1 de junho de 2011

ASSEMBÉIA DE DEUS 100 ANOS DE PENTECOSTES

ASSEMBÉIA DE DEUS 100 ANOS DE PENTECOSTES – Ev. José Costa Junior


CONSIDERAÇÕES INICIAIS


            O tema desta lição diz respeito aos 100 anos da Assembléia de DEUS no Brasil. Ao tratarmos tal assunto, se faz necessário montar um resumido quadro de eventos que antecederam o movimento pentecostal, este grande avivamento dos séculos XIX e XX, que deu origem a sua denominação de maior representatividade; as Assembléias de DEUS.


           O mundo ocidental do século XIX passava por grandes agitações. A ciência impunha-se como única explicação para todos os problemas da humanidade. A visão idealizada do mundo e da sociedade é substituída por uma concepção de vida pautada em atitudes materialistas e cientificistas. Desenvolvem-se novas correntes filosóficas e científicas e disseminam as idéias liberais, socialistas e anarquistas. A corrupção moral e o modernismo teológico contaminavam as igrejas evangélicas da época, tirando-lhes o entusiasmo evangelístico, a busca pela santidade e a crença na possibilidade de milagres operados por DEUS. A estratégia missionária de construção de escolas, orfanatos e ambulatórios médicos com a finalidade de atrair populações nativas à conversão, dera resultados desanimadores. Estava se criando um cristianismo sofisticado, mas carente de vitalidade para responder as novas demandas de uma sociedade aflita.
           

Dentro deste ambiente, DEUS promoveu dois avivamentos que foram precursores do movimento pentecostal. O primeiro na Inglaterra, em 1830, durante o ministério de Edward Irving e o segundo no extremo sul da Índia, por volta de 1860. Nestes dois movimentos, há registros que fazem referências a se falar em outras línguas e à profecia.


            A doutrina da perfeição cristã ensinada por João Wesley chega à América do Norte e inspira o crescimento do Movimento da Santidade. Alguns teólogos de bastante influência na época como Charles G. Finney, Dwight L. Moody e R. A. Torrey acreditavam que o batismo com o ESPÍRITO SANTO seria uma segunda obra da graça, revestindo o cristão de poder do alto.


            Chamava a atenção dos norte americanos os ministérios, desenvolvidos na Alemanha, que ressaltavam a oração pelos enfermos, na crença no poder miraculoso de DEUS; a cura divina e a teoria promulgada por Benjamin Hardin Irwin sobre a terceira obra da graça divina que, depois da salvação e da santificação, seria o “batismo de amor ardente”.  Não obstante esta controversa noção de chamar de terceira obra da graça – o revestimento de poder no serviço cristão – esta noção de revestimento de poder deu fundamento ao Movimento Pentecostal.


            O entendimento de W. C. Godbey, líder e fundador do Movimento de Santidade, de que o “dom de línguas” era “destinado a desempenhar um papel de destaque na evangelização do mundo pagão” ecoou na Escola Bíblica Betel, em Topeka, Kansas, com a maioria dos alunos batizados no ESPÍRITO SANTO, com evidência em falar línguas estranhas, testemunhado pelo pregador da Santidade Charles Fox Parham.


            Como reação em cadeia, Topeka contribuiu para o avivamento da Rua Azusa que recebeu notoriedade internacional através do jornal Apostolic Faith, escrito pelo afro americano Willian J. Seymour, líder do movimento e dos servos de DEUS que saíram da Rua Azusa para propagar este maravilhoso avivamento em toda a América do Norte e no estrangeiro.    


            Diante deste cenário, encontramos dois jovens suecos, Daniel Berg e Gunnar Vingren que, nos Estados Unidos, foram alcançados por este avivamento que varreu a nação.
            O objetivo deste estudo é trazer algumas informações, colhidas dentro da literatura evangélica, com a finalidade de ampliar a visão sobre os 100 anos da Assembléia de Deus. Não há nenhuma pretensão de esgotar este vasto assunto ou de dogmatizá-lo, mas apenas trazer ao professor da EBD alguns elementos e ferramentas que poderão enriquecer sua aula.



