18 de maio de 2011

O GENUÍNO CULTO PENTECOSTAL


O GENUÍNO CULTO PENTECOSTAL – Ev. José Costa Junior


CONSIDERAÇÕES INICIAIS

            O assunto desta lição diz respeito ao genuíno culto pentecostal. Já foi dito que a Assembléia de Deus, desde sua criação, vem levantando a bandeira do pentecostalismo; a atualidade dos dons espirituais. As experiências práticas no uso dos dons espirituais e a vitalidade do culto pentecostal, esvaziaram, pela constatação prática da atuação divina nas vidas de seus membros, os argumentos cessacionistas que não observam o balizamento que Paulo colocou para as manifestações dos dons espirituais; do Pentecostes ao arrebatamento da Igreja “...de maneira que nenhum dom vos falta, enquanto aguardais a manifestação de nosso Senhor Jesus Cristo” (ICo 1;7).

            Entendo o “movimento pentecostal” como um resgate a todos os elementos existentes no culto prestado pela igreja primitiva e na expressão de sua comunhão com DEUS. Este resgate tem, na sua formação histórica, componentes  surgidos em 1901, no Colégio Bíblico Betel, em Topeka, Kansas, EUA, quando Charles Parhan impôs as mãos sobre Agnes Ozman e ela começou a falar em “línguas estranhas” e, principalmente, nos cultos de avivamento da Missão da Rua Azuza, em Los Angeles, Califórnia, sob a direção do pastor William Seymour. A chegada ao Brasil dos missionários suecos Gunnar Vingren e Daniel Berg promoveu, a fundação da que é hoje a maior igreja pentecostal do mundo; a Assembléia de DEUS.

            Assim como o movimento pentecostal, a doutrina pentecostal nada mais é do que a obediência da Palavra em sua integralidade, não desprezando os dons (cessacionistas), mas também não agregando “coisas novas” (nova unção, novo mover...), pois entendemos que o plano de DEUS para a SUA igreja foi estabelecido em SUA santa e eterna Palavra. Acreditar em um “novo mover de DEUS” sem ressonância bíblica é acreditar em um deus imprevidente, que faz ajustes na história; este não é o onisciente DEUS da Bíblia ao qual cremos.

            No entanto, muitos membros de nossas igrejas sentem certo desconforto com o modo que estão sendo direcionadas as atividades feitas nas igrejas, no tocante aos dons espirituais durante o serviço (culto) prestado ao nosso DEUS. Percebem que há algo muito estranho, mas não sabem como colocar o problema e por vezes, temem serem taxados de “crentes frios” e “não espirituais” até mesmo pela liderança da congregação.

            Diante deste cenário, se faz necessário uma reflexão analítica e equilibrada sobre o culto pentecostal. Existe uma tendência em vários grupos neopentecostais, advinda dos valores da pós-modernidade, de subordinar o ensino da sã doutrina a uma mensagem que eleve a auto-estima e massageie o ego humano, mensagens estas embutidas em cânticos triunfalistas, pregações e palavras de ordem com claros apelos emocionais (você é um vencedor!..., receba agora!), deslocando, sutilmente, a execução de um culto cristocêntrico (à CRISTO), para um culto antropocêntrico (ao homem). Este comportamento tem contaminado várias de nossas igrejas que, por não confrontar tais distorções com a Palavra de DEUS, absorvem e reproduzem tais práticas. Existe uma clara miopia no uso da Palavra; esta foi escrita por DEUS para ser obedecida e não para dar falso respaldo, através de interpretações distorcidas, onde se constrói o significado de acordo com os mais diversos interesses, desobedecendo a Palavra sob um manto de suposta “obediência”   ( IJo 4;1).

            O objetivo deste estudo é trazer algumas informações, colhidas dentro da literatura evangélica, com a finalidade de ampliar a visão do que o comentarista desta lição chama de culto genuinamente pentecostal e fazer coro com o autor da lição para alertar o povo de DEUS quanto a práticas não bíblicas. Não há nenhuma pretensão de esgotar o assunto ou de dogmatizá-lo, mas apenas trazer ao professor da EBD alguns elementos e ferramentas que poderão enriquecer sua aula.


ADORAÇÃO E CULTO

            No Antigo Testamento a palavra hebraica traduzida como “adoração” é shachah. No Novo Testamento, a palavra grega que foi traduzida como “adoração” é proskuneo. Em ambos os casos a definição desta palavra é “prostrar-se em humilde homenagem”. Isso simplesmente transmite o conceito que a verdadeira adoração a um DEUS SANTO envolve total submissão, humildade e reverência. Adorar a DEUS não tem a ver com o adorador, mas com DEUS. A adoração não objetiva fazer o adorador sentir-se melhor sobre si mesmo, mas a verdadeira adoração a um DEUS SANTO fará o adorador ver a si mesmo como ele realmente é diante da magnificente e incompreensível santidade de DEUS.

