25 de agosto de 2011

PRESERVANDO A IDENTIDADE DA IGREJA


PRESERVANDO A IDENTIDADE DA IGREJA – Ev. José Costa Junior


CONSIDERAÇÕES INICIAIS


            O assunto desta lição diz respeito a preservação da identidade da igreja. A primeira coisa que descobrimos é que a palavra “igreja” é usada, nas Escrituras, em dois sentidos: em sentido universal e em sentido local.  No sentido universal, a igreja consiste em todos aqueles que, nesta dispensação, nasceram do Espírito de DEUS, e foram, por este mesmo Espírito, batizados no corpo de CRISTO (I Pe 1:3,22-25; I Co 12:13). O fato desta palavra ser usada em seu sentido universal é provado por ter CRISTO falado de construir Sua “Igreja” e não “Igrejas” (Mt 16:18), por Paulo ter se entristecido por ter perseguido “a Igreja” (I Co 5:9; Gl 1:13), por estar escrito que CRISTO amou a “Igreja” e a SI mesmo se entregou por ela, por ser ELE o cabeça da “Igreja”(Ef 1:22). Em todas estas passagens é usada a palavra grega ekklesia. Por si mesmo esta palavra quer dizer simplesmente um grupo de pessoas convocadas, como em uma assembléia de cidadãos em um estado de governo autônomo. O Novo Testamento a encheu com um conteúdo espiritual, de maneira que passa a significar um povo chamado para deixar o mundo e as coisas pecaminosas.


            O conceito universal da igreja é visto também nas figuras pelas quais é representada. Assim, a Igreja é chamada de edifício de DEUS (I Co 3:9,16,17; II Co 6:16), sendo CRISTO a pedra fundamental deste edifício (Mt 16:18; I Co 3:11), habitando ali pelo seu Espírito (I Co 6:19). O crente executa trabalho sacerdotal neste “templo” (I Pe 2:9; Ap 1:6). É também chamada corpo de CRISTO (Ef 1:22,23). Esta figura é usada para mostrar que a igreja é um organismo, tendo ligação vital com CRISTO, estando sob SUA superintendência. Em sendo uma unidade, embora composta de judeus e gentios, apresenta diversidade de dons entre seus membros que, idealmente, cooperam em uma tarefa comum. A igreja é chamada também de noiva de CRISTO, estando desposada com ELE. Como tal deve ser fiel a CRISTO (Tg 4:4), preparar-se para a cerimônia das bodas (Ap 19:7,8) onde será a esposa de CRISTO (Jo 3:19; Ap 19:7) reinando com ELE eternamente (Ap 19:6-20).


            No sentido local a palavra “Igreja” é usada para se referir ao grupo dos que professam ser crentes em qualquer lugar. Assim lemos acerca da Igreja em Jerusalém (At 8:1), a Igreja em Antioquia (At 13:1), a Igreja em Éfeso (At 20:17), a Igreja em Corinto (I Co 1:2), a Igreja dos Laodicenses (Cl 4:16) e outras. As igrejas locais em conjunto deveriam ser uma réplica fiel da igreja verdadeira, a Igreja Universal, possuindo assim sua identidade. A maioria delas falha neste aspecto de maneira bem triste. JESUS previu este afastamento das condições ideais e o retratou nas parábolas do reino dos céus (especialmente em Mt 13).


            A Igreja não é produto dos esforços do homem. Não foi “organizada”, mas “nasceu”. Em Hb 12:23  esta igreja é chamada “igreja dos primogênitos”. Isto é, o novo nascimento é a primeira condição na fundação desta igreja. A segunda é o batismo do Espírito:


“Pois todos nós fomos batizados em um Espírito, formando um corpo, quer judeus, quer gregos, quer servos, quer livres, e todos temos bebido de um Espírito (I Co 12:13). Dispensacionalmente, este batismo ocorreu no dia do Pentecostes (At 1:4,5; 2:1; 11:15-17).


            A igreja local surgiu de uma forma muito simples. No começo não havia organização, mas simplesmente um elo de amor, comunhão e cooperação. Gradualmente, entretanto, essa organização  primitiva mais à vontade foi superada por uma mais fechada. O homem teve papel ativo na organização da igreja local, através da nova vida em CRISTO JESUS e o novo relacionamento entre pessoas que criam NELE, sem dúvida, deu ímpeto a idéia.  Como os crentes já eram membros da Igreja verdadeira, sentiram-se compelidos a organizar igrejas locais nas quais as realizações invisíveis em CRISTO pudessem ser realizadas para o bem comum e a salvação dos não salvos.


