19 de março de 2014

A CONSAGRAÇÃO DOS SACERDOTES



A CONSAGRAÇÃO DOS SACERDOTES

Ev. JOSÉ COSTA JUNIOR

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

A cerimônia em que se consagravam os sacerdotes era celebrada na presença de todo o povo. Moisés ministrava como sacerdote oficiante. Todos os pormenores da cerimônia assinalam a transcendência de Deus. Ele está com seu povo, porém este não deve tratá-lo com familiaridade. Somente podem aproximar-se dele pelos meios que ele prescreve. O pecado impede aos homens o aproximar-se da presença divina. Os sacerdotes e tudo o que eles empregavam tinham de ser consagrados ao serviço divino. Portanto, Aarão e seus filhos tinham de estar devidamente limpos e ataviados e deviam ter expiado seus pecados antes de assumirem os deveres sacerdotais. O Deus vivente não é uma imagem impotente à qual os homens prestam culto segundo suas ideias. Somente ele é quem determina os "requisitos segundo os quais lhe é possível habitar com seu povo". Em uma cerimônia impressionante e muito bem preparada, Aarão e seus filhos foram ordenados para o sacerdócio.

            O objetivo deste estudo é trazer algumas informações, extraídos dos comentários de Charles H. Mackintosh (1820 - 1896) e do livro “El Pentateuco” de Paul Hoff, com a finalidade de ampliar a visão sobre o assunto em tela. Não há nenhuma pretensão de esgotar o assunto ou de dogmatizá-lo, mas apenas trazer ao professor da EBD alguns elementos, pontos de vista e ferramentas que poderão enriquecer sua aula.


 I. A CERIMÔNIA DE CONSAGRAÇÃO SACERDOTAL

Entendemos que Arão e seus filhos representam Cristo e a Igreja, porém nos primeiros versículos deste capítulo é dado o primeiro lugar a Arão. "Então, farás chegar Arão e seus filhos à porta da tenda da congregação e os lavarás com água" (versículo 4). A lavagem da água tornava Arão simbolicamente aquilo que Cristo é intrinseca¬mente, isto é: santo.
A Igreja é santa em virtude de estar ligada a Cristo na vida de ressurreição. Ele é a definição perfeita daquilo que ela é perante Deus. O ato cerimonial da lavagem da água representa a ação da palavra de Deus (veja-se Ef 5:26).

"E por eles me santifico a mim mesmo, para que também eles sejam santificados na verdade" (Jo 17:19), disse o Senhor Jesus. Separou-Se para Deus no poder de uma perfeita obediência, orientando-Se em todas as coisas, como homem, pela Palavra, mediante o Espírito eterno, a fim de que todos aqueles que são d'Ele pudessem ser inteiramente separados pelo poder moral da verdade.

E tomarás o azeite da unção e o derramarás sobre a sua cabeça " (versículo 7). Nestas palavras temos o Espírito, mas é preciso notar que Arão foi ungido antes de o sangue ser derramado, porque nos é apresentado como figura de Cristo, que, em virtude daquilo que era em Sua Própria Pessoa, foi ungido com o Espírito Santo muito antes que fosse cumprida a obra da cruz.

Em contrapartida, os filhos de Arão não foram ungidos senão depois de ser espargido o sangue, "degolarás o carneiro, e tomarás do seu sangue, e o porás sobre a ponta da orelha direita de Arão,e sobre a ponta da orelha direita de seus filhos, como também sobre o dedo polegar da sua mão direita, e sobre o dedo polegar do seu pé direito: e o resto do sangue espalharás sobre o altar ao redor" (¹). "Então, tomarás do sangue que estará sobre os altar e do azeite da unção e o espargirás sobre Arão e sobre as suas vestes e sobre seus filhos, e sobre os as vestes de seus filhos com ele" (versículos 20 e 21). No que diz respeito à Igreja, o sangue da cruz é o fundamento de tudo. Ela não podia ser ungida com o Espírito Santo até que a sua Cabeça ressuscitada tivesse subido ao céu e depositado sobre o trono da Majestade divina o relato do sacrifício que havia oferecido. "Deus ressuscitou a este Jesus, do que todos nós somos testemunhas. De sorte que, exaltado pela destra de Deus, e tendo recebido do Pai e promessa do Espírito Santo, derramou isto que vós agora vedes e ouvis" (At 2:32-33); comparem-se também (Jo 7:39; At 19:1 - 6). Desde os dias de Abel que haviam sido regeneradas almas pelo Espírito Santo e experimenta¬do a Sua influência, sobre as quais operou e a quem qualificou para o serviço; porém a Igreja não podia ser ungida com o Espírito Santo até que o Seu Senhor tivesse entrado vitorioso no céu e recebesse para ela a promessa do Pai. 

