ELIAS
O TISBITA
TEXTO
ÁUREO = “E ele lhes disse: Qual era o trajo do homem que vos veio
ao encontro e vos falou estas palavras? E eles lhe disseram: Era um homem
vestido de pelos e com os lombos cingidos de um cinto de couro. Então, disse
ele: É Elias, o tisbita”(2 Rs 1.7,8).
VERDADE
PRÁTICA = A vida de Elias é uma historia de fé e coragem. Ela revela
como Deus soberanamente escolhe pessoas simples para torná-las gigantes
espirituais.
LEITURA
BIBLICA EM CLASSE = 1 REIS 17: 1-7
INTRODUÇÃO
Neste capítulo estudaremos de uma forma
mais detalhada os fatos relacionados à vida e a obra de um dos maiores
personagens da história bíblica: Elias, o tesbita! Elias aparece nas páginas da
Bíblia como se viesse do nada. De fato, a Escritura silencia-se a respeito
identidade de seus pais e também de sua parentela, apenas diz que ele era tesbita,
dos moradores de Gileade (1 Rs 17.1-7)! Parece pouca informação para um
homem que irá ocupar um grande espaço na literatura bíblica posterior. Raymond
B Dillard (2011, p.21), destaca que “Elias aparece em cena de maneira surpreendentemente
repentina. Ele é apresentado sem qualquer informação sobre sua vida anterior,
sem referência à sua família ou tribo em Israel, e até mesmo seu lugar de
nascimento (Tisbe) não é conhecido ao certo ainda hoje.
Não lhe é atribuída nenhuma linhagem
elaborada, por meio da qual talvez pudéssemos identificá-lo no registro social
do antigo Israel, e não é mencionado nenhum grupo específico do qual ele
pudesse ser considerado o porta-voz; habitava em Gileade, uma área periférica
no antigo Israel, isolada do outro lado do Jordão. Ele não tinha fama nem
notoriedade, nenhuma influência política específica, não tinha credenciais para
comandar um interrogatório, nenhum título acadêmico acompanhando o seu nome”.
Todavia é esse homem enigmático que
protagoniza os fatos mais impactantes na história do profetismo de Israel. Isso
acontece quando denuncia os desmandos do governo dos seus dias e desafia os
falsos profetas que infestavam o antigo Israel. O expositor bíblico Oracio
Simian Yofre (2010, pp. 516,517) observa que “do ponto de vista da história da
religião de Israel, a importância do profeta Elias reside no fato de que com
ele se chega a um novo nível no desenvolvimento da profecia bíblica.
De modo mais claro do que acontece com
Balãao ou Natã, estabeleceu-se em Elias a clara distinção entre o profeta
escolhido pela vontade divina explícita e os grupos proféticos (ou escolas
proféticas), movimentos carismáticos mais ou menos espontâneos, dos quais nos
falam outros textos do Antigo Testamento.
Com efeito, os profetas do tempo de Elias
e também os anteriores mostram-se como um grupo (1 Sm 10.5,10-13; 2 Rs 10.19);
estão ligados a um lugar de culto (um lugar alto ou bamah 1 Sm 9.12) ou
mais propriamente a um santuário (Guibeá: 1 Sm 10,5.10; Shiló: 1 Sm 3.19- 21);
atuam em êxtase profético (1 Sm 19,18-24); muitas vezes ocasionados pela
música (2 Rs 3.15) e pela dança (1 Rs 18.26-29). A eles pertence a interrogação
sobre o futuro (1 Sm 28,4-7; 1 Rs 14,1-18). Elias se encontra, porém, mais
próximo dos profetas individuais dos “tempos novos” (profetas “escritores” a
partir do séc. VIII) do que das escolas proféticas. Com Elias se atinge assim
alguns traços do profetismo que permanecerão estáveis no desenvolvimento ulterior
da profecia bíblica.