            No começo só havia uma igreja local; a igreja de Jerusalém. Parece que as reuniões eram realizadas em lares diferentes, mas só havia uma igreja. O rol de membros cresceu para 3.000 e depois para 5.000, enquanto o SENHOR lhes acrescentava diariamente (At 2:47). Os apóstolos estavam a testa das igrejas. Mais tarde outras igrejas locais foram fundadas em novos locais à medida que o evangelho ia sendo pregado e aceito, como na Judéia e Samaria (At 8).


A maneira exata de sua fundação não foi registrada. Paulo instrui Tito para que “em cada cidade” constituísse presbítero (Tt 1:5), o que parece indicar que onde quer que um grupo de crentes tivesse sido formado em uma comunidade, presbíteros eram nomeados como líderes. Evans diz: “O fato de ter definitivamente igrejas organizadas de modo regular é evidenciado por ter o apóstolo Paulo dirigido muitas de suas epístolas a igrejas em localidades diferentes”.


            O objetivo deste estudo é trazer algumas informações, colhidas dentro da literatura evangélica, com a finalidade de ampliar a visão na preservação da identidade da Igreja. Não há nenhuma pretensão de esgotar o assunto ou de dogmatizá-lo, mas apenas trazer ao professor da EBD alguns elementos e ferramentas que poderão enriquecer sua aula.


A PRESERVAÇÃO DA IDENTIDADE DA IGREJA


            JESUS disse aos seus seguidores que eles deveriam “fazer discípulos em todas as nações” (Mt 28:19). Esta obra evangelística de declarar o evangelho é o ministério principal da igreja com relação ao mundo. Karl Barth descreve este ministério da seguinte forma: “Missão, agora entendido no sentido mais estreito da palavra, que é não obstante, seu sentido real e originário, significa “mandar”, isto é, um envio a outra nação para o propósito de testificar o Evangelho. Isso representa a razão de ser da existência e ao mesmo tempo, também a razão de toda a tarefa do povo de CRISTO. Na “missão” a igreja se desperta e põe-se a caminho, dando o passo que lhe importa dar no mais recôndido de seu ser, o passo além de si mesma e também além de seu próprio ambiente, para o mundo.


Isso, do ponto de vista cristão, desperta muitos problemas, pois o mundo está envolvido em muitas crenças falsas, malévolas e fracas, e presos a tantos falsos deuses (falsos, porque refletem simplesmente a glória própria e a miséria da humanidade), tanto de invenção e autoridade mais recente, quanto mais antiga; esse mundo de homens que ainda são estrangeiros ao mundo de DEUS. A vocação que constitui a comunidade é, precisamente, a ordem para levar esta mensagem ao mundo dos homens, às nações, aos pagãos. Na medida em que ela obedece esta ordem, a comunidade está executando “missão aos gentios” (…)”.


            As Escrituras não nos mandam “converter”, mas sim “evangelizar” o mundo. Isto quer dizer que a igreja é devedora ao mundo todo, isto é, que a igreja esta sob a obrigação de dar ao mundo todo a oportunidade de ouvir o Evangelho e aceitar a CRISTO. Sabemos que não é todo mundo que vai aceitar a CRISTO; mas a Igreja esta comissionada a dar a todo mundo uma oportunidade de ficar sabendo a respeito DELE e aceitar SUA salvação.


            JESUS, na Grande Comissão, não apenas os instruiu que fizessem discípulos e batizassem a homens, mas também que depois fossem ensinados a “guardar todas as coisas” que ELE lhes havia ordenado (Mt 28:19). Não pode haver, portanto, a menor dúvida quanto a se a Igreja devesse ter um programa de instrução e treinamento para sua própria Escola Dominical e trabalho de Jovens. Seguramente, também, nas instruções acima estão incluídas a pregação dos ministros da Igreja, dos professores de teologia e de missionários. Mas a Igreja tem uma tarefa educacional bem maior. Paulo instrui os crentes de Filipos a se interessarem por todo tipo de conhecimento digno. Diz: “Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai” (Fp 4:8). Aqui está incluído o dever de buscar educação superior em todas as suas fases.