A verdade desta doutrina é ensinada, da forma mais direta e completa, em todo o Novo Testamento; e a sua integridade estreita é mantida, em figura, no símbolo que temos perante nós, pelo fato claro que, embora Arão fosse ungido antes de o sangue haver sido derramado (versículo 7), contudo os seus filhos não o foram, e não podiam ser ungidos senão depois (versículo 21).

Para os sacrifícios de consagração, as ofertas foram de quase todas as classes nomeadas por Deus.
A oferta pelo pecado, o novilho da expiação, deu aos sacerdotes "uma expressão oportuna de seu sentido de indignidade, uma confissão pública e solene de seus pecados pessoais e a transferência de sua culpa à vítima típica". O carneiro do holocausto servia para mostrar que os sacerdotes se consagravam inteiramente ao serviço do Senhor. A oferta de paz, o carneiro das consagrações, dava a entender a gratidão que os sacerdotes sentiam ao entrar no serviço de Deus.

Aarão e seus filhos punham as mãos sobre os animais oferecidos em sacrifício, mostrando assim que eles se ofereciam a Deus.

II. O SACERDÓCIO DE CRISTO

Porém, aprendemos alguma coisa mais com a ordem da unção nesta lição, além da verdade importante acerca da obra do Espírito, e a posição que a Igreja ocupa. A preeminência do Filho é-nos também apresentada. "Amaste a justiça e aborreceste a inquidade; por isso Deus, o teu Deus, te ungiu com óleo de alegria, mais do que a teus companheiros" (SI 45:7; Hb 1:9). É preciso que o povo de Deus mantenha sempre esta verdade nas suas convicções e experiências. Por certo, a graça infinita de Deus é manifestada no fato maravilhoso que pecadores culpados e dignos do inferno sejam chamados companheiros do Filho de Deus; mas nunca devemos esquecer, nem por um momento, o vocábulo "mais". Por mais íntima que seja a união—e é tão íntima quanto os desígnios eternos do amor divino a podiam fazer—, é, contudo, necessário que Cristo tenha em tudo a preeminência" (Cl 1:18). Não podia ser de outra maneira. Ele é Cabeça sobre todas as coisas — Cabeça da Igreja, Cabeça sobre a criação, Cabeça sobre os anjos, o Senhor do universo. Não existe um só astro de todos os que se movem no espaço que não Lhe pertença e não se mova sob a Sua orientação. 

Não existe um verme sequer que se arrasta sobre a terra, que não esteja sob os Seus olhos incansáveis. Ele está acima de todas as coisas; é toda a criatura "o primogénito de entre os mortos" "o princípio da criação de Deus" (Cl l:15-18;Ap 1:5). "Toda a família nos céus e na terra" (Ef 3:15) deve alinhar, na classe divina, sob Cristo. Tudo isto será reconhecido com gratidão por todo o crente espiritual; sim, a sua própria articulação produz um estremecimento no coração do crente. Todos os que são guiados pelo Espírito regozijar-se-ão com cada nova manifestação das glórias pessoais do Filho; da mesma maneira que não poderão tolerar qualquer coisa que se levante contra elas. Que a Igreja se eleve às mais altas regiões e glória, será seu gozo ajoelhar aos pés d'Aquele que se baixou para a elevar, em virtude do Seu sacrifício, à união Consigo; o qual havendo plenamente correspondido a todas as exigências da justiça divina, pode satisfazer todos os afetos divinos, unindo-a em um Consigo Mesmo, em toda a aceitação infinita com o Pai, na Sua glória eterna: "Não se envergonha de lhes chamar irmãos" (Hb 2:11).