A
identidade de Elias
Seu
nome, sua terra e sua
gente = Como
vimos, o relato sobre a vida do profeta Elias inicia-se com uma declaração sobre a sua pessoa,
sua terra e seu povo: “Então, Elias, o tesbita, dos moradores de Gileade” (1 Rs 17.1). O nome Elias, deriva
do termo hebraico Helohim,
traduzido como Deus. Helohim aparece muitas vezes na sua forma abreviada El. Por outro
lado, a palavra Jah é uma abreviação hebraica para o lahvé, o nome impronunciável de Deus para os judeus.
Dessa forma o nome “Elias” é
uma combinação das abreviaturas dos nomes El (Deus) e Jah (Senhor).
Quando levamos em conta o pronome
possessivo hebraico, a tradução do nome Elias é O Senhor é o meu Deus
ou ainda Meu Deus é Jeová. Elias era de Tisbe, um lugarejo situado
na região de Gileade e a leste do rio Jordão. Esse lugar não aparece em outras
passagens bíblicas, mas é citado somente no contexto do profeta Elias (1 Rs
21.17; 2 Rs 1.3,8; 9.36).
Charles R. Swindoll (2010, pp. 28,29)
destaca que Gileade, região onde vivia o profeta Elias, “era um lugar solitário
e de vida ao ar livre, onde seus habitantes eram provavelmente rudes, queimados
do sol, musculosos e fortes. Nunca foi um lugar de educação, sofisticação e
diplomacia. Era uma terra árida, e muitos acham que a aparência de Elias tinha
muita relação com sua terra. Seus hábitos beiravam o grosseiro e o áspero, o
violento e o severo — não muito diferente de outros personagens fortes que Deus
introduzira na cena em certos momentos da história de um mundo insuspeito.
Estes personagens podem não ter muitos
amigos, mas uma coisa é certa: eles não são ignorados. Os profetas são sempre
assim. Elias se tornou muito maior do que o meio no qual vivia. Na verdade não
foi Tisbe que deu nome a Elias, mas foi Elias que colocou Tisbe no mapa! “Elias
foi um grande campeão de Deus. Sua vitória estava no fato de que ele fazia o
que Deus lhe ordenava e confiava que Deus não o decepcionaria. A vida de Elias
nem sempre transcorreu tranquila. Ele viveu em uma época de grande corrupção
política, moral e espiritual. A sua vitória é prova de que o crente pode ser
vencedor, mesmo que tenha de viver e trabalhar entre ímpios.
Quanto maiores são as trevas, maior é o
brilho da luz (Mt 5.14-16).
Davi, Pedro, Paulo, também construíram
uma história cheia de sentido e significância. Da mesma forma Gunnar Vingren,
Daniel Berg,
Emílo Conde, etc. Todos nós deveríamos
imitá-los e viver de tal modo que a nossa história se tornasse um testemunho
para a posteridade.
Sua fé
e seu Deus = Para
termos uma compreensão sobre o lugar que o Deus de Israel ocupa no contexto dos profetas Elias
e Eliseu, se faz necessário entendermos a teologia dos livros dos Reis. A teologia desse livro mostra
claramente que há um único
Deus bem como um único local de adoração, o Templo. Thomas Romer (2010, p.377) destaca que “a
veneração do Senhor em Betei ou em Dan
constitui o “pecado de Jeroboão” (2 Rs 10.30). Seu culto em outros
“lugares altos” e sua
veneração em companhia de Baal, de Ashera ou outras divindades caracterizam o “pecado dos
pais” (isto é, dos reis anteriores, cf. 1 Rs 15.3). A ideologia de Reis é, portanto, antipoliteísta, exclusivista
e antissamaritana”.
Elias era um homem comprometido com a
adoração verdadeira.
Como um israelita professava sua fé no Deus
verdadeiro que através da história havia se revelado ao seu povo. Com o
desenrolar dos fatos, vemos o profeta afirmando essa verdade. Quando ele
desafiou aos profetas de Baal, orou: “Ó Senhor, Deus de Abraão, de Isaque e de
Israel, fique, hoje, sabido que tu és Deus em Israel e que eu sou teu servo e
que segundo a tua palavra fiz todas essas coisas” (1 Rs 18.36). Essa oração do
profeta revela pelo menos três fatos que são cruciais no contexto do livro de 1
Reis:
1. Uma
teologia correta sobre a divindade — “Tu és Deus”. O deus Baal existia na
mente do povo, mas ele não era Deus. Se a teologia do povo estava errada, então
sua crença forçosamente também estava. Sem uma teologia correta a fé fica
deformada. Elias procura corrigir esse aleijão da fé israelita quando chama-
lhes a atenção para o fato de uma única divindade — essa divindade é o Deus dos
patriarcas. Infelizmente os problemas com as igrejas evangélicas hoje também
estão no campo teológico.
