13 de março de 2024

O Culto da Igreja Cristã

 

O Culto da Igreja Cristã

 

TEXTO ÁUREO

“Que fareis, pois, irmãos? Quando vos ajuntais, cada um de vós tem salmo, tem doutrina, tem revelação, tem língua, tem interpretação. Faça-se tudo para edificação.” (1 Co 14.26)

Entenda o Texto Áureo:

- 14.26-40 Nessa última seção a respeito das línguas, o foco está em como elas deveriam ser, sistematicamente, limitadas ao uso na igreja de maneira ordenada. Visando à discussão hipotética, é digno de atenção o fato de que, o movimento atual está totalmente em desacordo por não seguir as ordens claras e reguladoras contidas nesses versículos, isto é, como regula os versos 27 e 28: “No caso de alguém falar em outra língua, que não sejam mais do que dois ou quando muito três, e isto sucessivamente, e haja quem interprete. 28Mas, não havendo intérprete, fique calado na igreja, falando consigo mesmo e com Deus”.

- um tem. Parece que a anarquia e a falta de ordem eram exuberantes nessa congregação (v. 33). O interessante é que nem anciãos nem pastores são mencionados, e os profetas não estavam nem mesmo exercendo o controle (veja vs. 29 ,32,37). Todos estavam participando da maneira como desejassem e "quando" desejavam. salmo. A leitura ou o canto de um salmo do AT. doutrina. Refere-se, possivelmente, a uma doutrina ou tema de interesse especial (v. 33). tem língua. Tem algo que lhe foi divulgado em uma língua estrangeira ou tem o poder de falar uma língua estrangeira e a exerce, embora produza grande confusão. revelação. Alguma palavra supostamente vinda de Deus. interpretação. Refere-se à mensagem da língua para edificação. Essa foi a maneira de Paulo colocar um fim à anarquia. A edificação é o objetivo, (cf. vs. 3-5,12,17,26,31) e o caos coríntio não conseguia tornar isso real (cf. IT s 5.11; Rm 15.2-3).

 

VERDADE PRÁTICA

O culto é uma sublime forma de nos expressarmos em adoração, louvor, gratidão e total rendição a Deus.

Entenda a Verdade Prática:

- O culto é oferecido a Deus. Na Bíblia, o verbo “adorar” possui uma estreita relação com o reconhecimento de que Deus está no controle; de que só ele é o Alto e o Sublime, e nós somos meras criaturas, incomparavelmente inferiores. Na cultura hebraica, isso se manifestava através do ato físico de curvar-se ou prostrar-se. Neste aspecto convém lembrar a máxima cristã lex orandi, lex credendi, cuja tradução pode ser “o que se ora, é o que se crê”. Segundo este princípio, adoração e teologia caminham juntas e grande parte de nossa liturgia (forma de adoração), é influenciada por nossa teologia (certa ou errada). Nossa liturgia, em certo ponto, é um reflexo de nossa teologia. Como resultado direto, uma teologia corrompida produzirá uma adoração distorcida. Santos, Valdeci. Refletindo sobre a Adoração e o Culto.

 

LEITURA BÍBLICA EM CLASSE

Efésios 5.15-21

 

15. Portanto, vede prudentemente como andais, não como néscios, mas como sábios,

- 5.15 prudentemente como andais, não como néscios, e sim como sábios. Esse termo quer dizer "corretamente ou precisamente com grande cuidado" (cf. SI 1.1; Mt 7.4). Viver moralmente é viver com sabedoria. Segundo a Bíblia, um "néscio" ou não é assim chamado por causa de limitações intelectuais, mas devido à incredulidade e aos consequentes feitos abomináveis (SI 14.1; Rm 1.22). Ele vive separado de Deus e contra a lei de Deus (Pv 1.7,22; 14.9), e não pode compreender a verdade (1 Co 2.14) nem a sua verdadeira condição (Rm 1.21-22). Não há dúvida de que os cristãos devem evitar se comportar como os néscios (veja Lc 24.25; Cl 3.1-3).

16. Remindo o tempo, porquanto os dias são maus.

- 5.16 remindo o tempo. A palavra grega para "tempo" indica um período fixo, mensurado e demarcado; com o artigo definido "o" refere-se, provavelmente, ao tempo de vida de alguém como cristão. Nós devemos fazer tom que a maior parte do nosso tempo nesta terra ímpia seja usada para cumprir os propósitos de Deus, aproveitando toda oportunidade para a adoração proveitosa e para o serviço. Devemos estar cientes da brevidade da vida (SI 39.4-5; 89.46-47; Tg 4.14,17).

