosse
encontrada para que, provavelmente, não se criasse uma idolatria e romaria em
torno do túmulo de seu servo.
O apóstolo Judas nos fala da altercação do arcanjo
Miguel com Satanás sobre o corpo de Moisés (Jd 9). Não sabemos o porquê do
interesse de Satanás pelo corpo de Moisés, mas a tradição judaica afirma que
tal altercação se deu porque Satanás sustentava que Moisés não era digno de um
sepultamento decente, ainda mais feito pelo próprio Deus, por ter sido um
homicida em sua juventude (Êx 2.11,12). Miguel, que guardava o corpo de Moisés,
apenas lhe respondeu: “O Senhor te repreenda”.
O exemplo de Moisés como líder e homem de Deus
nunca será esquecido. Sobretudo pelos últimos quarenta anos de sua vida, ele
sempre será lembrado como um exemplo de fé, vida de santidade, seriedade,
liderança, sabedoria, paciência, fidelidade ao chamado divino e vida dedicada
totalmente ao Senhor.
Como escreveu o autor da Epístola aos Hebreus,
referindo-se à nossa responsabilidade hoje diante do que fizeram os grandes heróis
da fé do Antigo Testamento, dentre eles Moisés (Hb 11.23-29), “nós também,
pois, que estamos rodeados de uma tão grande nuvem de testemunhas [os heróis da
fé do Antigo Testamento], deixemos todo embaraço e o pecado que tão de perto
nos rodeia e corramos, com paciência, a carreira que nos está proposta, olhando
para Jesus, autor e consumador da fé” (Hb 12.1,2). Amém!
Elaboração pelo:- Evangelista Isaias Silva de
Jesus
Igreja Evangélica Assembléia de Deus Ministério
Belém Em Dourados – MS
Livro Uma Jornada de Fé = PAD = Alexandre Coelho e
Silas Daniel
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