Uma teologia deformada, onde Deus é
entendido como um grande garçom a serviço dos mais variados desejos, sem dúvida
alguma é a grande responsável pelo processo de fragmentação que ora passamos.
Estamos crescendo, mas é um crescimento com espumas.
2. Uma
correta antropologia — “Eu sou teu servo”. As culturas pagãs
possuíam não só uma teologia errada, mas também uma antropologia errada. Sem
uma compreensão adequada do papel do homem na religião, se torna muito fácil o
culto se perverter. O estudo das religiões comparadas revela que os homens são
divinizados e os deuses humanizados.
Nos dias de Elias, Baal era o deus não
apenas da natureza, mas também da fertilidade. Nesses rituais era natural a prostituição
como parte do culto. Onde a teologia está errada, a antropologia também está.
Merrill F. Unger (2008, p.174) comenta que “os textos ugaríticos de Ras Shamra
(Ugarite), datados do século XIV a.C., mostram Baal como filho de El, o rei do
panteão cananeu, deus da chuva e da tempestade.
Em Ugarite, a consorte de Baal era sua
irmã, Anat, mas na Samaria do século 9o a.C., Aserá assume esse posto (18.19).
Como Anat, ela era a padroeira do sexo e da guerra. Culto à serpente,
prostituição masculina e feminina, assassinato e sacrifícios de crianças e todo
vício concebível estavam associados à religião Cananeia. Os sacerdotes e
profetas de Baal eram assassinos oficiais de criancinhas, por isso mereceram a
morte (18.40).
3. Uma
correta bibliologia — “Conforme a tua Palavra fiz essas
coisas”. O desprezo à Palavra de
Deus esposada nos livros da Lei de Moisés sem dúvida fora a causa dessa
apostasia. Os erros na teologia, antropologia ou em qualquer outra área da fé,
tem sua origem numa compreensão inadequada da Palavra de Deus.
Antonio Vieira, escritor do século XVI,
costumava dizer que a Palavra de Deus quando dita no sentido daquilo que Deus
disse, é a Palavra de Deus.Todavia quando dita no sentido daquilo que Deus não
disse, são antes palavras do demônio. De fato existem milhares de cultos e
crenças usando a Bíblia nos seus rituais. Todavia a Bíblia pregada por eles não
são a Palavra de Deus, porque são ditas no sentido daquilo que Deus não disse.
São interpretações para apoiar uma doutrina ou crença equivocada. São palavras
do demônio.
O
ministério profético de Elias
Sua
vocação e chamada = Em suas notas homiléticas sobre a Missão do profeta
Elias, a obra The Pulpit
Commentary destaca:
1. De onde foi derivada. Ele não foi ensinado por
homem. Ele era inculto e iletrado. O Deus que o separou desde o ventre
de sua mãe o chamou pela sua graça. Ele era um mensageiro
extraordinário para uma grande emergência. Mas observe:
quando Deus usa tal mensageiro, homens cuja missão é derivada
diretamente do alto, os “sinais de um apóstolo” são
realizadas por eles. Nós não somos obrigados a ouvir um anjo do céu, a menos
que ele nos mostre as suas credenciais.
2. Quando foi conferida. (1) Foi quando a
iniquidade abundava. Quando Hiel tinha construído Jericó; quando Acabe levantou
um templo para Baal; quando Jezabel reuniu seu exército de falsos profetas;
quando a fé dos eleitos de Deus estava em perigo. A hora mais escura é sempre
antes do amanhecer.