O CHAMADO MISSIONÁRIO DOS PIONEIROS


            Daniel Berg, que nasceu em Vargon, na Suécia, conheceu seu futuro companheiro nas missões, o conterrâneo Gunnar Vingren, durante uma conferência em Chicago. Gunnar Vingren estava recém formado num Instituto Bíblico e desejoso de ser um missionário. Ambos, cheios do poder pentecostal, passaram a buscar do Senhor o Seu direcionamento para suas vidas. Certo dia, o dono da casa que Gunnar Vingren morava teve um sonho. Tinha visto o nome Pará e foi-lhe revelado que seria uma orientação para aqueles jovens. Logo descobriram que Deus os chamava para o Brasil. Apesar do pouco entusiasmo da igreja, e de nenhuma promessa de ajuda financeira, ambos foram separados para serem missionários no Brasil, cheios de convicção divina. A última e grande confirmação da parte de Deus foi quando o Senhor pediu a Vingren que desse 90 dólares, exatamente o valor que eles tinham para a viagem, para um jornal pentecostal. Eles, em obediência, o fizeram. Porém, extraordinariamente, o Senhor os devolveu o exato montante, usando um irmão em outra cidade, que foi revelado por Deus para tal. Berg e Vingren partiram para o Brasil no dia 5 de Novembro de 1910. Durante a viagem, eles já puderam experimentar um pouquinho o que seria o seu campo. No navio, se converteu a primeira alma para Jesus, desde que eles foram separados como missionários. Então, no dia 19 do mesmo mês chegaram à cidade de Belém do Pará.


            Daniel Berg, no seu livro de memórias “Enviado por Deus”, assim relata: “No dia 19 de novembro de 1910, avistamos a cidade de Belém, no Estado do Pará. Estávamos ansiosos por conhecer a terra para a qual o Senhor nos enviara. Todos os passageiros tinham pressa em desembarcar. Parentes e amigos os esperavam no cais. Porém nós não tínhamos ninguém. (...) E começamos a andar até alcançarmos o jardim de uma praça. Sentamo-nos em um banco e oramos ao Senhor para que nos mostrasse o caminho que devíamos seguir. Começava a escurecer."



            Gunnar Vingren conta, no Diário do Pioneiro, sobre a sua chamada, o seguinte: "Nessa época visitei a Convenção Geral dos Batistas Americanos e então foi resolvido que eu seria enviado como missionário a Assam, Índia, juntamente com minha noiva. Até aquele tempo eu estava convencido de que isto era a vontade de DEUS para a minha vida. Porém, durante a Convenção, DEUS me fez sentir que não era essa a sua vontade (...) o ESPÍRITO SANTO falou através desse irmão que eu deveria ir para o Pará (...) Eu havia sacrificado o privilégio de ter cursado durante quatro anos no Seminário Batista, e renunciado a chance de ser enviado como missionário à Índia (...) Procurávamos também manter muitos contatos com os irmãos e a participar dos cultos da Igreja Batista (...) Mais ou menos seis meses após a nossa chegada, os diáconos da Igreja Batista me disseram: 'Irmão Vingren, na próxima terça-feira o irmão dirigirá o culto de oração'. Isto foi em maio de 1911. Eu atendi ao pedido. Li alguns versículos que falam sobre o batismo com o Espírito Santo (...) todas as demais pessoas que tinham vindo da igreja Batista, creram então que isto era obra de Deus (...) estes dezoito irmãos saíram então da igreja Batista para nunca mais voltar. Isto aconteceu no dia 13 de junho de 1911".