O conceito pagão sobre divindade, que entendia a relação deus-homem de forma utilitarista; os homens adoravam aos deuses (lhes prestavam cultos e sacrifícios) em troca de benefícios (boas colheitas, vitórias em guerras) é bem caracterizado pelas palavras da esposa de Jó quando lhe diz: “-...amaldiçoa o teu DEUS e morre” por ver que o DEUS que Jó servia não lhe era propício em nada. Jó quebra este conceito nos ensinando que O adoramos pelo que ELE é e não pelo que ELE nos dá: “...temos recebido o bem de DEUS e não receberíamos também o mal?”. A igreja hodierna tem esquecido este ensinamento, transformando-se em um grande “supermercado”, onde as pessoas vão lá para buscar a sua “bênção” e não mais para oferecer culto. Certa feita, um pastor encontrou em uma loja um irmão que a muito não o via freqüentar os cultos de sua igreja. Após breve cumprimento disse que estava sentindo sua falta nos  cultos e o irmão assim respondeu: “- É mesmo pastor, eu tenho que ir para a igreja pois tenho passado algumas dificuldades...”.
Não podemos perder a noção do que estamos fazendo na igreja. Quando DEUS ordenou a libertação do povo Hebreu para Faraó, através de Moisés, ELE nos deu clara indicação de um culto coletivo a SUA pessoa (Ex 3;18). O povo de DEUS reunido para prestar-LHE culto deve ter a clara noção do que  Deus se compraz quando está a ser cultuado e adorado. A adoração deve partir do íntimo do indivíduo, sendo verdadeira e sincera (Jo 4.24), o culto deve ocorrer num ambiente marcado por decência e ordem (1Co 14.40), o crente que cultua deve ter a alma mergulhada em reverência e santo temor (Hb 12.28-29)  e o culto genuíno deve ser oferecido a Deus por meio de um mediador, o qual é Jesus Cristo (Ef 2.18; 1Tm 2.5).

COMPOSIÇÃO DO CULTO PENTECOSTAL

            Que fazer, pois, irmãos? Quando vos congregais, cada um de vós tem salmo, tem doutrina, tem revelação, tem língua, tem interpretação. Faça-se tudo para edificação ICo 14;26. Mas faça-se tudo decentemente e com ordem ICo 14;40. Rogo-vos pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos como um sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional Rm 12;1.(grifo nosso)

            Dentro destes versículos nós podemos ver claramente a orientação bíblica para o culto: edificação, decência, ordem e racionalidade. Poder de DEUS, batismo com o Espírito Santo, curas divinas, milagres e, principalmente, salvação de almas não são elementos excludentes com a edificação, decência, ordem e racionalidade no culto, muito pelo contrário, são todos componentes do culto genuinamente pentecostal.

 Vamos agora, consultando as lições de n° 4 e 5, desta mesma revista, construir alguns conceitos largamente empregados pelo povo de DEUS e, por vezes, de forma equivocada:

Ø Liberdade ao Espírito Santo é permitir que ELE continuamente trabalhe em nossas vidas, aperfeiçoando-nos o caráter, moldando-nos a personalidade e controlando-nos o temperamento.
Ø Cheios do Espírito Santo é ser controlado, guiado e governado por ELE, exteriorizando em nossas vidas, através de ações morais concretas, o fruto do Espírito.
Ø Unção é a habitação do Espírito Santo no regenerado. Dessa forma, todo verdadeiro cristão é ungido por Cristo, com o Espírito de Deus.
Ø  
Vale ressaltar que rotulação de "ungido" em pessoas específicas dentro da igreja é biblicamente errado, pois a unção não é privilegio de um grupo (IJo 2;20 e 27). Assim como também é errado atribuir ao Espírito Santo a responsabilidade pelas expressões comportamentais provenientes das estimulações emocionais que O mesmo provoca (alegria, paz, consolo, entusiasmo...).
O Pular, gritar, correr, dançar, cair, rolar pelo chão, gargalhar, imitar animais como leão, touro, gato, lagartixa, fazer “aviãozinho” e outras expressões comportamentais, não caracterizam estar cheio do Espírito Santo, dar liberdade ao Espírito Santo ou muito menos, o recebimento de alguma “unção especial”. Isto nada mais são do que atitudes racionais do indivíduo, como resposta ao estímulo emocional recebido. O Espírito Santo não se apossa da pessoa, dominando-lhe as ações, lhe tirando o domínio do corpo “pois os espíritos dos profetas estão sujeitos aos profetas ICo 14;32”. O Espírito Santo toca as nossas emoções e nós respondemos; uns de forma madura, dando glórias a DEUS, falando línguas estranhas, orando e louvando ao SENHOR com decência e ordem, outros se expressando de forma menos madura e desobedecendo as orientações bíblicas. Procurarei, de uma forma simples, demonstrar o que digo:




Não obstante a ação do Espírito Santo (FONTE) no lado emocional do cristão (CAUSA), ele, o cristão, em momento algum, perde o governo de suas ações (CONSEQUÊNCIA). Portanto irmãos, vamos dar o nome certo às atitudes que só fazem escandalizar o descrente, monopolizar as atenções e criar um ambiente de desordem e irracionalidade; “meninice”! (Ef 4;14).

Quando os cristãos se reúnem para cultuar ao SENHOR, a ênfase da reunião deve ser a pregação da Palavra de DEUS. Existem outros aspectos da reunião, como o louvor, a oração e a comunhão, mas a ênfase descrita no Novo Testamento está na pregação. É pela pregação expositiva que a Palavra de DEUS é apresentada, explicada e detalhada. Destarte, a Pregação da Palavra de DEUS deve ser o ponto focal do serviço de adoração e tal pregação deve “redargüir, repreender e exortar”, conforme o apóstolo Paulo delineou para Timóteo. Dessa maneira os fiéis são corrigidos, edificados e equipados para enfrentar as provações e tentações que encontram fora das paredes da igreja.

Com a profusão de conjuntos vocais, duplas e cantores avulsos que normalmente participam do culto ao nosso DEUS, o tempo destinado a pregação da Palavra tem diminuído bastante. Com isto está se anulando o impacto à causa de Cristo nos indivíduos nascidos de novo, devido à falta de crescimento e maturidade cristã que ocorre somente com o ensino bíblico sadio, comunhão cristã verdadeira e pregação expositiva da Palavra de DEUS.

A música cristã hoje é muito fraca sob o ponto de vista doutrinário. Essa fraqueza não é coincidência, pois essa música é feita para vender, não para ensinar. É feita para despertar emoções e não para transmitir as coisas profundas de DEUS.
Temos observado também que muitas canções evangélicas estão contribuindo para que o culto se torne antropocêntrico, massificando mensagens do tipo “você é um vencedor”, “você veio aqui para receber sua vitória”, DEUS tem “promessa” na sua vida, o “cativeiro” acaba hoje etc..., criando um conceito herético onde todas as coisas na vida (incluindo DEUS) tornam-se meios para um fim - a felicidade do crente. Não se encontra, no Novo Testamento, nenhuma garantia de uma vida de felicidade. O crente não é vencedor, é mais do que vencedor por Aquele que o amou. Somos mais do que vencedores porque DEUS está conduzindo as nossas vidas, porque ELE decide o melhor para nós, porque fazemos parte dos seus planos, porque ELE caminha conosco não obstante as aflições da caminhada e somos mais do que vencedores porque os nossos nomes estão escritos no Livro da Vida. Não são as circunstâncias, quando decidimos qual a melhor solução para nós, que expressa vitória, a vitória que vence o mundo é a nossa fé, é confiar NELE a despeito das circunstâncias que vivemos. O louvor deve ser dirigido a DEUS para adorar, honrar e enaltecer o SEU santo nome, não para fazê-LO de instrumento para as nossas particulares “vitórias”. E pôs um novo cântico na minha boca, um hino ao nosso Deus; muitos o verão, e temerão, e confiarão no SENHOR Sl 40;3.


MODISMOS LITÚRGICOS


            Existe uma verdadeira onda que se diz “avivalista” no meio das igrejas evangélicas hoje. Liturgias conduzidas em forma de shows gospel, hinos badalados com ritmos e letras sensuais e um ambiente carregado de apelos emocionais, cheios de sonhos, visões e revelações sem nenhuma consonância com a Palavra de DEUS que, aliais, é quase totalmente desprezada, tem recebido o nome de “cultos de avivamento”. Buscam-se sinais e esquecem a santidade, querem milagres e não uma vida cheia do Espírito, anseiam mais as bênçãos de Deus do que o Deus das bênçãos.

            Avivamento não é isto. Não é ação da igreja, mas de Deus. Não é liturgia animada, com coreografias e muito barulho, é oração fervorosa e louvor sincero, convicção do pecado, um querer profundo por santidade de vida e um grande desejo pela pregação do evangelho, causando conversão de multidões que até o momento estiveram alienadas na indiferença e no pecado.