(2) Quando os meios ordinários eram
insuficientes. Havia verdadeiros sacerdotes em Jerusalém; havia “filhos dos
profetas”, provavelmente em Betei e Samaria; havia sete mil fiéis em Israel, mas
o que eram estes contra uma rainha como Jezabel, contra toda essa propaganda e
um sistema como o dela? A própria existência do povo de Deus estava em jogo.
Elias foi convocado para fazer um julgamento, ele estava armado com “poder de
fechar o céu que não choveu nos dias de sua profecia”. Somente a luz da
verdade, a luz que iluminou a escuridão do mundo, preservou a nação da extinção
total.
A vocação e chamada de Elias foram,
portanto, divinas da mesma forma como foram as vocações e chamadas dos demais profetas
canônicos. Esse fato é logo percebido quando vemos o profeta Elias colocar Deus
como a fonte por trás de suas enunciações proféticas: “Tão certo como vive o
Senhor, Deus de Israel, perante cuja face estou” (1 Rs 17.1). Em outra passagem
bíblica Elias diz que suas ações obedeciam diretamente a uma determinação
divina (1 Rs 18.36). Somente um profeta chamado diretamente pelo Senhor poderia
falar dessa forma.
A vocação
de Elias se manifesta em um contexto onde:
1. Não
havia referenciais —
no antigo Israel os reis não agiam apenas como governantes do povo, mas também
como referencial espiritual. Quando um rei fazia o que era mau aos olhos do
Senhor, as consequências de suas ações eram logo sentidas pelo povo. Se havia
uma apostasia generalizada, como de fato havia, isso se devia a falta de um
modelo ou referencial para seguir.
Acabe com sua esposa, Jezabel,
infelizmente eram modelos, mas modelos de um culto idólatra. E nesse contexto
que Deus levanta o profeta de Tisbe para trazer o povo novamente para o
verdadeiro modelo de adoração. Elias se torna uma referência.
2. Havia
uma privatização do ministério profético — Logo que chegou à
posição de rainha em Israel, Jezabel empreendeu uma campanha para exterminar os
profetas do Senhor (1 Rs 18.4).
O holocausto só não foi total porque o
Senhor preservou os sete mil que não se dobraram diante de Baal (1 Rs 19.18).
No lugar dos verdadeiros profetas, Jezabel pôs seus profetas particulares:
“Vendo-o, disse-lhe: És tu, ó perturbador de Israel? Respondeu Elias: Eu não
tenho perturbado a Israel, mas tu e a casa de teu pai, porque deixastes os
mandamentos do S e n h o r e seguistes os baalins. Agora, pois, manda ajuntar a
mim todo o Israel no monte Carmelo, como também os quatrocentos e cinquenta
profetas de Baal e os quatrocentos profetas do poste-ídolo que comem da mesa de
Jezabel”(l Rs 18.17-19).
Os profetas que “comiam da mesa de
Jezabel” eram aqueles aos quais ela havia alugado. Eram profetas comprados,
profetizavam somente o que ela e seu marido gostavam de ouvir. O verdadeiro
profeta não se vende porque nenhuma profecia parte da vontade humana (2 Pe
1.20).
Nenhum sistema é profético e nenhum
profeta se rende ao sistema. Os profetas do Senhor geralmente dizem coisas que
não queremos ouvir, mas que precisamos ouvir. Eles não satisfazem vontades, mas
necessidades. É um perigo quando nos cercamos de “profetas particulares” que
estão sempre amaciando o nosso ego.
Ninguém gosta de ser confrontado, mas a
crítica também faz parte do nosso crescimento. Quando o cristão cai na tentação
de se auto-vitimar, ficando sempre na defensiva achando que todos estão contra
ele, então corre um sério perigo. Ele corre o risco de rejeitar um conselho
divino apenas porque ele veio na forma de confronto ou crítica. Evidentemente não
podemos viver em função das críticas, mas não devemos nos fechar ao ponto de
não vermos em algumas delas um instrumento divino para nos corrigir.
Aprecio o que escreveu John Maxwell
(2002, pp.151-156) sobre
como tratar corretamente com as críticas:
“Não veja somente o crítico; veja se há uma multidão”. A história a seguir
ilustra esse ponto: A Sra. Jones convidou um grande e famoso violonista para
entreter o seu chá de tarde.