17. Pelo que não sejais insensatos, mas entendei qual seja a vontade do Senhor.

- 5.17 Por esta razão, não vos torneis insensatos, mas procurai compreender qual a vontade do Senhor. Conhecer e compreender a vontade de Deus por meio da sua Palavra é sabedoria espiritual. Por exemplo, a vontade de Deus revelada a nós é que as pessoas devem ser salvas (1Tm 2.3-4), cheias do Espírito (v. 18), santificadas (1Ts 4.3), submissas (1Pe 2.13-15), sofredoras (1Pe 2.20) e agradecidas (1Ts 5.18). Jesus é o exemplo supremo para tudo (Jo 4.4; 5.19,30; 1Pe 4.1-2).

18. E não vos embriagueis com vinho, em que há contenda, mas enchei-vos do Espírito,

- 5.18 e não vos embriagueis com vinho. Embora a Escritura condene, consistentemente, toda embriaguez (Pv 23.29-35; 31.4-5; Is 5.11-12; 28.7-5; 1Co 5.11; 1Pe 4.3), o contexto sugere que Paulo aqui está falando a respeito das orgias dos ébrios, comumente associadas com as cerimônias de adoração pagãs desses dias. Supunha-se que elas induzissem alguma comunhão extática com as entidades. Paulo refere-se a isso como o "cálice dos demônios" (1Co 10.19-20); mas enchei-vos do Espírito. At 2.4; 4.8,31; 6.3. A verdadeira comunhão com Deus não é induzida pela bebedice, mas pelo Espírito Santo. Paulo não está falando a respeito da habitação do Espírito Santo (Rm 8.9) ou do batismo de Cristo com o Espírito Santo (1Co 12.13), pois todo cristão é habitado pelo Espírito no momento da salvação. Em vez disso, ele está dando uma ordem aos cristãos para viverem continuamente sob a influência do Espírito, deixando a Palavra controlá-los (Cl 3.16), buscando uma vida pura, confessando todo pecado conhecido, morrendo para si mesmos, rendendo-se à vontade de Deus e dependendo do seu poder em todas as coisas. Ser cheio do Espírito é viver na presença consciente do Senhor jesus Cristo, deixando a mente dele, por meio da Palavra, dominar tudo que é pensado e feito. Ser cheio do Espírito é o mesmo que andar no Espírito (Gl 5.16-23). Cristo exemplificou esse modo de vida (Lc 4.1).

19. falando entre vós com salmos, e hinos, e cânticos espirituais, cantando e salmodiando ao Senhor no vosso coração,

- 5.19-21 Esses versículos resumem as imediatas consequências pessoais de obedecer à ordem de ser cheio do Espírito, ou seja, cantando, dando graças e submetendo-se humildemente aos outros. O restante da epístola apresenta a instrução com base na obediência a essa ordem.

- 5.19 falando entre vós. Lsso deve ser público (Hb2.12; SI 33.1; 40.3; 96.1-2; 149.1; At 16.25; Ap 14.3). salmos. Essencialmente, os salmos do AT em forma de música, porém o termo também era usado para música vocal de modo geral. A Igreja primitiva cantava os salmos, entoando. Lit., significa dedilhar um instrumento de cordas, de modo que poderia se referir, em especial, à música instrumental, apesar de incluir também a música vocal, de coração ao Senhor. Não somente publicamente, mas também em particular. O próprio Senhor é tanto a fonte quanto o objeto de todo louvor do coração do cristão. Esse cântico que agrada ao Senhor pode ser visto no relato da dedicação do templo, quando o louvor honrou tanto ao Senhor que a sua glória desceu (2Cr 5.12,14). hinos. Talvez músicas de louvor distintas dos salmos, as quais exaltavam a Deus no sentido de que se concentravam no Senhor Jesus Cristo. cânticos espirituais. Provavelmente músicas de testemunho pessoal expressando as verdades da graça da salvação em Cristo.

20. dando sempre graças por tudo a nosso Deus e Pai, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo,

- 5.20 dando sempre graças por tudo. 1Ts 5.18; 2Co 4.15; 9.12,15; Fp 4.6; Cl 2.7; Hb 13.15. Os cristãos devem agradecer a Deus pelo que ele é, e pelo que ele fez por meio de seu Filho, o Salvador e Senhor deles.

21. sujeitando-vos uns aos outros no temor de Deus.