A FUNDAÇÃO DA ASSEMBLÉIA DE DEUS NO BRASIL


            Os primeiros a declararem publicamente sua crença nas promessas divinas foram às irmãs Celina Albuquerque e Maria Nazaré. Elas não somente creram, mas resolveram permanecer em oração até que Deus as batizasse com Espírito Santo conforme o que está registrado em Atos 2.39. Numa quinta-feira, uma hora da manhã de dois de junho de 1911, na Rua Siqueira Mendes, 67, na cidade de Belém, Celina de Albuquerque, enquanto orava, foi batizada com o Espírito Santo. Devido a este movimento pentecostal, Daniel Berg e Gunnar Vingren e mais 18 simpatizantes foram expulsos daquela Igreja Batista, no dia 13 de junho de 1911. Na mesma noite da expulsão, ao chegarem à casa da irmã Celina, na Rua Siqueira Mendes, 67, os irmãos resolveram passar a se congregar ali, o que normalmente foi feito pelo espaço de mais ou menos três meses, com cultos dirigidos pelo missionário Vingren e pelo irmão Plácido. Daniel Berg pouco falava, por ainda estar atrasado no aprendizado da língua. No dia 18 de junho, domingo, fundaram uma nova igreja e adotaram o nome de Missão de Fé Apostólica, que já era empregado pelo movimento de Los Angeles, mas sem qualquer vínculo administrativo com William Joseph Seymour. A partir de então, passaram a reunir-se na casa de Celina de Albuquerque. Mais tarde, em 18 de janeiro de 1918 a nova igreja, por sugestão de Gunnar Vingren, passou a chamar-se Assembléia de Deus, em virtude da fundação das Assembléias de Deus nos Estados Unidos da América, em 1914, em Hot Springs, Arkansas, mas, outra vez, sem quaisquer ligações, quer institucional ou de outra forma qualquer, entre as igrejas.


            A Assembléia de Deus no Brasil se expandiu pelo Estado do Pará, alcançou o Amazonas, propagou-se para o Nordeste, principalmente entre as camadas mais pobres da população. Chegou ao Sudeste pelos idos de 1922, através de famílias de retirantes do Pará, que se portavam como verdadeiros missionários para estabelecerem a nova denominação aonde quer que chegassem. Nesse ano, a igreja teve início no Rio de Janeiro, no bairro de São Cristóvão, e ganhou impulso com a transferência de Gunnar Vingren, de Belém, PA, em 1924, para a então capital da República.
Um fato que marcou a igreja naquele período foi à conversão de Paulo Leivas Macalão, filho de um general, através de um folheto evangelístico. Foi ele o precursor do assim conhecido Ministério de Madureira.


           A influência sueca teve forte peso na formação assembleiana brasileira, em razão da nacionalidade de seus fundadores, e graças à igreja pentecostal escandinava, principalmente a Igreja Filadélfia de Estocolmo, que, além de ter assumido nos anos seguintes o sustento de Gunnar Vingren e Daniel Berg, enviou outros missionários para dar suporte aos novos membros em seu papel de fazer crescer a nova Igreja. Desde 1930, quando se realizou a primeira Convenção Geral da igreja na cidade de Natal, RN, a Assembléia de Deus no Brasil passou a ter autonomia interna, sendo administrada exclusivamente pelos pastores residentes no Brasil, sem, contudo, perder os vínculos fraternais com a igreja na Suécia. A partir de 1936 a igreja passou a ter maior colaboração das Assembléias de Deus dos EUA através dos missionários enviados ao país, os quais se envolveram de forma mais direta com a estruturação teológica da denominação, com ênfase no Batismo com o ESPÍRITO SANTO, com a evidência no falar em línguas estranhas, Dons Espirituais e na vinda de Jesus.


OS MISSIONÁRIOS E O DESENVOLVIMENTO DOUTRINÁRIO NAS ASSEMBLÉIAS DE DEUS


            Gary B. McGee, comentando o desenvolvimento do ensino teológico pentecostal no Brasil, afirma que: “a Assembléia de DEUS não teve, em suas primeiras décadas de existência no Brasil, o ensino teológico formal como a sua prioridade básica. Sendo um movimento essencialmente apostólico, concentrou todos os seus recursos na evangelização de um país cujo território é várias vezes maior que a Europa Ocidental”. Apesar disto, sendo Gunnar Vingren um pastor com formação teológica, preocupou-se ele em instruir os neoconversos, com ênfase nas doutrinas pentecostais. O “Voz da Verdade”, primeiro jornal da Assembléia de Deus no Brasil, dirigido pelo pastor Almeida Sobrinho e João Trigueiro da Silva, tem artigo intitulado “JESUS é quem batiza no ESPÍRITO SANTO” demonstrando sua principal finalidade, que era a divulgação doutrinária.