Quando ele acabou a sua apresentação,
todos se aglomeraram ao redor. “Eu tenho que ser honesto com você”, disse um
dos convidados: “Eu acho que o seu desempenho foi absolutamente terrível.
Ouvindo aquela crítica, a anfitriã interpôs: não preste atenção nele. Ele não
sabe o que está dizendo.
Ele só repete o que ouve de todo mundo.
Eu estou sugerindo que você amplie sua visão; vá além do crítico e veja se ele
possui um pouco de humor. Considere a possibilidade de que você está ouvindo a
mesma crítica de várias pessoas. Se este é o caso, e os críticos estiverem
certos, então você precisa perceber que tem um desafio a encarar.”
A
natureza do seu ministério = A natureza divina e, portanto, sobrenatural do
ministério do profeta Elias é
atestada pela inspiração e autoridade que o acompanhavam. A história do profeta de Tisbe é uma história de milagres.
De fato, o primeiro livro dos
livros de Reis atribui ao profeta Elias sete grandes milagres: Elias faz cessar as chuvas; multiplica a
comida da viúva; restaura à vida o
filho da viúva; faz descer fogo do céu no monte Carmelo; restaura as chuvas; invoca fogo sobre soldados e
divide as águas do Jordão.
É, portanto, uma história de intervenções divinas no Reino do Norte.
Encontramos por toda parte
nos livros de Reis as marcas da inspiração profética no ministério de Elias. Isso é facilmente confirmado pelo
cronista bíblico quando se
refere à morte de Jezabel (2 Rs 9.35,36). Assim como Elias predisse, aconteceu! Elias possuía inspiração e autoridade
espiritual.
Mas não são somente os milagres e a
inspiração divina os elementos autenticadores do ministério profético de Elias,
mas o seu caráter também. As palavras de Elias eram autenticadas por suas
ações. Os falsos profetas também possuem uma certa margem de acertos em suas
predições, todavia as suas práticas distanciadas da Palavra de Deus são quem os
desqualificam. Elias, portanto, possuía carisma e caráter.
Podemos então dizer que o caráter pode
não ter dado fama a Elias, mas com certeza lhe deu nome (1 Rs 17.1); pode não
lhe ter dado notoriedade, mas certamente lhe conferiu autoridade (1 Rs 17.1);
não o transformou em herói, mas o fez reconhecido como profeta (1 Rs 17.2,3); e
fez com que ele enxergasse Deus até mesmo onde aparentemente Ele não estava (1
Rs 17. 8-9 — foi sustentado por uma mulher, gentia, viúva e pobre). Com acerto,
o pastor Claudionor de Andrade (2007, pp.16,17) destaca com muita precisão
alguns dos aspectos do caráter de Elias como sendo: ‘'fidelidade; coragem;
determinação; obediência; coragem e fragilidade. ”
Elias e a
monarquia
Buscando
a justiça social = Na história do
profetismo bíblico observamos a ação dos profetas exortando, denunciando e repreendendo aos reis (1 Rs 18.18). O
livro de 1 Reis mostra que o profeta
Elias foi o pioneiro a atuar dessa forma. Na verdade, as ações dos profetas revelam uma luta incansável não
somente em busca do bem-estar
espiritual, mas também social do povo de Deus.
Quando um monarca como o rei Acabe se
afastava de Deus, as consequências poderiam logo ser percebidas na opressão do
povo. A morte de Nabote, por exemplo, revela esse fato de uma forma muita clara
(1 Rs 21.1-16). Acabe foi confrontado e denunciado pelo profeta Elias pela
forma injusta como agiu!
Os expositores bíblicos Bill T. Arnold e
Bryan E. Beyer (2001, pp.
232-234) comentam que: “O famoso episódio
da vinha de Nabote (capítulo 21) ilustra a extensão do pecado de Acabe e sela o
seu destino. Nabote era um cidadão cuja propriedade era vizinha ao palácio em
Samaria. O rei queria anexar a vinha de Nabote às propriedades reais, mas a
antiga lei israelita proibia a venda de uma herança. A ideia pareceu absurda
para Nabote (v.3) e Acabe tinha respeito suficiente pela lei para saber que ele
não conseguiria fazer Nabote voltar atrás em sua decisão (v.4).