- 5.21 sujeitando-vos uns aos outros. Aqui, Paulo fez uma transição e introduziu o seu ensino sobre relacionamentos específicos de autoridade e submissão entre os cristãos (5.22—6.9), ao declarar, de modo inequívoco, que todo cristão cheio do Espírito deve ser um cristão humilde e submisso. Isso é fundamental para todos os relacionamentos dessa seção. Nenhum cristão é inerentemente superior a qualquer outro cristão. Diante de Deus, são iguais em todos os aspectos (Gl 3.28). no temor de Cristo. A reverência contínua do cristão para com Deus é a base para sua submissão aos outros cristãos (Pv 9.10).

 

 

INTRODUÇÃO

Nesta lição vamos estudar o culto cristão sob diferentes aspectos, pois precisamos conhecê-lo em sua natureza. Aqui, veremos que o culto é santo e, por isso, deve ser solene. Assim, também, mostraremos que a glorificação de Deus e a edificação da igreja são os propósitos sublimes do verdadeiro culto cristão. E, por último, mostraremos que todo culto também tem um ritual. No contexto da igreja cristã, destacaremos o papel da Bíblia e da adoração entusiástica na dinâmica pentecostal.

- Este tema não é apenas importante, como é algo que nossa Igreja precisa urgentemente. Quando chegam falsos profetas à igreja, uns anunciando que se os crentes querem parar de sofrer o que devem fazer é seguir e apoiá-los; outro declaram-se a si mesmos apóstolos ungidos em contraposição com os demais crentes e até alguns já têm pretendido ser a encarnação do Espírito Santo. Que ferramentas os fiéis possuem para distinguir entre a doutrina falsa e a verdadeira? Certamente podemos e devemos instruí-los através do púlpito e do estudo bíblico em nossas EBDs. Porém, isso não é o bastante. Temos esquecido que lex credendi lex orandi (o modo como a igreja adora se volta também para o modo como a igreja crê e expressa suas doutrinas). E porque temos esquecido, temos nos descuidado do culto e nos despreocupado com o que se faz e se conta no culto. Se for esse o caso, aí está a razão pela qual boa parte de nossa grei parece se deixar ser levada por todo vento de doutrina. A história do culto cristão não é questão de mera curiosidade antiquaria e sim uma questão de urgência presente. Vivemos em tempos que, assim como na antiguidade, faz-se necessário clarear e experimentar o que significa ser cristão em meio a uma sociedade cada vez mais pagã. James M. Boice corretamente afirma que nossa geração é centralizada no homem e infelizmente “a igreja, traiçoeiramente, tem se tornado egocêntrica”. Como filhos desta nossa geração, exigimos que cada momento do culto venha satisfazer nossas necessidades. Nesse contexto, o culto foi transformado em um “programa” e o desejo de se obter “felicidade” é certamente maior do que o de se obter “santidade”. Queremos avidamente alegria, mas o comprometimento tornou-se secundário. Julgamos o culto como “agradável”, não com base na instrução bíblica apresentada, mas no grau de “satisfação” pessoal alcançada. Assim, nossa pregação tornou-se uma homilética de consenso, na qual a boa mensagem não é a que confronta nossos pecados, mas a que nos faz sentir melhor. Além do mais, os sermões tornaram-se mais curtos porque nossa atenção e memória são curtas. Neste sentido, J. I. Packer observa: “Geralmente reclamamos que os ministros não sabem como pregar; mas não é igualmente verdade que nossas congregações não sabem mais como ouvir?O grande perigo dessa adoração é o de “usar a Deus, antes que atribuir-lhe” a devida glória. Boice, James M. O Evangelho da Graça. São Paulo: Cultura Cristã, 2003, 224 pp.

PALAVRA-CHAVE: CULTO

- Um elemento estranho presente no culto contemporâneo é a ênfase humanística. Entretanto, a perspectiva cristã bíblica e histórica sobre adoração não vê o culto público como focalizado na esperteza ou criatividade humana, mas na santidade de Deus. Cultuamos para glorificar o Senhor, receber as suas bênçãos e responder com louvor e gratidão. Assim, temos que definir exatamente qual a audiência que, em rigor, objetivamos em nosso culto, se a congregação ou “o céu”. O fim do nosso culto não é alcançar os perdidos, ainda que isto possa legitimamente ocorrer por meio dele.