            No ano de 1919 surge a “Boa Semente” e em 1929 o “Som Alegre” sobre o qual Gunnar Vingren assim escreve: “Em o Som Alegre anunciaremos as promessas gloriosas incluídas no Evangelho de nosso Senhor JESUS CRISTO, ou seja, a salvação completa e perfeita de todos os pecadores e tudo o que pertence à nova vida cristã: o batismo no ESPÍRITO SANTO, os dons espirituais e a próxima e gloriosa vinda do SENHOR”. Em 1930, foi criado o “Mensageiro da Paz”, em substituição a estes dois periódicos, proporcionando uma ampla gama de estudos bíblicos, devocionais e notas homiléticas.




             Gary B. McGee continua dizendo que: “outro fator de progresso do ensino teológico no meio pentecostal brasileiro foram às escolas bíblicas dominicais. Realizadas com o apoio de literatura fornecida pela CPAD (Casa Publicadora das Assembléias de DEUS), constituindo-se no principal instrumento de divulgação, entre os crentes, das doutrinas que caracterizavam o movimento, ensejando-lhes a oportunidade de apregoar com segurança a sua fé. A fundação, em 1959, do Instituto Bíblico das Assembléias de DEUS, na cidade de Pindamonhangaba-SP, pelo casal João Kolenda Lemos e Ruth Doris Lemos e a criação do Instituto Bíblico Pentecostal, em 1962, na cidade do Rio de Janeiro, pelo missionário Lawrence Olson muito contribuíram para a formação teológica e cultural de muitas lideranças expressivas do Brasil e até de obreiros de outros países”.


            Dentro do desenvolvimento das Assembléias de DEUS, cabe comentar que a construção de uma doutrina pentecostal requereu tempo, estudos bíblicos com profundidade e posicionamentos equilibrados consonantes com a Palavra de DEUS para se chegar a um entendimento maduro e bíblico em seu escopo doutrinário. Muitos acontecimentos registrados no início do movimento pentecostal e que hoje são usados como justificativas para comportamentos que fazem escandalizar o descrente, monopolizar as atenções e criar um ambiente de desordem e irracionalidade no culto, são melhores analisados diante do atual entendimento doutrinário pentecostal, concluindo que a Bíblia não oferece nenhum respaldo para tais “moveres”. Cito a oitava ELAD, que foi um encontro de pastores assembleianos ligados a CGADB, na cidade de Porto-Seguro- BA, em outubro de 2002, que reafirmou a posição contrária da Assembléia de Deus em relação a “cair no Espírito”, “sopro do Espírito”, “benção de Toronto”, “dançar no Espírito”, “dentes de ouro”, “unção do riso” e outros modismos. Como já disse, ao comentar sobre o genuíno culto pentecostal, o Espírito Santo não se apossa da pessoa, dominando-lhe as ações, lhe tirando o domínio do corpo “pois os espíritos dos profetas estão sujeitos aos profetas ICo 14;32”. O Espírito Santo toca as emoções e os crentes respondem; uns de forma madura, dando glórias a DEUS, falando línguas estranhas, orando e louvando ao SENHOR com decência e ordem, outros se expressando de forma menos madura e desobedecendo as orientações bíblicas “Mas faça-se tudo decentemente e com ordem” (I Co 14:40).

           
CONCLUSÃO


Hoje passamos por insidiosas perturbações sociais de ordem moral e ética. A inversão dos valores e a relativização da verdade têm procurado atingir às igrejas evangélicas para que estas negociem com o pecado sob pena de se tornarem fora da lei. Mas as Assembléias de DEUS permanecem firmes na obediência à Palavra e no propósito de ser instrumento nas mãos de DEUS para a salvação de muitos (Mas Pedro e João responderam: Os senhores mesmos julguem diante de Deus: devemos obedecer aos senhores ou a Deus? Pois não podemos deixar de falar daquilo que temos visto e ouvido At 4:19,20).



Concluindo, espero em DEUS ter contribuído para despertar o seu desejo de aprofundar-se em tão empolgante tema e ter lhe proporcionado oportunidade de agregar algum conhecimento sobre estes assuntos. Conseguindo, que a honra e glória seja dada ao SENHOR JESUS.

Ev. José Costa Junior










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