4 de julho de 2010

A FORMAÇÃO DO ANTIGO TESTAMENTO

A FORMAÇÃO DO ANTIGO TESTAMENTO

TEXTO AUREO = “E disse-lhes: São estas as palavras que vos disse estando ainda convosco: Convinha que se cumprisse tudo o que de mim estava escrito na Lei de Moisés, e nos Profetas, e nos Salmos” (Lc 24.44).

VERDADE PRÁTICA = O mesmo Deus que inspirou os escritores sagrados a escrever o Antigo Testamento, dirigiu a formação do cânon sagrado.

LEITURA BIBLICA = LUCAS 24.25-27

INTRODUÇÃO

Estudamos, na lição passada, a produção do Antigo Testamento. Hoje, veremos como os livros deste foram organizados, reunidos e preservados no cânon sagrado a seleção dos escritos divinamente inspirados, autorizados e reconhecidos como a única regra de fé e prática para a nossa vida.

Esse processo foi extremamente laborioso e metódico. Deus, com a sua poderosa mão, guiou os homens piedosos e sábios daquela época para esse mister.

I. O CÂNON SAGRADO

1. A palavra “cânon” na Bíblia. A palavra kanon (cânon) é de origem hebraica — qaneh “cana”, e significava “vara de medir” (Ez 40.3). Na literatura grega clássica, traz a idéia de “regra, norma, padrão”. Ela aparece no Novo Testamento com o sentido de regra moral (GI 6.16); é traduzida ainda por “medida” (2 Co 10.13, 14, 16).

2. Os livros canônicos. São os livros que compõem a Bíblia Sagrada. Nos três primeiros séculos do Cristianismo, a palavra “cânon” referia-se ao conteúdo normativo, doutrinário e ético da fé cristã. A partir do quarto século, os pais da Igreja aplicaram as palavras “cânon” e “canônico” aos livros sagrados, para chancelar a autoridade destes como inspirados por Deus, e como instrumento normativo para a fé cristã.

II. O CÂNON JUDAICO

1. As Escrituras Sagradas dos judeus. A Bíblia dos judeus é o Antigo Testamento hebraico que, hoje, eles chamam de Tanach; sigla esta que vem das palavras Torah Neviym Vechetuvym, e significam respectivamente “Lei, Profetas e Escritos” — as três principais divisões do Antigo Testamento. Os 12 Profetas Menores são um só livro e, da mesma forma, os dois livros de Samuel, Reis, das Crônicas, Esdras e Neemias que na sua totalidade somam 24 livros.

2. O arranjo dos livros do Antigo Testamento Hebraico. Esses 24 livros são exatamente os mesmos 39 livros do nosso Antigo Testamento.

Eles estão dispostos e organizados de forma diferente no cânon judaico, que é mencionado em quase todas as lições desse trimestre. Nenhum aluno deve perder de vista a classificação a seguir:

a) A Torah. É o nosso Pentateuco na mesma seqüência como em nossas Bíblias: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio.

b) Os Neviym. Estão subdivididos em 2 partes: Os Profetas Anteriores: Josué, Juízes, Samuel e Reis; e os Profetas Posteriores: lsaias, Jeremias e Ezequiel mais os Doze Profetas Menores.

e) Os Kethuvym. Compõem a terceira seção, e estão subdivididos em 3 partes, representadas pelos Livros Poéticos: Salmos, Provérbios e Jó; os Megllloth, “Cinco Rolos”: Rute, Cantares, Eclesiastes, Lamentações e Ester; e, os Livros Históricos: Daniel, Esdras-Neemias e Crônicas.

3. O Cânon ratificado pelo Senhor Jesus. Ele fez menção do cânon sagrado quando declarou: “São estas as palavras que vos disse estando ainda convosco: Convinha que se cumprisse tudo o que de mim estava escrito na Lei de Moisés, e nos Profetas, e nos Salmos” (Lc 24.44). A “Lei de Moisés” é uma referência à primeira parte do Antigo Testamento que são os cinco livros de Moisés.

Os “Profetas” são uma referência à segunda parte dessas Escrituras. A terceira parte do cânon, Jesus denominou “Salmos” porque este livro encabeça os Kethuvym, “Escritos” ou “Hagiógrafos”, palavra grega que significa “escritos sagrados”. Assim podemos afirmar que o Senhor Jesus referiu-se ao cânon judaico com suas três principais divisões.

4. O Cânon Judaico mencionado por Josefo. Flávio Josefo menciona esse cânon sagrado com as mesmas três partes: “Cinco são de Moisés; os profetas que sucederam a esse admirável legislador escreveram treze outros livros; e, os outros livros, contêm hinos e cânticos feitos em louvor de Deus e preceitos para os costumes”.

Os “outros livros” são uma referência aos Hagiógrafos. Josefo fala de 22 livros, pois havia na sua época a tentativa de associar esses livros às 22 letras do alfabeto hebraico, unindo Rute a Juízes e Lamentações a Jeremias. Ele não foi o único a considerar o cânon judaico como um conjunto de 22 livros.

III. A FORMAÇÃO DO CÂNON DO ANTIGO TESTAMENTO

1. Quando o Cânon do Antigo Testamento se estabeleceu? A menção do cânon judaico feita pelo Senhor Jesus e pelo historiador judeu Flávio Josefo, prova definitivamente que ele já existia no século 1 d.C, exatamente como o temos na atualidade quanto à apresentação e conteúdo.