 

I. A NATUREZA DO CULTO

1. O culto como serviço a Deus. Na Bíblia, o culto é mostrado como um serviço, isto é, uma vida entregue e consagrada a Deus (Dt 6.13). Em um primeiro plano tem a ver com a atitude com a qual se cultua o Altíssimo e, em um segundo plano, com a forma como se cultua. O culto, portanto, expressa uma combinação de obediência à Palavra de Deus e a forma ritual como essa adoração acontece. O livro de Atos dos Apóstolos, por exemplo, mostra a adoração no contexto do culto cristão (At 13.1-4). Enquanto os cristãos “serviam” ao Senhor, o Espírito Santo comissionou os primeiros missionários da igreja.

- Na língua portuguesa os verbos “adorar” e “cultuar”, em sentido amplo, podem ser tomados como sinônimos. A origem dos nossos vocábulos “adoração” e “culto” encontra-se na língua latina. A raiz do vocábulo “adoração” resulta da junção da preposição ad + verbo oro. O verbo latino oro significa pronunciar uma súplica, pleitear, e descrevia, por exemplo, as funções de um embaixador. Daqui deriva nossa palavra portuguesa “oração”. Ad-oro significa “dirigir uma súplica a”, “pedir”, “prostrar-se, ajoelhar-se diante de alguém”. Mais tarde adquiriu o sentido de “venerar”, “admirar”, “reverenciar”. A adoração que é digna de seu nome deve ser teocêntrica. No coração da adoração cristã está o próprio Deus. E mais: na adoração o cristão não apenas busca a Deus, mas também o encontra. John Owen evidencia este ponto ao dizer que, na adoração, Cristo “toma os adoradores pelas mãos e os conduz à presença de Deus”. E, como disse Richard Baxter: “Se é a Deus que você está buscando em sua adoração, você não ficará satisfeito sem Deus”. Este aspecto teocêntrico na adoração pode ser resumido em dois subtópicos claramente ensinados nas Escrituras, a saber, que é a glória divina que requer nossa adoração, e que é a vontade divina que normatiza nossa adoração.

2. O culto deve ser solene. Por “solene” nos referimos ao que traz respeito e é majestoso. Isso significa que tanto o conteúdo como a maneira de se cultuar são importantes (Ec 5.1; 1 Co 11.27). Por isso, o culto não pode ser destituído de significado nem realizado de qualquer jeito (Lv 10.1,2). Não por acaso, o apóstolo Paulo expõe princípios que regulamentaram o culto na igreja de Corinto (1 Co 12-14). Isso deixa claro que há uma ordem a ser observada na liturgia cristã. Para isso, temos na Bíblia o parâmetro para o bom ordenamento do culto. Por exemplo, aos coríntios, o apóstolo destacou o seguinte: “Mas faça-se tudo decentemente e com ordem” (1 Co 14.40). Nesse texto temos os termos gregos euschémonós, traduzido como “decentemente” e “decorosamente”; e taxis, traduzido como ordem. Isso nos leva a compreender, portanto, de acordo com a Bíblia, que o culto precisa ter decoro, decência e ordem.

- Um fato é que o culto que oferecemos a Deus pode consistir-se de práticas externas em que, muitas vezes, falta o essencial. Isto aconteceu no tempo em que Jesus Cristo andou neste mundo. Uma vez, citando o profeta Isaías, disse ele: “Este povo honra-me com os lábios; o seu coração, porém, está longe de mim. E em vão me adoram […]” (Mc 7.6).

3. O culto é santo. A santidade de Deus é afirmada por toda a Bíblia (Lv 11.44; Is 433; 1 Pe 1.15,16). Visto que Deus é santo (Lv 20.26), o culto também deve ser santo. Dessa forma, nada que fosse profano deveria fazer parte do culto e da vida de quem o praticava no Antigo Testamento (Ez 44.9; Am 5.21-27; Is 1.13). Assim, o limite entre o santo e o profano deveria ser mantido (Ez 22.26; 44.23). Por outro lado, o Novo Testamento também põe em destaque o viver cristão na esfera do culto, isto é, de uma vida a serviço de Deus (Rm 15.5). A igreja é o espaço sacro onde o culto acontece (At 13.2). Assim como no Antigo Testamento, o culto cristão também não deve ser profanado (1 Co 11.17,18). Nesse caso, tanto a conduta como o modo de viver são levados em conta na esfera do culto (1 Co 11.22).