Como membros do Corpo de Cristo, nós temos um relacionamento com Ele, o grande Sumo Sacerdote, que é análogo àquele entre Arão e seus filhos, que participavam de seu trabalho sacerdotal. Na carta aos hebreus, a qual trata deste assunto, nós temos uma espécie de Levítico neotestamentário. Nesta epístola, os crentes são denominados tanto de filhos como de “santos irmãos”, como se Cristo nos considerasse Seus filhos – “Eis aqui estou eu e os filhos que Deus me deu” (Hb 2:13). Por meio de nós, portanto, como membros de Cristo, o grande trabalho sumo sacerdotal no céu deve encontrar expressão aqui na terra. Se nós perguntarmos qual é o significado do contínuo trabalho do Senhor como Sumo Sacerdote, a resposta é: trazer vida sobre a morte, anular a operação e reinado da morte espiritual. O maior conflito da Igreja é com a morte espiritual. Quanto mais espiritual um homem se torna, mais consciente ele está da horrível realidade desta batalha contra o maligno poder da morte.
Nenhum sacerdote ou levita do Antigo Testamento jamais tentou se tornar lírico sobre este assunto ou falar em linguagem poética como se a morte fosse algum tipo de amigo. Ah não, eles sabiam ser a morte a grande inimiga de Deus e de todos os Seus interesses.
Quando as Escrituras falam da morte como o último inimigo, isto não somente significa que é a última na lista, mas que é o inimigo derradeiro, a expressão completa de toda inimizade.

O efeito do sacerdócio é ilustrado repetidas vezes na Palavra de Deus. Nós observamos a morte adentrando por causa do pecado e, então, Deus intervindo com Sua resposta de vida por meio do sacrifício de sangue. O sangue fala de uma justiça aceita e, por meio disto, o sacerdote estava habilitado a enfrentar a morte, vencê-la e ministrar vida. Finalmente ouvimos falar do Senhor Jesus, que encontrou a morte na concentração de toda sua inimizade, derrotou-a por meio do perfeito sacrifício de sangue da Sua própria vida e, então, deu início à Sua obra sacerdotal de ministrar vida aos crentes.

O sacerdote é um homem que tem autoridade, embora esta seja espiritual e não eclesiástica. Ele tem poder com Deus. O apóstolo João fala do caso de alguém que cometeu um pecado que não leva à morte, e ele diz: “pedirá, e Deus lhe dará vida...” (1Jo 5:16). Esta referência revela que um crente que permanece na base da justiça pela fé por meio do sangue de Jesus pode exercer o poder do sacerdócio em benefício de um irmão que errou e, assim, ministrar vida a ele. Certamente não há ministério mais necessário na terra hoje do que este ministério tão vitalizante. Se nós ministrarmos verdades que não emanam vida, estamos desperdiçando nosso tempo. Deus não nos comissionou para sermos meros transmissores de informação sobre coisas divinas ou professores de moralidade. Ele nos libertou de nossos pecados para que pudéssemos ministrar vida a outros em virtude da autoridade sacerdotal. Vivemos em um mundo onde a morte reina. Diariamente multidões são arrastadas por uma maré de morte espiritual. Por quê? Por causa da injustiça. Precisa-se da atividade daqueles que aceitarão suas responsabilidades sacerdotais, tanto pedindo vida para outros quanto oferecendo vida a eles por meio do evangelho. Nós devemos ministrar Cristo. Não meras doutrinas sobre Ele; não meras palavras ou mandamentos, mas o impacto vital de Cristo em termos de vida. Assim, todo crente é chamado para se posicionar entre os mortos e os vivos dando a resposta de Cristo para as atividades de Satanás.

Não é de se admirar que o reino de Satanás esteve em guerra com Israel, pois a presença desta nação em um relacionamento correto com Deus proclamava efetivamente que o pecado e a morte não reinam universalmente no mundo de Deus, mas foram enfrentados e superados pelo poder de uma vida justa e incorruptível. No fim, Israel perdeu este testemunho e, por consequência, o ministério sacerdotal. A Igreja surgiu, então, para dar continuidade a este ministério, sendo não mais um povo localizado em uma terra, mas uma comunidade espiritual espalhada por toda a terra, um povo cuja vocação suprema é manter a vitória de Deus sobre a morte, conforme o testemunho de Jesus. E qual é o testemunho de Jesus? É o testemunho do triunfo da vida sobre a morte. Ele mesmo assim o descreveu a João: “[Eu sou] aquele que vive; estive morto, mas eis que estou vivo pelos séculos dos séculos e tenho as chaves da morte e do inferno” (Ap 1:18).

CONCLUSÃO

Na confecção deste pequeno estudo, buscamos consultar literatura que mais se aproxima com o pensamento de nossa denominação, tentando não perder a coerência teológica. Evitamos expressar conceitos e opiniões pessoais sem o devido embasamento na Palavra, pois a finalidade é agregar conhecimentos, enriquecer a aula da escola dominical e proporcionar ao professor domínio sobre a matéria em tela. Caso alcance tais finalidades, agradeço ao meu DEUS por esta grandiosa oportunidade.


                                                       Ev. JOSÉ COSTA JUNIOR

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