Além disso, existe também o testemunho de Fílon, que foi contemporâneo de Jesus, embora vivesse em Alexandria, no Egito, que fez também menção desse cânon.

A data exata da complementação do cânon do Antigo Testamento é desconhecida. Os antigos não tinham muita preocupação com datas. Por sua vez, os vândalos sempre pilhavam e destruíam o que podiam. Nas guerras, os vencedores costumavam incendiar tudo. Talvez um dia, a arqueologia, ou um achado inesperado esclareça este pormenor do Livro do Senhor.

2. O proto-cânon. Temos evidências bíblicas da existência de um cânon sagrado proveniente de Deus para a vida e a conduta do povo. Pelo menos, o Pentateuco já apresentava essa qualificação nos dias do rei Josias (2 Rs 2 2.8- 13) e na época de Esdras e Neemias (Ed 7.14; Ne 8.1-3). Parece que esses cânones serviram de unidade básica para o cânon definitivo, O registro mais antigo do Cânon Judaico tríplice, como o conhecemos, retrocede ao século 2 a.C. A tradição rabínica afirma que o Cânon Judaico atual foi organizado por Esdras, mas quase nenhum erudito cristão confirma essa idéia.

3. O Sínodo de Jâmnia ou Yavne. Foi realizado por volta do ano 100 d.C., em Yavne, Gaza, portanto muito tempo depois do encerramento do cânon judaico. Os rabinos ali se reuniram para debater sobre a permanência de Provérbios, Eclesiastes, Cantares, Ester e Ezequiel nesse cânon, mas nada foi alterado. Ninguém mais ousou acrescentar ou diminuir qualquer coisa no texto sagrado depois que o cânon se encerrou (Dt 4.2; 12.32; Pv 30.5, 6). Josefo disse: “Ninguém jamais foi tão atrevido para tentar tirar ou acrescentar, ou mesmo modificar-lhes a mínima coisa”.

IV. OS LIVROS APÓCRIFOS

1. Os apócrifos nas edições católicas da Bíblia. São 15 livros na sua totalidade e, sete deles são, hoje, os conhecidos apócrifos inseridos nas edições católicas da Bíblia por determina ção do Concílio de Trento (1545- 1563). A palavra vem do grego, apokriphos, que significa “escondido”, e era usada para literatura secreta, ligada a mistérios. São eles: os dois livros dos Macabeus, Tobias, Judite, Sabedoria de Salomão, Eclesiástico, Baruque e os acréscimos aos livros de Ester e Daniel (três acréscimos). Jerônimo inseriu-os na Vulgata Latina como apêndice histórico e informativo e não como inspirados por Deus.

2. O testemunho de Josefo contra os apócrifos. Logo que Josefo menciona os livros do cânon judaico de seus dias, faz menção dos apócrifos quando afirma: “Escreveu-se também tudo o que se passou desde Artaxerxes até os nossos dias, mas como não se teve, como antes, uma seqüência de profetas, não se lhes dá o mesmo crédito que aos outros livros de que acabo de falar”. Ele mostrou a separação que havia entre os livros inspirados e aceitos como sagrados e os demais livros.

3. O testemunho dos judeus contra os apócrifos. Era crença dos judeus dos tempos interbíblicos que a revelação divina se havia encerrado com Esdras, mas aguardavam o reavivamento da palavra profética com a vinda do Messias. Usavam Joel 2.28-32 e Malaquias 4.5, 6 para fundamentar essa crença. Usavam ainda a tese de que não podiam ser aceitos como livros do cânon sagrado aqueles que não fossem escritos originalmente em hebraico, e os apócrifos foram produzidos em grego. Essa tese foi usada no Sínodo de Jamnia, realizado em 90 d.C., quando o cânon do Antigo Testamento foi esquadrinhado pelos eruditos judeus.

4. O testemunho interno contra os apócrifos. Os livros apócrifos apresentam erros doutrinários que destoam das Escrituras inspiradas. Ensinam heresias como a oração pelos mortos (2 Macabeus 12.38-45). Contêm erros históricos, geográficos e anacronismos (Tobias 1.3-5).

O segundo livro dos Macabeus termina pedindo desculpa pelo conteúdo do livro: “... porei fim aqui a minha narração. Se está bem como convém à história, isso é o que eu desejo; mas se, pelo contrário, é vulgar e medíocre, não pude fazer melhor” (2 Macabeus 15.38, 39).

CONCLUSÃO

Concílios e sínodos, ou até mesmo a Igreja, não estão investidos de poderes para aferir ou “canonizar” esse ou aquele livro das Escrituras. Nenhum livro da Bíblia conquistou seu espaço no Cânon Sagrado por medidas provisórias ou decretos-leis, mas pelo fato de o conteúdo deles provar sua origem divina e sua inspiração. É a Bíblia que julga a Igreja e não a Igreja a Bíblia. A Patrística e os concílios apenas aceitaram esses livros como inspirados. A Igreja confessou a canonicidade das Escrituras, e isso não significa que ela haja lhes conferido essa autoridade; ela foi apenas a editora e não a autora dos livros divinamente inspirados do Antigo Testamento como afirma 2 Pe 1.21.

Elaboração pelo:- Evangelista Isaias Silva de Jesus

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