- O próprio Cristo nos ensinou que Deus deseja culto “em espírito e em verdade” (Jo. 4:23-24). Esta dupla pauta envolve nosso interior (coração puro e sem fingimento, Sl 103.1,2; e Sl 24.3,4), e o exterior também. Consequentemente, há necessidade de buscarmos a verdade dos fatos concernente a Deus revelados em Sua Palavra. Devemos rejeitar modismos, garantindo, assim, a presença do Senhor em nossos cultos. Como seres humanos, temos uma tendência de confundir a forma com a essência. Dificilmente paramos para pensar se o nosso culto corresponde à adoração que Deus procura. Um culto que não representa uma atitude interna de amor pelo Senhor é prestado em vão. Isaías declara que Deus rejeitava os rituais dos israelitas de seu tempo. Deus os achava uma abominação: “as vossas solenidades, a minha alma as aborrece” (Is 1.14). O culto externo pode impressionar aos que dele participam. Mas Deus, que sonda os corações, é apto para verificar se a essência está presente, se o culto pode ser classificado como verdadeira adoração. Alguns assumem, neste ponto, um tipo de subjetivismo ou “relativismo estético”, respondendo que a forma do culto não é relevante. Entretanto, Deus se importa tanto com a forma e conteúdo da adoração quanto com seu espírito.

 

II. O PROPÓSITO DO CULTO

1. Glorificar a Deus. O culto é uma celebração que se faz a Deus. Celebramos a grandeza de Deus e seus poderosos feitos (SI 48.1). Assim o culto é uma celebração pelo que Deus é e pelo que Ele faz (SI 103.1-5). Nesse aspecto, o culto é sempre cristocêntrico, nunca antropocêntrico. Cristo é a esfera ou lugar onde deve acontecer o verdadeiro culto (Jo 2.18-22; Mc 14.58). Ele é o único mediador entre Deus e os homens (1 Tm 2.5) e o Eterno Sumo-Sacerdote (Hb 2.17; 5.5,10). Se Deus não é celebrado, se Ele não é glorificado, então, o culto perdeu o seu real sentido.

- No capítulo 14 de I Coríntios, após tratar a questão de dons de línguas e profecias, o apóstolo Paulo aborda a questão do propósito do culto, isto é, quais devem ser nossas atitudes e nossos pensamentos durante um culto ao Senhor. Culto não é ritual, melodia, formas, estética, beleza, palavras, cânticos, dogmas, símbolos, ofertas ou qualquer outro detalhe que lhe possamos atribuir. Culto, antes de tudo, é vida em ação. Culto é um ato de resposta à ação bondosa de Deus, que nos chamou com finalidade bem clara: “Por meio de Jesus, pois, ofereçamos a Deus, sempre, sacrifício de louvor, que é o fruto de lábios que confessam o seu nome” (Hb 13.15). Por isto, aquele que se relaciona com Deus deve lembrar que o culto a Deus é o fruto natural (no sentido de normal) da comunhão com Jesus Cristo.

2. Quando não se cultua a Deus. De fato, há cultos que não cultuam a Deus. Paulo censurou os coríntios afirmando que: “Quando vos ajuntais num lugar, não é para comer a Ceia do Senhor” (1 Co 11.20). Era como se dissesse: “o que vocês estão celebrando não é a Ceia”. Não era um culto o que eles estavam fazendo. Não daquela maneira. Infelizmente há muitas reuniões envernizadas para se parecerem com um culto, mas, de fato, não são. Parecem reuniões profanas tanto na sua forma quanto na sua essência. Não buscam glorificar a Deus.

- A compreensão do cristão, que cultua a Deus e pratica serviços religiosos, deve estar indissoluvelmente ligada à manutenção de cuidados com os mais necessitados e com a comunhão. Isto faz da vida daqueles que servem a Deus expressão e reflexo daquilo que é apregoado e vivenciado pelo cultuante. O cultuante deve fazer para os outros o que crê que Deus faz consigo. Essa é uma afirmação importante de verdadeiro cristianismo, que acaba atribuindo expressão e sinceridade para as ofertas e demais atos de dedicação. Os atos cúlticos são expressões de gratidão por tudo o que Deus proporciona, manifestações de arrependimento pelos atos pecaminosos cometidos, expressões de fé e fidelidade, além de testemunhos eloquentes da busca da vontade de Deus. Isto é gerador de progresso, já que provoca a inclusão daqueles que, outrora excluídos por sua condição, encontram no fiel o cuidado e a proteção.