Sendo a filha do rei de Sidom, Jezabel
supôs que o rei de Israel deveria estar acima da lei, como era o caso em outros
países. Ela tomou para si a responsabilidade de resolver a questão. Mediante
traição, engano e o assassinato de Nabote, ela adquiriu a vinha para Acabe.
Mais uma vez, o profeta Elias estava lá para anunciar o julgamento (w. 17-24).
Acabe “se vendeu para fazer o que era mau
perante o Senhor” (v.25; ver também o v. 20). Como resultado disso, Elias
declarou que a dinastia de Acabe seria completamente destruída.”
Restauração
do culto = Como
vimos, os monarcas bíblicos serviam tanto de guias políticos como espirituais do povo.
Quando um rei não fazia o que era reto diante do Senhor, logo suas ações refletiam nos seus súditos (1 Rs
16.30). A religião, portanto,
era uma grande caixa de ressonância das ações dos reis hebreus. Nos dias do profeta Elias, as ações de Acabe
e sua mulher Jezabel sofreram
oposição ferrenha do profeta porque elas estavam pulverizando o verdadeiro culto (1 Rs
19.10). Em um diálogo que teve com Deus,
Elias afirma que a casa real havia derrubado o altar de adoração ao Deus verdadeiro e em seu lugar
levantado outros altares para adoração
aos deuses pagãos. Como profeta de Deus, coube a Elias a missão de restaurar o altar do Senhor que
estava em ruínas (1 Rs 18.30).
Matthew Polle (2010, pp. 701,702) comenta
que a prioridade do profeta Elias foi reparar o altar. Isso foi feito
rapidamente visto que ele pode ter contado com a ajuda do próprio povo. Esse
altar foi reparado especificamente para aquele momento. Poole ainda observa que
esse altar fora construído pelos antepassados objetivando a oferta do
sacrifício, mas por haver sido negligenciado necessitava de reparos. Os danos
causados a esse altar, que estava quebrado, pode ter sido feito pelos próprios
sacerdotes de Baal ou por seguidores do baalismo que rivalizavam com o culto ao
Deus verdadeiro.
Elias e a
literatura bíblica
Nos livros da literatura bíblica de 1 e 2
Reis, a história do profeta
Elias deve ser vista em um contexto onde
“os profetas são enviados por
Javé para exortar a que não se renegue o verdadeiro
culto a Javé. Ele dispõe de poderes milagrosos, e sua palavra se realiza. Esse
elemento vale também e sobretudo para os seus prenúncios da ruína do reinado e
dos estados de Israel e Judá. O arrependimento do rei pode provocar um
adiamento da chegada da desgraça (1 Rs 21.17-29; 2 Rs 22.15-20;n2 Rs
20.1-11).”15
No Antigo Testamento = Até aqui vimos que os
dois livros de Reis e uma porção do livro das Crônicas trazem uma
ampla cobertura do ministério profético de Elias. O Antigo
Testamento mostra que com Elias tem início a tradição profética dentro
do contexto da monarquia. Foi Elias que abriu caminho para outros profetas
que vieram depois dele. Mas Elias não possuía apenas um ministério de
cunho profético e social. Seu ministério também é usado na literatura bíblica
em um sentido escatológico. O profeta Malaquias predisse o aparecimento de
Elias antes “do grande e terrível dia do Senhor” (Ml 4.5).
No Novo Testamento = Em o Novo Testamento
encontramos vários textos associados à pessoa e ministério do
profeta Elias. Jesus identifica João, o batista, como aquele que
viria no espírito e poder de Elias (Lc 1.17; Mt 1.14; 17.10-13).
No monte da transfiguração, o evangelista afirma que Elias e
Moisés falavam com o Salvador acerca da sua “partida” (Mt 17.3).