            Todavia, acompanhando a obra de evangelização há também o ministério de misericórdia, que inclui cuidado dos pobres e dos necessitados em nome do SENHOR. Embora a ênfase do Novo Testamento está na ajuda material para os que fazem parte da igreja (At 11:29; II Co 8:4; I Jo 3:17), há ainda uma afirmação de que é correto ajudar os descrentes ainda que eles não respondam com gratidão nem aceitem a mensagem do evangelho. JESUS nos ensina: “Amai, pois, a vossos inimigos, e fazei bem, e emprestai, sem nada esperardes, e será grande o vosso galardão, e sereis filhos do Altíssimo; porque ele é benigno até para com os ingratos e maus. Sede, pois, misericordiosos, como também vosso Pai é misericordioso” (Lc 6:35,36).


            Além da pregação, do ensino do evangelho e do amor cristão, outro elemento que circunscreve a identidade da Igreja é a defesa de sua fé. Obtemos um exemplo claro disso nas palavras de Paulo a Timóteo quando este foi enviado a Éfeso com a finalidade também de corrigir o falso ensinamento que certos indivíduos disseminavam. Não seria uma tarefa fácil. É provável que esses falsos mestres fossem líderes influentes na igreja. Mas o jovem obreiro devia enfrentá-los e proclamar a verdade.


Paulo exortou Timóteo a proteger cuidadosamente o ensino que havia recebido: “Conserva o modelo das sãs palavras que de mim tens ouvido, na fé e no amor que há em Cristo Jesus. Guarda o bom depósito pelo Espírito Santo que habita em nós (II Tm 1:13,14). Ele orienta seu filho na fé que conservasse o modelo das sãs palavras. O termo traduzido por modelo só aparece duas vezes no Novo Testamento e significa exemplo. Timóteo deveria proteger a verdade do Evangelho tal como recebera do apóstolo, para que seu sentido não fosse corrompido. O ensinamento de Paulo deveria ser também o exemplo para Timóteo enquanto ensinasse aos efésios.


            JESUS disse que os crentes são o “sal da terra” e a “luz do mundo” (Mt 5:13-16), detendo o progresso da iniqüidade através de seu testemunho (II Ts 2:6,7). Divisões, heresias, imoralidades, etc. são conseqüências de lassidão e frouxidão na vida da igreja, quando não aplicados os fundamentos de nossa fé. É somente a respeito da Igreja verdadeira, que tem sua verdadeira identidade, que será dito no dia da volta de CRISTO: “...cuja esposa a si mesma se ataviou” (Ap 19:7).


ALGUNS PERIGOS QUE AMEAÇAM A IGREJA


            O mundo jaz no maligno e a Igreja deve ser o contraponto para esta situação. A influência exercida pela Igreja deveria deter a iniqüidade galopante, mas, por vezes, não ocorre assim. O mundo tem conseguido, de variadas formas, avançar dentro dos “templos”. A Bíblia já identificava situações onde a Igreja enfrentava deturpações e onde a fé era maculada. Algumas vezes, essa deturpação vinha de fora da fé. Da parte dos inimigos de DEUS. Mas, outras vezes, ela nascia dentro da família da fé. A carta de II Timóteo fala destes como tendo forma de piedade, mas sem estarem com a verdade. Aliás, eles resistem à verdade (II Tm 3:5,8). Mas eles conseguem chegar e tem público. Como diz ainda a 2ª carta a Timóteo, eles penetram sorrateiramente nas casas e conseguem cativar mulherzinhas carregadas de pecado, conduzidas de várias paixões, que aprendem sempre e jamais podem chegar ao conhecimento da verdade (II Tm 3:6,7).


“Achamo-nos tão impregnados de uma filosofia anticristã, isto é, da idéia de que nosso alvo na vida consiste em obter uma infinidade de bens materiais, ter status e gozar os prazeres do sexo, e não de viver os preceitos do Sermão do Monte, que o cristianismo praticado hoje, na verdade, não passa de uma apostasia, pois se curvou diante do espírito desta época” escreveu Carl F. Henry em seu livro The Twilight of a Great Civilization (O Crepúsculo de uma Grande Civilização). Em “O Evangelho segundo Jesus”, esse mesmo autor afirma: “O que os pregadores estão oferecendo a seus ouvintes é felicidade, gozo, senso de realização e tudo que é positivo. Os crentes aprendem que, para evangelizar alguém, basta identificar os problemas psicológicos do indivíduo depois apresentar-lhe JESUS como a panacéia para tais males. Esse tipo de pregação encontra grande aceitação, pois os homens estão atrás de soluções rápidas para seus problemas”.