3. Edificar a igreja. Um dos propósitos principais do culto é trazer edificação à igreja. Assim, na esfera do culto, tudo deve buscar a edificação (1 Co 14.26). O verbo grego oikodoméo, traduzido como “edificar”, ocorre 40 vezes no Novo Testamento enquanto substantivo oikodomé, traduzido como “edificação”, ocorre 18 vezes. O sentido é de algo que está sendo construído, como na parábola da casa edificada sobre a rocha (Mt 7.24,26; Lc 6.48). Ele é usado muitas vezes no contexto do culto. O fato mais claro de que um dos propósitos do culto é trazer edificação para a igreja está revelado no capítulo 14 de 1 Coríntios. Nesse capítulo, o apóstolo disciplina os usos dos dons na igreja pelo fato de seu uso não estar trazendo edificação à igreja. Assim, aquele que falava línguas na esfera do culto público deveria interpretar para que a igreja fosse edificada (1 Co 14.5). Todos os demais dons deveriam seguir esse critério (1 Co 14.12). Da mesma forma, os dons ministeriais (Ef 4.11) deveriam contribuir para “edificação do corpo de Cristo” (Ef 4.12).

- De todos os aspectos da vida da igreja cristã, o culto é o mais importante. É no culto que a presença atuante de Deus se focaliza, instruindo, corrigindo, consolando e transformando vidas, já que o Senhor habita não somente no corpo físico do crente (1Co 6.19), mas também (e especialmente) na comunidade dos salvos que se une para servir e adorar (1Co 3.16,17; Ef 2.21,22; 1Pe 2.5). É no culto que o nome de Deus é exaltado em cânticos e orações, com a força que decorre da união de vozes, pensamentos e corações: “Engrandecei o Senhor comigo, e todos, à uma, lhe exaltemos o nome” (Sl 34.3). O grande propósito do culto, para o qual Paulo chama nossa atenção, é a edificação. Edificar tem o sentido de crescimento ou desenvolvimento. No contexto da igreja, isso é sinônimo de crescimento pessoal, na comunhão com Deus, e de crescimento de outros, através de nossa própria vida. Efésios 4.11,12 nos diz: “E ele designou alguns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas, e outros para pastores e mestres, 12 com o fim de preparar os santos para a obra do ministério, para que o corpo de Cristo seja edificado”. As pessoas são capacitadas sobrenaturalmente para que outros sejam edificados. Em I Tessalonicenses 5.11, também lemos: “Por isso, exortem-se e edifiquem-se uns aos outros, como de fato vocês estão fazendo”. Cada um de nós é responsável pelo crescimento de outros, para que eles se tornem cada vez mais semelhantes a Jesus Cristo. Essa é uma responsabilidade maior de pastores, líderes de grupos e professores; porém, todos nós precisamos fazer o possível para auxiliar no crescimento de irmãos mais fracos ou mais novos na fé.

 

III. A LITURGIA DO CULTO

1. A exposição da Bíblia. O Movimento Pentecostal tem firmado seu compromisso com a autoridade da Bíblia para governar toda crença, experiência e prática. Dessa forma, os pentecostais viram a necessidade de julgar o mérito de todo ensino, manifestações espirituais e conduta à luz da Palavra objetiva e revelada de Deus, a Bíblia. Esse fato mostra que a leitura e a exposição da Bíblia devem ocupar o lugar de primazia na dinâmica da liturgia do culto. Nesse aspecto, o pastor que está à frente de uma igreja, é o responsável pela liturgia do culto, deve ficar atento ao lugar que as Escrituras têm no culto. O Senhor Jesus, nosso maior exemplo, fez da exposição das Escrituras a base de seu ministério (Lc 4.16-18). Escrevendo sobre a liturgia do culto na igreja de Corinto, o apóstolo Paulo pôs a “doutrina”, “instrução” (gr. didaché) como uma das necessidades da igreja (1 Co 14.26). Encontramos esse mesmo apóstolo, juntamente com seu companheiro Barnabé, expondo e ensinando a Palavra de Deus (At 15.35). Da mesma forma, o apóstolo ficou em Corinto durante muito tempo expondo as Escrituras (At 18.11).