Quando o Senhor censurou a falta de fé em
Israel, ele trouxe como exemplo a visita que Elias fizera à viúva de Sarepta
(Lc 4.5-26). No judaísmo dos tempos de Jesus, Elias era uma figura bem popular
devido aos feitos miraculosos, o que levou alguns judeus a acharem que Jesus
seria o Elias redivivo (Mt 16.14; Mc 6.15; 8.28).16
Os comentaristas bíblicos observam que os
capítulos 17 à 22 do livro de 1 Reis,
que cobre o período do reinado de Acabe, mostra que o declínio religioso
termina com arrependimento ou julgamento divino.
De fato observamos que a mensagem
profética de Elias visava primeiramente a produção de arrependimento e não a
manifestação da ira divina. Isso é visto claramente quando Acabe se arrepende e
o Senhor adia o julgamento que havia sido profetizado para os seus dias (1 Rs
21.27-29). Fica, pois, a lição para nós revelada na história do profeta Elias,
que a graça de Deus é maior do que o pecado e suas consequências. Fomos
alcançados por essa graça!
Elaboração
pelo:- Evangelista Isaias Silva de Jesus
BIBLIOGRAFIA
1 - DILLARD, Raymond B. Fé em Face da
Apostasia: o evangelho segundo Elias e Eliseu. São Paulo: Editora Cultura
Cristã, 2011.
2 - YOFRE, Oracio Simian. In: Dicionário
de Homilética. São Paulo: Ed.
Paulus/Loyola, 2010.
3 - Keil & Delitzsch argumentam que o
complemento “dos moradores de Gileade” nos informa que Elias não vivia em seu
lugar natal senão que foi estrangeiro em Gileade. Toshav em si não se
refere aos não-israelitas,mas da mesma forma como ger refere-se àquele
que vivia fora de sua pátria e de sua tribo sem ser parte desta, como em Lv
25.41 e Jz 17.7 onde vivia um levita originário de Betei, chamado de gar da
tribo de Efraim” (KEIL & DELITZSCH in Comentário Al Texto Hebreo
Del Antiguo Testamento - Pentateuco e históricos, tomo 1. Editorial
CLIE, Barcelona, Espana.
4 - SWINDOLL, Charles R. Elias: um
homem de heroísmo e humildade. São Paulo: Editora Vida, 2010.
5 - GILBERTO, Antonio. Elias, o
campeão de Deus. In: Lições Bíblicas para a Escola Dominical, CPAD, Iº
trimestre de 1984.
6 - ROMER, Thomas. Antigo Testamento:
história, escritura e teologia.São Paulo: Ed. Loyola, 2010.
7 - UNGER, Merril Frederick. Manual
Bíblico. São Paulo: Vida Nova,
2008.
8 - VIEIRA, Antonio. Sermões. Ed.
Lello &c Irmãos, Porto, Portugal.
9 HAMMOND, J. In: The Pulpit
Commentary, vol. V, 1 Kings. Hendrickson Publishers Marketing. USA,
2011.
10 – MAXWELL, John C. Seja o Líder Que
Todos Querem Ter — usando o seu carisma para motivar pessoas. Ed.
SEPAL, 2002.
11 - Para um comentário detalhado sobre
os milagres de Elias, veja o livro de Larry Richards: Todos os Milagres da
Bíblia. Editora United Press, 2003.
12 - ANDRADE, Claudionor. In Lições
Bíblicas para A Escola Dominical: A Busca do Caráter Cristão - aprendendo com
homens e mulheres da Bíblia, CPAD, 3º trimestre de 2007.
13 - ARNOLD, Bill &c BEYER,
Bryan E. Descobrindo o Antigo Testamento — uma perspectiva cristã. São
Paulo: Ed. Cultura Cristã, 2001.
14 – POOLE, Matthew. Matthew Poole’s
Commentary on the Holy Bible, volume 1 — Genesis to Job. Hendrickson,
USA, 2010.
15 - ZENGER, Erich Sc BRAULIK, Georg. Introdução
ao Antigo Testamento. Edições Loyola, 2003.
16 - Enciclopédia de Cultura Bíblica. Editora Mundo
Cristão.
17 -
Livro Porção Dobrada - Casa Publicadora das Assembleias de Deus - José
Gonçalves – 2012
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