            Lideres carismáticos de personalidades cativantes e que muitas vezes possuíram, no passado, uma vida piedosa, tem arrebatado multidões para práticas pouco ortodoxas, no culto ao SENHOR. As pessoas são advertidas a não questionarem estes “homens de DEUS” por causa da “unção” que está sobre eles. Falam qualquer coisa mesmo em dissonância com a Palavra de DEUS, e tudo que falam se torna “verdade absoluta”, sem questionamento para que não seja impetrada maldição sobre o questionador.
Acreditam possuir uma “imunidade espiritual” e citam, totalmente fora de contexto, I Cr 16:22 “Não toqueis nos meus ungidos, nem maltrateis os meus profetas”, para que nada se fale contra sua “autoridade” espiritual. Isto é uma forma de dominação que busca cegar o entendimento dos servos de DEUS, impedindo-os de meditar na Palavra, com a finalidade de acorrentá-los em falsas doutrinas e ter liberdade para cometerem quaisquer tipos de faltas, sem repreensões. A igreja de Cristo precisa tomar o exemplo dos irmãos de Beréia, e examinar nas escrituras, se há conformidade e fundamento no Antigo e no Novo Testamento legados pelo SENHOR, quanto ao que se é pregado ou ensinado, discernindo o que é de DEUS e o que não é. (At 17:10,11)

            Algumas pessoas se prendem aos cultos promovidos por tais líderes, por acharem que tendo curas e operações de milagres, só pode ser de DEUS, mas o poder sobrenatural de DEUS nunca se manifesta para agradar a carne ou ganhar o favor para os ministros de DEUS. Paletó e sopro ungido, “cair no poder”, “unção do riso” e outros moveres são manifestações que não edificam, e sim escandalizam, não há decência e ordem, e sim grande alvoroço e não há racionalidade e sim atitudes irracionais. Portanto, endosso o que foi constatado na oitava ELAD, que é um encontro de pastores assembleianos ligados a CGADB, onde nas palestras ministradas pelos pastores José Wellington Bezerra da Costa, Antonio Gilberto, Elienai Cabral e Elinaldo Renovato de Lima, os mais de 700 pastores e evangelistas inscritos no encontro, puderam constatar que a Bíblia não oferece nenhum respaldo para tais acontecimentos e reafirmaram que o autêntico mover do Espírito é aquele que traz avivamento espiritual, batismo no Espírito Santo e transformação na vida do homem.”. Dizer que “DEUS age como quer” para justificar tais comportamentos durante o culto não é argumento, pois realmente DEUS é soberano e age como quer,  mas ELE revela, através de SUA Palavra, SEU modo de agir. Tudo o que se credita a DEUS e não se encontra amparo na Bíblia, é heresia, pois Deus tem compromisso com a verdade e a sua Palavra é a verdade e toda atividade de culto precisa estar fundamentada na Palavra.

            A Palavra não sendo o fundamento de toda a vida cristã, seremos também alvos fáceis do evangelicalismo moderno que faz fortunas encima da exploração das massas crédulas, manipulando a fé para adquirir riquezas, fazendo do cristianismo uma religião de cobiça e a igreja uma agência de puro materialismo; “o negócio da fé”. (IIPe 2;1-3).


CONCLUSÃO

Concluindo, espero em DEUS ter contribuído para despertar o seu desejo de aprofundar-se em tão difícil tema e ter lhe proporcionado oportunidade de agregar algum conhecimento sobre estes assuntos. Conseguindo, que a honra e glória seja dada ao SENHOR JESUS. 




A cumplicidade com o erro tirará dos melhores homens o poder de entrar em qualquer protesto bem sucedido contra o erro. É nossa convicção solene que não pode haver nenhuma comunhão espiritual real, nenhuma falca associação. A associação com o erro vital e conhecido é participação no pecado. Assim que vi, ou pensei que vi, que o erro tinha se tornado firmemente estabelecido, não vacilei, mas deixei o corpo imediatamente. Desde então meu conselho é, “Sai do meio deles”. Acho que nenhum protesto poderia ser igual à separação distinta do mal conhecido. Para não tornar ridículo o meu testemunho, afastei-me daqueles que se desviaram da fé, e até mesmo daqueles que se associaram com eles. Custe o que custar, a separação daqueles que se separaram da verdade de DEUS não é não apenas a nossa liberdade, mas nosso dever.                                                                               Charles Spurgeon
 









Ev. José Costa Junior




REFERÊNCIAS BÍBLIOGRÁFICAS
ARAUJO, Israel de. Dicionário do Movimento Pentecostal – 1ª Ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2007

GRUDEM, Weine A. Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 1999

HORTON, Stanley (org.). Teologia Sistemática: uma perspectiva pentecostal – 1ª Ed. – Rio de Janeiro, RJ: Casa Publicadora das Assembléias de Deus, 1996.
  

Elaboração por:- Ev. Ev. José Costa Junior



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