- É sabido por todos a deficiência do movimento pentecostal no quesito “exposição das Escrituras”, muito talvez, por nossa própria culpa ao enfatizarmos mais em nossa liturgia a experiência pentecostal em detrimento da exposição das Escrituras, fatidicamente, em nossas reuniões mais cheias, os cultos dominicais. Para mudar nosso cenário, se faz necessário apresentar a mensagem com exposição clara e explicativa do texto bíblico, usando numa linguagem local compreensível e para a realidade do mundo de hoje. Segundo Klaus Douglass, a mensagem tem sete funções:

1.    explicar e esclarecer verdades profundas da fé;

2.    dar orientações sobre como devemos viver e agir como cristãos;

3.    edificar a igreja;

4.    levar pessoas à fé;

5.    fortalecer a fé;

6.    consolar e animar os que estão em dificuldades;

7.    tirar pessoas da sua inércia.

A esta suficiência das Escrituras no culto cristão os reformadores chamaram de princípio regulador do culto, que não deve se preocupar com coisas sem importância. Na adoração coletiva, a pregação da Palavra é essencial. As atividades da igreja do Novo Testamento eram centralizadas “na doutrina dos apóstolos, no partir do pão e nas orações”. Em seu livro Entre dois mundos, John Stott afirmou: “A Palavra e a adoração pertencem indissoluvelmente uma à outra. Toda a adoração é uma resposta inteligente e amável à revelação de Deus, porque é a adoração do seu nome. Portanto, a adoração aceitável é impossível sem a pregação. Pregar é tornar conhecido o nome de Deus, e adorar é louvar o nome do Senhor sobre o qual fomos informados. Ao invés de ser uma intrusão alienígena à adoração, o ler e o pregar a Palavra são realmente indispensáveis à adoração.”

2. A adoração entusiástica. A adoração aparece em primeiro lugar na liturgia sugerida pelo apóstolo Paulo à igreja de Corinto (1 Co 14.26). A palavra “salmo” usada nesse texto traduz o grego psalmon e é uma referência ao hinário usado pelos primeiros cristãos. É possível que o apóstolo esteja se referindo aos Salmos de Davi. Não há dúvida de que a adoração na Igreja Primitiva era entusiástica. Isso porque Paulo se refere a cristãos cheios do Espírito que se reuniam para adorar (Ef 5.18-20).

- A música pode, às vezes, nos comover pela beleza da melodia, mas esse sentimento, por si só, não é adoração. A música deve ter verdades bíblicas contidas em suas linhas para que seja um recurso legítimo e fomente a verdadeira adoração. Todo e qualquer louvor entoado em nossa liturgia deverá ser cristocêntrico, que exalte a natureza e os feitos divinos. Fato é que, hoje está muito difícil escolher louvores que servem para o culto, em sua grande maioria as letras exaltam o homem, invés de exaltar a natureza do Deus Triúno.  Ora, a música:

1.    expressa nossa relação com Deus (Hb 13.15);

2.    deve caracterizar nossa comunhão com os irmãos e contribuir como veículo de proclamação da verdade de Deus (Ef 5.19; Cl 3.16).

O louvor na igreja deve também assumir um estilo ordeiro e moderado. É aceitável o uso de qualquer instrumento musical, mantendo sempre, contudo, o caráter solene e majestoso que é apropriado ao culto prestado ao Deus soberano. De fato, o louvor, bem como cada momento do culto realizado na presença do Senhor, precisa ser marcado por decência e ordem (1Co 14.40). Isso porque a preocupação de cada crente maduro consiste em adorar a Deus “de modo aceitável, com reverência e temor, pois o nosso Deus é um fogo consumidor” (Hb 12.28,29). Em busca do equilíbrio, deve-se entoar tanto cânticos avulsos como hinos da nossa Harpa Cristã. Pelo fato de a igreja de Cristo ser uma comunidade composta de pessoas de diversas idades, origens e formações, é necessário estabelecer uma liturgia equilibrada, na qual todos os crentes se sintam bem.

3. O lugar da adoração no culto pentecostal. Um grande teólogo pentecostal, William W. Menzies, destaca o lugar que a adoração tem entre os pentecostais. De acordo com ele, desde o começo, os pentecostais foram conhecidos no mundo todo pelas reuniões de cultos alegres e ruidosas. Isso era visto nas reuniões de oração nas quais todos os presentes, coletiva e eloquentemente, derramavam o coração perante Deus em oração e louvor. Isso também acontece no levantar das mãos como resposta a percepção de que Deus se faz presente. Faz parte também da liturgia pentecostal louvar a Deus em alta voz e exercitar os dons espirituais durante o culto.