Essa preocupação não é novidade nos círculos evangélicos. Há mais de cinqüenta anos, A. W. Tozer expressou em um de seus livros “uma profunda preocupação pela condição espiritual da igreja”. Disse ele: “O erro do evangelismo moderno está em sua perspectiva humanista”. E afirmou que grande parte da atividade verificada entre os crentes não passava de “aceleração sem avanço”.


Hoje, passadas cinco décadas, muitos líderes evangélicos estão reconhecendo a verdade desta afirmação de Tozer. Percebemos que o poder espiritual dos crentes evangélicos vem declinando rapidamente. Estamos atingindo um ponto crítico no evangelismo e precisamos reconhecer que há alguma coisa errada: conosco e em nós. A Palavra de DEUS ensina que JESUS não mudou nem nunca mudará (Hb 13:8). Então está na hora de fazermos um profundo exame interior para descobrirmos as causas de nossa ineficiência como testemunhas da verdade de CRISTO, para o mundo que nos cerca.


A liderança da Igreja está precisando ouvir de novo as palavras que DEUS disse por intermédio do profeta Ezequiel há muitos séculos: “A fraca não fortalecestes, a doente não curastes, a quebrantada não ligastes, a desgarrada não tornastes a trazer e a perdida não buscastes, mas dominais sobre elas com rigor e dureza” (Ez 34:4).


A teologia da cruz é, pois, o referencial de toda a teologia. E a teologia que abraçamos determina a visão de mundo que temos (e vice-versa), a evangelização que praticamos e a pastoral que exercemos. Seja isso de forma elaborada e consciente, seja de forma empírica e até inconsciente. O esfriamento do amor, a perda do temor de DEUS e a perda da humildade são questões que falsificam a identidade da verdadeira Igreja. Práticas, no mínimo questionáveis, estão embaçando a “luz” e estragando o “sal”. O amor ao mundo leva a Igreja a medir prosperidade em termos materiais, desvirtuando o conceito bíblico de bênção e carregando em seu bojo a injustiça, o favoritismo, a perseguição e a acepção de pessoas, não revelando traço algum de compaixão.


A falta de temor torna a relação com DEUS uma relação utilitarista e humanista onde a função principal de DEUS seria abençoar o crente em detrimento a quem ELE é (o SENHOR) e às SUAS decisões soberanas, uma inversão de papéis, beirando ao paganismo e a irreverência "Agora, pois, ó Israel, que é que o SENHOR requer de ti? Não é que temas o SENHOR, teu Deus, e andes em todos os seus caminhos, e o ames, e sirvas ao SENHOR, teu Deus, de todo o teu coração e de toda a tua alma... Ao SENHOR, teu Deus, temerás; a ele servirás, a ele te chegarás e, pelo seu nome, jurarás. Ele é o teu louvor e o teu Deus, que te fez estas grandes e temíveis coisas que os teus olhos têm visto." (Dt 10:12,20,21). O orgulho espiritual representa um grande perigo para os cristãos. É possível desfrutar tanto das bênçãos de DEUS que nos imaginamos mais espirituais que os outros. Os que desfrutam de boa saúde repreendem os crentes que não são curados. Se não com palavras, mas com atitudes ou mensagens arrogantes: “Se você tivesse a fé que eu possuo, seria curado”.


Os pecados da falta de amor, da falta de temor e do orgulho são destrutivos, pois desfazem o relacionamento de uma pessoa com DEUS e com os demais servos. Confissão, arrependimento e santificação são os caminhos para restaurar a identidade ameaçada, pois “perto está o Senhor dos que têm o coração quebrantado, e salva os contritos de espírito”.
                       

CONCLUSÃO


Concluindo, espero em DEUS ter contribuído para despertar o seu desejo de aprofundar-se em tão precioso ensino e ter lhe proporcionado oportunidade de agregar algum conhecimento sobre estes assuntos. Conseguindo, que a honra e glória seja dada ao SENHOR JESUS. 


Ev. José Costa Junior



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