- Os pentecostais reuniam-se e reúnem-se em nome de Jesus para celebrar cultos ao Senhor Deus. Nesses cultos, podemos ver curas, batismo no Espírito Santo, salvação e libertação de pessoas. Pentecostais creem que o verdadeiro culto precisa ser feito com temor do Senhor. Por temor, entendemos o respeito devido à presença do Eterno. Temor não é medo, muito menos pavor. Diante da santidade de Deus, o ser humano deve chegar com quebrantamento, mas também com confiança, lembrando-se de que não há mais separação entre nós e o Pai. Um hino batista diz: “Santo, Santo, Santo! Nós, os pecadores, não podemos ver tua glória sem temor”; é uma importante menção de que o temor por parte dos homens diante de Deus é necessário. O ato da adoração é apresentado na Bíblia como o reconhecimento da grandiosidade de Deus acompanhado da vontade em andar de acordo com as orientações divinas. Mais particularmente, no Novo Testamento, João descreve um relato de uma conversa entre Jesus e uma mulher samaritana. O local era o poço de Jacó, onde as pessoas dirigiam-se para extrair água. Jesus conversou com aquela mulher sobre a salvação. No decorrer da conversa, ela quis saber sobre o lugar onde se deveria adorar a Deus. Os samaritanos tinham seu lugar de adoração há séculos. Em sua doutrina, só aceitavam o Pentateuco judaico, rejeitando os profetas e demais livros. Na ótica daquela mulher, o foco da adoração reflete a mesma visão que muitas pessoas têm: o local onde se adora é o elemento mais importante na adoração. Jesus responde que os samaritanos adoravam o que não sabiam e que a salvação vem dos judeus; e acrescenta: “Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade, porque o Pai procura a tais que assim o adorem” (Jo 4.23). A adoração, que antes estava enquadrada numa teologia que privilegiava os lugares, agora tem um caráter pessoal: em espírito — não uma ideia pálida de quem é Deus — e em verdade, pois Ele já se revelou em Jesus. Nossa adoração deve refletir esse princípio. Precisamos adorar ao Senhor de forma realmente espiritual, como novas criaturas, divorciados das regras que regiam nossa forma antiga de viver. *Adquira o livro. COELHO, Alexandre. O Vento Sopra Onde Quer: O Ensino Bíblico do Espírito Santo e sua Operação na Vida da Igreja. 1 ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2018.

 

 

CONCLUSÃO

Nesta lição, vimos os princípios que devem reger um culto cristão. O culto não pode ser de qualquer forma, pois ele tem princípios e normas para seguir. Como Deus é um Deus de ordem, então, o culto que se presta a Ele também tem de ser ordenado. Contudo, ordenado não significa frio e sem vida. O culto deve ser um momento de celebração, alegria e dinamizado pelo Espírito Santo

- Nós, que em resposta à ação bondosa de Deus amamos a Cristo e cremos na suficiência da Sua Palavra, não podemos moldar nossa adoração aos estilos e preferências de um mundo escravo do pecado e de suas paixões. Nosso objetivo principal deve ser adorar em espírito e em verdade. Para isto, as Escrituras precisam regular o nosso culto, a nossa adoração. Tudo em nossos cultos deve conduzir o adorador a um conhecimento mais profundo de Deus. Como afirma Augustus Nicodemos Lopes, “é importante reconhecer… que o Espírito age principalmente a favor dos interesses de Cristo, visando glorificá-Lo e exaltá-Lo. Esse princípio aplica-se também ao culto cristão. Esse princípio litúrgico precisa ser resgatado: o culto é voltado para Deus. É teocêntrico – e nisso, cristocêntrico, não antropocêntrico. Nada mais deve ocupar o lugar de Cristo no culto.”

Pb Francisco Barbosa (@Pbassis)

 

REVISANDO O CONTEÚDO

1. Como a Bíblia mostra o culto a Deus?

Na Bíblia, o culto é mostrado como um serviço, isto é, uma vida entregue e consagrada a Deus (Dt 6.13).

2. De acordo com a Bíblia, o que o culto precisa ter?

De acordo com a Bíblia, o culto precisa ter decoro, decência e ordem.

3. Quando que o culto perde o sentido?

O culto perde o sentido quando Deus não é celebrado, se ele não é glorificado.

4. Além de glorificar a Deus, qual é o outro propósito do culto de acordo com a lição?

Um dos propósitos principais do culto é trazer edificação à igreja. Assim, na esfera do culto, tudo deve buscar a edificação (1 Co 14.26).

5. Qual compromisso o Movimento Pentecostal tem firmado?

O Movimento Pentecostal tem firmado seu compromisso com a autoridade da Bíblia para governar toda crença, experiência e prática.